Redação (19/03/2008)- Visão Geral
A situação do milho no mercado mundial continua com uma alta dose de incerteza com relação ao fato de o desenvolvimento da safra futura e da capacidade da produção a ser obtida serem suficientes para abastecer o mercado, cuja quantidade demandada aumentou consideravelmente devido à produção de etanol a partir de milho nos EUA. É verdade que os preços mais elevados do milho poderão se constituir em incentivo para agricultores do mundo inteiro, principalmente os de países importadores, aumentarem a sua área plantada e a produção. O problema está em que, na esteira do milho, outros produtos do agronegócio também tiveram seus preços elevados, o que provocará novos movimentos no sentido de aumento de área plantada com esses produtos por agricultores que têm uma maior participação no mercado de produtos agrícolas.
O equilíbrio ainda está longe de ser atingido e movimentos bruscos podem ocorrer em decorrência de problemas relacionados com o clima e que afetem de forma negativa a produtividade das lavouras. Na situação atual, estas variações nas produtividades têm um efeito maior do que o verificado em anos anteriores, quando a relação entre a produção e o consumo garantia estoques folgados que poderiam ser utilizados em épocas de reduções da produção.
O outro fato relevante é que, como parte da flutuação de preços do milho é derivada da especulação em mercados financeiros, as recentes dificuldades pelas quais passa a economia americana podem resultar em movimentos nestes mercados. Uma recessão de âmbito mundial prejudicará todos os mercados e, em conseqüência, poderá afetar o crescimento da renda em países que vêm ratificando o aumento dos preços das commodities. A perda de suporte neste lado poderá afetar a demanda por produtos primários e provocar redução em seus preços.
Situação Mundial
As estimativas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) para o consumo de milho apresentaram pequenas modificações com relação às informações liberadas em fevereiro. O consumo nos Estados Unidos permaneceu constante, o mesmo ocorrendo com relação aos outros países. Embora a previsão dos estoques de milho no fim do ano civil nos Estados Unidos se situe em cerca de 3,4 milhões de toneladas acima do registrado em 2006/07, a relação estoque/consumo (incluindo exportações) nos EUA caiu para 11,09% (ante 11,52% no ano civil anterior). Esta situação mantém o nível de alerta alto com relação a frustrações de safras que podem ocorrer no futuro, mantendo conseqüentemente o nível dos preços do milho elevado até que esta forte dose de incerteza seja gradualmente eliminada.
No 84o Agricultural Outlook Forum, organizado pelo USDA, algumas informações não animadoras foram colocadas, de forma ainda muito preliminar, tais como uma possível redução na área plantada com milho nos EUA, com a manutenção da produção de milho nos EUA ficando dependente de um acréscimo de produtividade. Embora no longo prazo o crescimento da produtividade das lavouras seja esperado, o mercado vive de movimentos de curto prazo, que são agravados pela manutenção dos estoques em um nível baixo. A redução na área plantada com milho é um reflexo do aumento dos preços de outros produtos agrícolas, como a soja, em decorrência de ajustes derivados do aumento nos preços do milho.
Uma análise liberada no dia 14 de março por analistas da Universidade de Purdue, EUA, avalia que as possibilidades de ajuste no caso de uma redução na produção de milho nos EUA fica difícil, tendo em vista a elevação nos preços do petróleo, que mantém a viabilidade econômica do processo atual de produção de etanol a partir do milho. Por outro lado, espera-se que a demanda internacional continue forte e que o segmento que utiliza o milho para industrialização e alimentação consiga repassar para os consumidores os preços mais elevados do milho, restando a possibilidade de ajustes no setor de alimentação animal.
Uma outra análise (de especialistas das universidades de Illinois e de Purdue) conclui que uma redução na produção de milho nos EUA seria mais grave do que uma redução em soja, considerando-se que a participação dos EUA no mercado externo de soja é menor do que no mercado de milho e que as possibilidades de ajuste em outros grandes produtores de soja (Brasil e Argentina) são mais viáveis do que ajustes em países produtores de milho.
Do lado da oferta, o USDA elevou a produção mundial em 4,3 milhões de toneladas, das quais 3 milhões são referentes a um ajuste para mais na produção do Brasil (ver análise abaixo). A relação entre estoque e consumo caiu cerca de 3,5%, para algo em torno de 12% em 2007/8, desde o ano civil 2005/06.
Embora estas estimativas refiram-se a eventos passados, a informação mais relevante será liberada no dia 31 de março, pelo USDA, com informações mais consistentes sobre estimativas da área a ser plantada nos EUA.
Situação Interna
No caso do Brasil, a safra de verão continua com seus prognósticos positivos e com a ameaça de ocorrências climáticas desfavoráveis, principalmente no Sul do país, sendo gradativamente afastada. Informações da Emater–RS indicam que a produtividade esperada deve ser superior à de expectativas iniciais mesmo que, em determinadas regiões, o plantio do tarde esteja sofrendo com a estiagem recente.
O sexto levantamento de safras da Conab indica um crescimento de área e de produtividade e, conseqüentemente, da produção na safra de verão de milho. Nas regiões onde o plantio é efetuado mais cedo (Sul do Brasil), a colheita já vem sendo realizada enquanto não se inicia a colheita da soja. Como seria de se esperar, os preços cederam em função das perspectivas da safra e da entrada de produto novo no mercado. Entretanto, de um modo geral os preços estão superiores aos verificados na safra de 2006/07 no mesmo período do ano, segundo dados levantados pela Emater-RS e pelas consultorias Céleres e Safras & Mercados. Isto indica que o novo patamar de preços foi aceito pelo mercado e pode se manter durante o ano.
A segunda safra que, em decorrência do atraso no início das chuvas durante o plantio de verão, vem sendo estabelecida com atraso em relação aos anos anteriores registra um aumento expressivo da área plantada. Em Mato Grosso e no Paraná, a Conab estima um acréscimo de área superior a 10%. O atraso no plantio é a principal fonte de dúvidas com relação à quantidade a ser colhida. Nesta época em que se está plantando milho de segunda época, em anos anteriores já seria mais recomendável o plantio de sorgo, em virtude do risco climático nos próximos meses. A data-limite para plantio em determinados tipos de solo e em determinados municípios já foi prorrogada, indicando que os agricultores estão desejosos de plantar milho na safrinha mesmo em condições menos favoráveis. Se o crescimento da área plantada ocorre em épocas de plantio mais restritivas e de menor uso de insumos (como se é de esperar em plantios mais tardios), o aumento da produção esperado pode não se viabilizar.
Do lado do consumo, as exportações de milho continuam se verificando, embora a um ritmo um pouco inferior aos do mesmo período em 2007. As exportações de aves em janeiro e fevereiro de 2008 foram superiores às do primeiro bimestre de 2007 (25,8% a mais, segundo o AviSite), configurando um mercado crescente para o milho em grão no ano de 2008. O ajuste nas atividades de criação animal, em países importadores de milho (e mesmo nos EUA), poderá fornecer um quadro mais favorável para as atividades de produção de proteína animal no Brasil, contribuindo para a redução sobre os preços internos a ser exercida por um safra que, até agora, apresenta perspectivas favoráveis.