O grupo belga Alcotra , uma das maiores tradings globais de etanol, deverá definir nas próximas semanas seus alvos de investimentos no setor sucroalcooleiro brasileiro. A companhia, que nos últimos meses analisou cerca de 40 usinas, deverá selecionar unidades para fazer negócio.
O Valor apurou que usinas da região do Triângulo Mineiro estão no radar da companhia. Fontes do setor afirmam que companhia iniciou conversações com a usina Uberaba, que tem entre seus acionistas a indústria Caldema e a família Balbo, que controla as usinas paulistas Santo Antonio e São Francisco. Outro alvo seria a usina Total, que pertence a investidores da área de concessões de rodovias.
As mesmas fontes afirmam que a Alcotra tem interesse de comprar uma participação na Uberaba, que pode chegar a 60%. Procurados, os acionistas da Uberaba negam, por meio de sua assessoria, negociações neste sentido.
A Total possui uma usina, instalada em Bambuí (MG), com capacidade para moer 2,2 milhões de toneladas de cana. A usina recebeu investimentos da ordem de R$ 205 milhões em sua primeira fase de investimentos. Procurada, a Total Agroindústria informou que contratou a consultoria FG Agro, de Ribeirão Preto (SP), para que a empresa estruture fundos que viabilizem uma segunda etapa de investimento da usina. A moagem da primeira safra começou em setembro deste ano.
De acordo com Matheus Hyashida, sócio da FG Agro, a Total é uma empresa que vem se financiando com recursos de longo prazo. Ele confirmou que para acelerar esta segunda etapa de investimento consideram a possibilidade de alienar uma participação até majoritária no capital da companhia ou uma fusão com um grupo maior através de troca de ações. Sobre a negociação com a Alcotra, Hyashida não confirma a negociação, mas cita que algumas negociações estão em curso e que todas elas estão protegidas por acordo de confidencialidade.
O grupo Alcotra confirma que tem interesse em expandir sua participação no setor sucroalcooleiro. No entanto, não dá detalhes sobre as negociações que estão em andamento.
A companhia belga ainda aguarda aporte de seus principais acionistas para bater o martelo sobre os investimento no país. Com faturamento global de cerca de US$ 1 bilhão, o grupo tem entre seus principais acionistas a companhia francesa EDF Energies Nouvelles e a trading Trafigura . A trading é presidida pelo belga Philippe Meeus, o acionista majoritário do grupo.
A trading negocia aproximadamente 2 bilhões de litros de álcool por ano, dos quais 1 bilhão de litros do Brasil. As exportações de álcool da Alcotra a partir do Brasil respondem por cerca de 25% dos embarques do país. Presente no país há cerca de 20 anos, a Alcotra quer se tornar uma grande usina. Fora do Brasil, o grupo já tem experiência na área. Na Bélgica, a companhia produz álcool a partir do trigo.
O grupo tem participação de 49% na usina Tabu, na Paraíba. Essa unidade produz álcool para fins industriais. No início deste ano, o grupo achou que daria seu grande passo ao negociar a compra da Triálcool, usina instalada no Triângulo Mineiro, controlada pelo grupo João Lyra, do ex-senador João Lyra, e que no dia 20 de novembro do ano passado entrou com pedido de recuperação judicial. No entanto, o negócio não foi levado adiante porque um dos credores da usina barrou a negociação.
Parte dos investimentos da Alcotra no Brasil ficou condicionada aos rumos que a negociação envolvendo a Triálcool levariam. No entanto, a trading decidiu manter seus aportes e aguarda aval de seus acionistas para prosseguir a expansão no País.