Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Economia

BNDES libera US$ 2 bilhões para JBS pagar Pilgrim's

<p>Banco deverá bancar a emissão deste valor em títulos para JBS, viabilizando a aquisição da americana Pilgrim's Pride e reduzindo seu endividamento.</p>

A JBS S.A. vai emitir US$ 2 bilhões (R$ 3,5 bilhões) em debêntures no mercado brasileiro para capitalizar a sua subsidiária nos Estados Unidos, a JBS USA, e assim viabilizar a aquisição da americana Pilgrim’s Pride e reduzir seu endividamento.

Conforme apurou o Valor , a empresa negocia a subscrição das debêntures com a BNDESPar, no que deve ser o primeiro investimento do braço de participações do banco de fomento brasileiro numa empresa americana. Isso porque a operação prevê que as debêntures serão trocadas por uma fatia correspondente a 20% e 25% das ações da companhia nos Estados Unidos, a JBS USA, via um aumento de capital. Hoje, o banco tem 19,4% da JBS S.A (considerando participações diretas e indiretas). Procurado pelo Valor, o BNDES não retornou o pedido de entrevista.

Originalmente, a intenção da JBS era fazer uma emissão privada de ações no valor de US$ 2,5 bilhões por meio da JBS USA, mas uma operação como essa esbarraria no estatuto da BNDESPar, que veda investimentos em empresas no exterior. Pelas regras, só podem ser apoiadas financeiramente companhias regidas pelas leis brasileiras e com sede e administração no Brasil, o que não é o caso da JBS USA. Porém, o que o braço de participações deve fazer, em um primeiro momento, é uma operação igual a tantas outras que ele executa: adquirir debêntures de uma companhia brasileira.

Na prática, as debêntures vão funcionar como ações, o que chamou a atenção de executivos do mercado de capitais ontem. Em geral, as debêntures – títulos de dívida – podem em alguns casos ser conversíveis em ações da companhia emissora ou permutável por papéis de outras empresa. Porém, cabe ao investidor a opção de troca de um crédito por ações. Além disso, existem regras para a realização da troca.

Nesse caso, porém, a JBS informa no fato relevante que as debêntures “jamais serão pagas em dinheiro” pela companhia, ou seja, serão obrigatoriamente transformadas em ações. Com isso, fica em xeque o caráter de instrumento de dívida que as debêntures têm.

O objetivo final da JBS é abrir o capital da JBS USA no mercado americano, o que daria liquidez às ações detidas por quem subscrever as debêntures. Caso isso não ocorra, serão dadas aos debenturistas títulos da companhia brasileira.

Outro motivo para a empresa ter optado pela emissão de debêntures via Brasil conversível em ações da JBS USA foi evitar a diluição dos acionistas minoritários. Numa emissão privada pela JBS USA, os acionistas minoritários da JBS S.A não teriam direito de preferência e teriam sua participação diluída, apurou o Valor. Com as debêntures, cuja emissão precisa de aprovação da assembleia que será realizada no dia 29, foi dado a todos os acionistas da JBS S.A o direito de preferência para subscrição dos papéis, na proporção do número de ações de que forem titulares.

Com a operação, a fatia do BNDES no capital da JBS S.A deve aumentar, já que, segundo o comunicado, a emissão de US$ 2 bilhões corresponderá a uma participação de no mínimo 20% e no máximo 25% do capital da JBS USA depois dessa capitalização.

Os recursos obtidos com as debêntures serão usados para financiar a compra de 64% do capital da americana Pilgrim’s Pride por US$ 800 milhões, reforçar a estrutura de capital, implementar planos de investimento e viabilizar a conclusão da integração das operações da JBS com a Bertin, que foi incorporada em setembro.

O aporte de US$ 2 bilhões que o debenturista fará equivalia, a preços de ontem, a cerca de 24% do valor de mercado da JBS S.A na bolsa de valores (sem considerar a incorporação da Bertin): R$ 14,2 bilhões.

Além da capitalização da JBS USA, a controladora pretende abrir o capital da subsidiária americana, num operação em que espera obter outros US$ 2 bilhões. A intenção é usar esses recursos na expansão da rede de distribuição direta da companhia nos Estados Unidos. A JBS USA respondia por cerca de 80% do faturamento da JBS S.A, antes das aquisições da Pilgrim’s e da Bertin, em setembro deste ano. Agora, essa participação está estimada em 75%.

Com as duas operações, a JBS tornou-se a maior empresa de proteína animal do mundo e a terceira maior empresa brasileira não financeira de capital aberto em receita líquida, conforme cálculos do Valor Data baseados em números de 2008. O resultado é uma receita líquida de R$ 51,6 bilhões, considerando números de 2008.

Além da emissão de debêntures, a assembleia dos acionistas da JBS também deve aprovar a incorporação da Bertin. Conforme foi acertado entre as empresas, os atuais acionistas controladores da JBS e da Bertin terão participação acionária indireta na JBS por meio da Nova Holding. O controle desta será exercido em qualquer circunstância pelos atuais acionistas controladores da JBS. A Bertin será uma subsidiária integral da companhia listada na bolsa.

A operação envolve troca de ações entre JBS e Bertin. A avaliação resultou numa relação de substituição de uma ação ordinária (com direito a voto) da Bertin para cada 32,46 ações ordinárias de emissão da JBS. Segundo a empresa, caso a incorporação das ações seja aprovada pelos acionistas da JBS e da Bertin, o capital social da JBS será aumentado em R$ 11,9 bilhões, com a emissão de 929, 4 milhões de ações ao preço unitário de R$ 12,90.

Ontem, as ações da JBS fecharam o pregão a R$ 10,08, com uma baixa de 3,7% ante uma alta de 0,12% do Ibovespa. Foi a quarta maior queda do dia. No mês, porém, os papéis estão em alta de 5%, maior do que os 3,44% do índice.