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Soja abre a semana em queda

Já o milho segue em sentido oposto, registrando alta e novo recorde de cotação.

Redação (07/04/2008) – As cotações da soja em Chicago sofreram forte queda no início desta semana, a ponto do primeiro mês cotado (maio) bater em US$11,97/bushel no dia 31/03, situação que não era vista desde 23 de janeiro passado. Com isso, no mês de março o bushel de soja perdeu 22,5% de seu valor. O motivo da forte queda foi o surpreendente relatório de intenção de plantio nos EUA. O mesmo indicou um aumento de 18% na área a ser semeada com a oleaginosa naquele país (30,27 milhões de hectares), contra 12% que era a expectativa mais otimista do mercado. Um aumento desta natureza projeta, em clima normal, uma safra ao redor de 84 milhões de toneladas, podendo ser recorde histórico. Nos dias seguintes à segunda-feira (31) o mercado se restabeleceu um pouco, assimilando os números de plantio e considerando-os um tanto exagerados, assim como foi influenciado pela recuperação nas cotações do petróleo. Compra por parte de especuladores foram a tônica do mercado nesses dias. Assim, o fechamento desta quinta-feira (03/04) acabou ficando em US$ 12,57/bushel.

Neste contexto, dois elementos ganham maior significado nos EUA. No curto prazo, o novo relatório de oferta e demanda, esperado para o dia 09/04, o qual trará projeções para a nova safra. No médio prazo, o clima nos EUA passa a ser o centro das atenções já que o mercado controlará de perto se realmente o aumento de área semeada se confirmará e se a planta se desenvolverá a contento. Qualquer problema climático nos EUA elevará novamente as cotações em Chicago em direção ao seu recorde.

Neste ínterim, a safra sul-americana continua entrando no mercado de forma positiva, com exceção de parte do Rio Grande do Sul onde a quebra entre 30 e 35% na média, em relação ao esperado, se confirma. Diante disso, o Estado gaúcho deverá colher um volume entre 6,5 e 7,5 milhões de toneladas.

Nestas condições, o mercado internacional continua com tendência de baixa, apontando sua direção para preços ao redor de US$ 10,50/bushel. Todavia, estaremos diante de um ano fortemente especulativo e volátil. Particularmente porque as reações em Chicago estão muito ligadas à crise do setor imobiliário nos EUA, a qual está longe de terminar e obriga os Fundos a se desfazerem de contratos de soja e outras commodities para cobrir rombos nas bolsas de valores e no sistema bancário.

Dito isto, o restante da semana indicou que os registros de exportação estadunidenses, até o dia 20/03, acumulavam 26,9 milhões de toneladas, estando praticamente no mesmo nível do ano anterior, na mesma época. Em farelo de soja o volume chegou a 5,35 milhões de toneladas, contra 5,0 milhões no ano anterior. Para o óleo, o volume somou 822.400 toneladas, contra 362.900 toneladas no ano anterior. Na semana encerrada em 27/03, tais registros ficaram em 184.800 toneladas para o grão; 90.100 toneladas para o farelo; e 42.000 toneladas para o óleo de soja.

Já os embarques semanais pelos EUA, até o dia 27/03, acumulavam 22,8 milhões de toneladas, contra 23,4 milhões no ano anterior. A estimativa é de 27,9 milhões de toneladas no ano todo.

Por sua vez, os estoques de soja em 01/03, somavam 38,87 milhões de toneladas, contra 35,58 milhões esperados pelo mercado e 48,63 milhões existentes no ano anterior na mesma época.

Na Argentina, a crise econômica interna, com fortes paralisações no setor primário, tem deixado o mercado parado. Os produtores, indignados com o confisco imposto sobre os preços de exportação, estão boicotando a entrega de produtos. Muitos navios, que deveriam carregar nos portos locais, estariam se deslocando para o Brasil, fato que melhorou o prêmio em nossos portos. Já no vizinho país, o prêmio em Rosário, para o grão de soja, está entre menos 30 e menos 60 centavos de dólar por bushel neste final de semana. Em Rio Grande (Brasil) os mesmos oscilavam entre menos 15 e menos 20 centavos, sendo que em Paranaguá, São Francisco, Santos e Vitória já havia prêmio positivo ao redor de 5 centavos de dólar por bushel.

O mercado começa a especular sobre a real capacidade da Argentina colher e escoar sua safra de 47 milhões de soja, diante da crise lá existente. Os registros de exportação no vizinho país, até o dia 31/03, acumulavam 11,9 milhões de toneladas para o grão de soja (6,8 milhões no ano anterior); 24,4 milhões para o farelo (22,6 milhões no ano anterior) e 5,8 milhões de toneladas para o óleo de soja (5,2 milhões no ano anterior).

Na Europa, o preço CIF Rotterdam para o pellets de soja, no mês de maio, ficou em US$ 468,00/tonelada para o produto argentino e US$ 470,00/tonelada para o produto brasileiro.

Ainda no mercado mundial, a Alemanha anunciou que em 2007 o seu consumo de biodiesel, particularmente à base de óleo de colza/canola, atingiu o recorde de 4,16 milhões de toneladas, com um incremento de um milhão de toneladas sobre o ano anterior. O consumo alemão chega a 35% do total mundial.

Na Índia, a taxa de importação sobre o óleo de soja teria sido reduzida de 40% para 20% nesta primeira semana de abril, seguindo a linha do que ocorreu com o óleo de palma.

No mercado brasileiro, a forte queda em Chicago acabou não sendo compensada pela pequena recuperação do dólar. Assim, o preço do saco de 60 quilos ao produtor, no balcão gaúcho, voltou a bater em R$ 37,00, antes de se recuperar um pouco no final da semana. O câmbio ficou ao redor de R$ 1,72 enquanto a média gaúcha, na semana, registrou R$ 39,34/saco. O mais baixo valor médio desde a terceira semana de dezembro de 2007. Nos lotes, o mercado gaúcho fechou a semana cotado entre R$ 42,50 e R$ 43,00/saco. Nas demais praças pesquisadas no país os mesmos giraram entre R$ 38,40/saco em Rondonópolis (MT) e R$ 42,00/saco em Cascavel (PR), conforme tabela no início deste boletim.

As oscilações de preços no Brasil se devem unicamente ao comportamento de Chicago, já que o câmbio está praticamente estável. Junto a isso, a entrada da safra se acelera, com o país já tendo colhido, até o dia 28/03, ao redor de 51% das lavouras, contra 48% na média histórica. No Rio Grande do Sul, a colheita chegava a 11%, no Paraná a 70%, no Mato Grosso a 78%, no Mato Grosso do Sul a 79%, em Goiás 58%, em São Paulo 80%, em Minas Gerais 10%, na Bahia e Santa Catarina 7% (cf. Safras & Mercado). A safra brasileira está estimada, neste momento em 61,2 milhões de toneladas, porém, ainda não se está dando muita relevância à quebra no Rio Grande do Sul. Nesse Estado, a produtividade média, em muitas regiões, está bastante baixa, havendo inclusive perdas totais. Em outras áreas, a produtividade média está ao redor de 35 sacos/hectare quando a expectativa era de até 50 sacos.

Por outro lado, nas lavouras do Centro-Oeste, as incessantes chuvas acabaram espalhando a ferrugem pelas lavouras, fato que poderá reduzir a produtividade da soja entre 5% a 10%. De uma média de 55 sacos no início da colheita, a produtividade recuou para 35 a 40 sacos em muitas regiões do Nortão mato-grossense. Em valores, as perdas no Mato Grosso, nos últimos cinco anos, já acumulam US$ 3,45 bilhões devido à ferrugem asiática.

Já no norte do país, particularmente no Maranhão, as fortes chuvas provocaram enchentes que estão prejudicando o escoamento da soja. O Estado deverá colher 1,1 milhão de toneladas, porém, o custo do frete preocupa os produtores.

Apesar de todos estes problemas regionais, o Brasil espera vender US$ 18,4 bilhões com o complexo soja em 2008, estabelecendo um novo recorde, contra US$ 11,4 bilhões em 2007. O volume total seria de 43,9 milhões de toneladas, contra 38,6 milhões no ano anterior.

Enfim, o mercado nacional deverá oscilar no balcão, no curto prazo, entre R$ 35,00 e R$ 45,00/saco, havendo potencial para valores um pouco mais baixos caso Chicago ceda um pouco mais. Na prática, o mercado mundial está buscando novos patamares após o anúncio da intenção de plantio nos EUA.

Milho – As cotações do milho em Chicago subiram constantemente na semana, particularmente após o anúncio de uma redução na área a ser semeada com este cereal nos EUA. Assim, o fechamento desta quinta-feira (03) bateu em US$ 6,00/bushel, um novo recorde histórico para o cereal em Chicago, após US$ 5,55 uma semana antes. Efetivamente, o relatório do USDA, deste dia 31/03, reduziu em 8% a área de milho a ser semeada nos EUA, colocando-a em 34,8 milhões de hectares. Com isso, em condições normais de clima, a nova safra estadunidense poderá chegar a 320 milhões de toneladas, caso a produtividade passada se repita. Mesmo assim, as cotações se mantiveram firmes em Chicago, pois existe a projeção de que o consumo de milho para etanol, nos EUA, chegue a 104 milhões de toneladas, contra 80 milhões no ano anterior.

O mercado já começa a se preocupar com o excesso de chuvas na região produtora dos EUA, associado a frio ainda bastante forte, fato que atrasa o plantio do milho (isso pode levar à transferência de áreas de milho para a soja). Todavia, lembramos que o período ideal para a semeadura vai até 30/05. Junto a isso ganha importância o relatório de oferta e demanda, previsto para o dia 09/04, assim como os relatórios semanais de plantio da nova safra. Um problema climático nos EUA deixará este mercado ainda mais altista.

As exportações semanais dos EUA ficaram acima do esperado pelo mercado, fechando a semana do 27/03 com 945.700 toneladas. O mercado espera que o Irã entre comprando no mercado já que nada teria adquirido neste primeiro trimestre do ano junto aos EUA, Brasil e Argentina. Destaque ainda para a União Européia que liberou licenças para a importação de 538.000 toneladas nesta semana, devendo privilegiar compras no Brasil se mantiver o comportamento do ano passado (cf. Safras & Mercado).

Na Argentina, os preços subiram para US$ 248,00/tonelada FOB, enquanto no Paraguai o produto recuou para US$ 210,00 FOB. A colheita argentina, até o dia 27/03, chegava a 22% da área, contra 19% na mesma época do ano anterior. Em girassol, a colheita atingia 71%, contra 88% no ano anterior.

No mercado interno brasileiro, o cereal oscilou bastante, recuando em algumas praças e aumentando em outras. Assim, no balcão gaúcho, o preço do saco ficou em R$ 23,74, enquanto os lotes chegaram a R$ 25,25. Nas demais praças, os lotes giraram entre R$ 18,50/saco em Rondonópolis (MT) e R$ 25,75/saco em Chapecó (SC). Na exportação houve indicações entre US$ 255,00 e US$ 260,00/tonelada para abril e maio.

A pressão da colheita continua, mantendo o mercado praticamente estável no sul do país e em baixa na região de São Paulo, Minas Gerais e Centro-Oeste. Por sua vez, a safrinha avança, se tornando cada vez mais uma grande safra. Enfim, o aumento dos preços externos estimula as exportações, mantendo os preços aquecidos em muitos locais do mercado nacional. Neste sentido, número preliminar oficial indica que o Brasil exportou 655.100 toneladas de milho em março. No ano comercial, iniciado em fevereiro, o volume embarcado estaria ao redor de um milhão de toneladas. Para abril projeta-se exportações de 600.000 toneladas.

No geral, a tendência continua sendo de preços internos mais baixos, porém, muita coisa irá depender da safrinha e dos volumes exportados.

Este quadro geral tem causado preocupação junto aos criadores de suínos e aves, assim como aos produtores de leite, já que o milho é um insumo decisivo para estas atividades.

Neste momento, estima-se que a produção brasileira possa chegar a 55 milhões de toneladas, para um consumo interno de 44 milhões. Até o dia 21/03 o Centro-Sul brasileiro havia colhido 35% de sua área de milho, contra 50% um ano antes. O Rio Grande do Sul teria alcançado 58% da área, o Mato Grosso 50%, Paraná e Mato Grosso do Sul 35%, Santa Catarina 26%, assim como São Paulo, Goiás 32% e Minas Gerais 18%.

Por sua vez, a safrinha estaria plantada em 61% nesta mesma data, sendo projetada uma área total de 4,57 milhões de hectares para o Centro-Sul, ou seja, praticamente repetindo o ano anterior. Para todo o país, a safrinha estaria estimada em ocupar uma área de 4,89 milhões de hectares. No Paraná, por exemplo, estima-se que a safrinha ocupe 1,6 milhão de hectares, contra 1,37 milhão na safra. Vale destacar que há falta de chuvas nas regiões produtoras do Paraná e sul do Mato Grosso do Sul, fato que já preocupa os agricultores que semeiam o milho safrinha.

A semana terminou com as importações valendo R$ 35,76/saco para o produto oriundo dos EUA, para abril. Já o produto argentino ficou cotado em R$ 32,87/saco para abril e maio. Na exportação, o transferido via Paranaguá registrou R$ 26,25/saco entre abril e setembro; R$ 25,73 para outubro e novembro; e R$ 25,42/saco para dezembro.