Os dados recém-coletados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontam elevação generalizada nas despesas com sementes, fertilizantes e defensivos agrícolas na temporada, que começa em julho. Em uma amostragem das seis principais culturas em 13 das maiores regiões produtoras do país feita para o Valor, a Conab estima uma alta de 16,2% nos custos de produção por hectare plantado ou de 12,3% por saca colhida na comparação com a safra 2007/08, que termina em junho próximo.
A diferença é explicada pela elevação da produtividade, que aumenta a receita e tende a diluir o peso dos acréscimos das despesas a médio prazo, mas que impacta os resultados no curto prazo. "Esse aumento nos custos de produção também se deve à mudança na metodologia de cálculo. Atualizamos o pacote tecnológico usado pelos produtores e incluímos despesas antes não contabilizadas", diz Asdrúbal Jacobina, gerente de Custos da Conab. Segundo ele, foram incluídas, por exemplo, mão-de-obra fixa nas fazendas e taxa de administração em financiamento de custeio.
Responsável pela estratégia do governo para enfrentar a alta nos custos de produção, o secretário de Politica Agrícola do Ministério da Agricultura, Edílson Guimarães, afirma que a tendência se repete em todos os principais produtores do mundo devido à forte valorização das commodities. "Os insumos estão subindo por causa da forte demanda internacional por esses produtos. Isso está ocorrendo no mundo todo", avalia.
Guimarães faz, porém, uma ressalva no caso brasileiro: "Mas aqui ainda tem a ação dos monopólios, o que potencializa esses aumentos". Para ele, o câmbio favorável para a importação de insumos, cotados em sua maioria na moeda americana, tem atrapalhado na comercialização da produção. Neste ano, por exemplo, os produtores de soja fecharam negócios a preços muito mais baixos no início do plantio da safra e agora tentam formas para amenizar essa diferença de receita.
O aumento nos custos de produção para a próxima safra deve influenciar a formulação do Plano de Safra 2008/09. O governo federal começa a estudar algumas medidas para baratear os empréstimos ao setor. "Uma solução tradicional é aumentar o volume de recursos a taxas de juros mais baratas", receita o secretário de Política Agrícola. A renegociação das dívidas, cujas discussões se arrastam desde meados de 2007, também poderia dar "uma folga" de caixa aos produtores.
O presidente da Associação de Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Glauber Silveira, afirma que algumas regiões já tiveram, em 2007, um forte aumento nos custos de produção. E reivindica uma ação profilática do governo antes de uma eventual nova crise de renda no campo, como ocorrido em 2004 e 2005. "Queremos buscar uma saída para Mato Grosso. Por mais que a produção em si aumente, o nível de renda do produtor está deficitário, podendo prejudicar o próximo ciclo", diz. Segundo ele, os produtores do Estado acumulam prejuízo de R$ 2,6 bilhões desde 2004.
O estudo da Conab mostra que os custos de produção da soja, por exemplo, devem crescer 2,6% por hectare em Sorriso, no médio norte de Mato Grosso. Município com a maior área dedicada à soja, Sorriso deve registrar uma elevação de 2,7% por saca do grão na próxima safra. "No Paraná, o custo com fertilizantes passou de R$ 136 para R$ 267 por hectare", exemplifica Stelito dos Reis Neto, da Conab.
Há outros exemplos de forte elevação dos custos. O algodão de Rondonópolis também sofrerá com a alta nos preços dos insumos. Segundo a Conab, as despesas devem crescer 19,1%. No arroz de sequeiro, cultivado em Sorriso, o aumento será de 6,5%. No feijão, o custo das sementes saltou 50% de uma safra para outra em Campo Mourão (PR). Com adubo, os produtores devem desembolsar 66% a mais. No milho, os paranaenses gastarão 12% a mais com sementes e 48% com fertilizantes, além de usar 40% mais defensivos na mesma área plantada na safra 2007/08.