O governo brasileiro anunciou que irá aprovar a criação de um marco regulatório para o setor de fertilizantes dentro de um ano. Mas ao mesmo tempo que tenta controlar esse mercado, produtos estrangeiros continuam aumentando sua atuação no Brasil, tendência que se espalha para outros insumos.
O caso mais expressivo é o do glifosato chinês, cuja entrada no País em 2009 aumentou 50 vezes em relação ao último ano. Em 2008, até o mês de setembro, a indústria brasileira havia adquirido pouco mais de 200 toneladas, o equivalente a US$ 1,98 milhão. Além disso, o produto não figurava entre os 100 principais na pauta de exportação da China para o Brasil, segundo a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Secex/Mdic).
Este ano, no acumulado dos nove primeiros meses, o País já importou mais de 23,5 mil toneladas e a desvalorização do dólar não impediu que as compras somassem até o último mês um total de US$ 102,61 milhões. Hoje, o produto já aparece na 11ª posição do ranking de produtos chineses mais importados pelo Brasil. No País, a líder de vendas em glifosato é a Monsanto.
Para as empresas chinesas, o mercado brasileiro já foi conquistado e a fase agora é de consolidação. Para isso, trabalham para se tornarem detentoras do registro para a comercialização. Quando esteve no Brasil, Steven Lu, diretor do Fuhua Group, terceira maior fabricante de glifosato do mundo, disse ao DCI que já possui pedidos de registros em andamento no Brasil.
O setor de nutrição animal deverá ser o novo alvo da China para expandir seu mercado de insumos no Brasil. Nos próximos dias 26, 27 e 28 de outubro o Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações) recebe uma missão chinesa com dez representantes de importantes grupos do setor de alimentação animal. Eles irão visitar indústrias e se reunir com executivos da União Brasileira de Avicultura (UBA) e Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos (Abef).
Concorrência nacional
O mercado de fertilizantes, ainda que apresentando forte recuou este ano, ainda é palco de grande disputa entre as empresas do segmento, o que deve aumentar com a entrada da Petrobras e uma maior intervenção do governo federal. O Brasil, cuja dependência de matéria-prima importada é superior a 80%, continua sendo alvo crescente de prospecção de grandes multinacionais.
Este mês, a Embrapa Cerrados, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), recebeu duas visitas internacionais, entre elas de Peter Blezard, chefe executivo (CEO) da britânica Plant Impact (Pi), empresa de fertilizantes e nutrientes. O objetivo, segundo a Embrapa, foi iniciar os contatos para estabelecer uma parceria para validação dos efeitos positivos dos seus fertilizantes e nutrientes, já que a empresa pretende ampliar os negócios no Brasil.
O CEO da companhia estava acompanhado do cientista David Dent, do International Agri-Technology Centre (IATC), e da gerente de Desenvolvimento de Mercados da Embaixada Britânica, Paula Abreu.
Números do setor
O mercado de fertilizantes no Brasil ainda não se recuperou de uma forte queda registrada no primeiro semestre. A Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) ainda não compilou os números do mês de setembro, mas os dados relacionados à Rússia – principal exportador de matéria-prima para a indústria brasileira de adubos – apontam ainda uma redução expressiva em relação às compras do último ano. Apesar de se manterem como os principais produtos na pauta de exportação da Rússia para o Brasil, a venda desses produtos registra queda expressiva: cloretos de potássio (-17,22%), ureia com teor de nitrogênio (-66,49%), nitrato de amônio (-60,38%), enxofre (-60,63), outros adubos com nitrogênio e fósforo (-78,79%) e adubos a base de fósforo e potássio (-87,17%).
Os agricultores reduziram o uso de fertilizantes depois que a recessão mundial diminuiu a demanda por alimentos. A Terra Industries Inc. informou vendas para o terceiro trimestre inferiores às estimativas dos analistas, e a líder do segmento, a Potash Corp. of Saskatchewan Inc., informou este mês que vai desativar quase 50% de sua capacidade de mineração de potassa e demitir até 700 funcionários. “Os produtores rurais estão expandindo suas compras de fertilizantes, mas as entregas na Europa e América do Norte continuam contidas pelos distribuidores, ainda pouco dispostos a formar estoques para as aplicações da primavera”, disse Joergen Ole Haslestad, principal executivo da Yara International ASA. A primavera vai de março a junho no Hemisfério Norte.
A empresa informou que vai reduzir a produção de nitrogênio, fósforo e potássio, ou NPK, em 30% no trimestre. Os custos com energia deverão cair em 1,2 bilhão de coroas norueguesas (US$ 220 milhões) no período, segundo a Yara. “As vendas de NPK ainda estão sendo inibidas pelos preços não competitivos fixados para a potassa”, disse a companhia.