O Banco Central (BC) reiterou, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de outubro, praticamente os mesmos argumentos considerados no encontro de setembro para justificar a manutenção do juro básico do país estável em 8,75% ao ano. A autoridade monetária levou em conta novamente a melhora das expectativas de inflação e a ociosidade dos meios de produção para não mexer na taxa Selic. Mas, pelo que indica a ata da reunião do Comitê realizada nos dias 20 e 21, também deu sinais de que está atenta ao vigor da demanda doméstica.
Nas atas de reuniões anteriores, o Copom dizia que o consumo interno, enfraquecido pela crise global, exercia uma pressão contracionista sobre a economia. Desta vez, porém, o BC abandonou essa afirmação. ” Depois de uma breve contração, a demanda doméstica passou a mostrar evidências de recuperação, graças aos efeitos de fatores de estímulo, como o crescimento da renda ” , diz a ata do encontro de outubro. Para o Copom, a acomodação da demanda provocada pela crise ” poderia estar sendo superada ” .
Mesmo demonstrando estar alerta para o reaquecimento do consumo, o BC considera que o estágio atual não representa risco para as metas de inflação. O Copom avalia que as pressões da demanda sobre os preços ainda são moderadas e, ” ao menos no curto prazo ” , esse quadro contribuirá para desestimular um eventual desejo de repassar altas no atacado para os preços finais.
O cenário considerado pelo BC continua sendo de retomada gradativa da atividade econômica, com pressões inflacionárias contidas e uma ” sensível margem de ociosidade dos fatores de produção ” , que seria eliminada aos poucos. A ata da reunião de outubro ressalta, contudo, que ” em torno desse cenário básico, existem incertezas que deverão ser dirimidas ao longo dos próximos meses, com viés tanto positivo quanto negativo sobre o ritmo de recuperação da atividade ” .
Entre essas incertezas, está o rumo da recuperação econômica global. Para o BC, a retomada vista hoje reproduz parte dos ” desequilíbrios observados no período anterior à crise de 2008 ” . Além disso, devem ser objeto de atenção as ações que os países desenvolvidos tomarão para retirar incentivos dados ao mercado financeiro. No auge da crise, os governos injetaram dinheiro no sistema e, em algum momento, serão obrigados a enxugar o excesso de liquidez. Para o Copom, isso pode ter efeitos sobre preços de ativos e commodities e, consequentemente, ter impacto, ” ainda que heterogêneo, sobre a dinâmica inflacionária global ” .
Como nas vezes passadas, o Copom repete que vai monitorar cuidadosamente os desdobramentos dessas incertezas e dos indicadores econômicos para tomar as próximas decisões da política de juros, mas mantendo uma ” postura cautelosa ” que assegure a convergência da inflação para a trajetória de metas. Até o momento, garante o BC, ” as expectativas de inflação para 2010 e 2011 se mantêm em patamares consistentes ” com essa trajetória.