A fome é um problema que atinge perto de 1 bilhão de pessoas no mundo. Alimentar, hoje, cerca de 6,8 bilhões de indivíduos é realmente uma dificuldade que, segundo a Organização para a Agricultura e Alimentação (FAO), órgão vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU), só tende a aumentar e deve, impreterivelmente, começar a ser resolvido agora sob pena de os números ficarem ainda mais alarmantes. Para 2050, estimativas da organização apontam que haverá no planeta 9,1 bilhões de indivíduos e uma necessidade de 70% a mais de comida. E se a tarefa de produzir – e fazer chegar – alimentos para toda população já é imenso, o desafio para o futuro se torna ainda maior. Como realizar essa tarefa? De que forma o Brasil, maior produtor de alimentos do mundo, deve se comportar?
Investimentos na agricultura, incentivos a grandes e pequenos produtores, intensificação da aplicação de boas práticas, inovações tecnológicas para uma produção sustentável. Essas foram algumas alternativas – e necessidades – abordadas durante o I Fórum Inovação, Agricultura e Alimentos Para o Futuro Sustentável, em São Paulo, evento que marcou aqui no Brasil a Semana Mundial da Alimentação, realizada entre os dias 12 e 16 deste mês. O Fórum foi organizado por empresas ligadas ao agronegócio, com apoio da FAO.
Para José Tubino, representante da FAO no Brasil, mais do que produzir alimentos é preciso fazê-lo preservando o meio ambiente. Ele cita ainda a necessidade de se adaptar políticas públicas e repensar a forma de fazer a agricultura no mundo, e no Brasil, de forma sustentável. “Esse é o futuro”, afirma. Nada que realmente não possa ser colocado em prática, na opinião dele.
“Estamos falando de desafios que têm solução, ordenando estratégias a longo prazo”, pontua ele, apontando a necessidade de organizar o mercado, acabar com cartéis, preços distorcidos e promover a segurança alimentar e a energia limpa. Tubino frisa que a América Latina e a África são as áreas no mundo com maior capacidade para produzir alimento. Para isso, entretanto, investir na agricultura torna-se fundamental.
Dados da FAO apontam a necessidade de se aplicar em torno de US$ 83 bilhões, por ano, nos países em desenvolvimento. “É preciso incrementar em 50% os investimentos anuais na agricultura para satisfazer a demanda de uma população de mais de 2,3 bilhões de pessoas que vai chegar nos próximos 40 anos”, acrescenta.
Visão estratégica e ações a longo prazo são questões cruciais que devem ser levadas em conta no momento de se pensar a produção de alimentos no País, segundo o ministro Daniel Vargas, da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Vargas comentou que duas dificuldades que atingem diversas áreas de políticas públicas, mas principalmente o agronegócio, dizem respeito ao fato da ambição e do desejo serem sempre maiores que a capacidade institucional de colocá-las em prática. Fora isso, os responsáveis por pensar as políticas nem sempre são os mesmos que as executam. “Isso paraliza as boas ideias”, destaca. E, neste momento em que se discute a necessidade de se ampliar a produção de alimentos no mundo, boas ideias têm a obrigação de ser colocadas em prática.
Para isso, o ministro reforça a importância da “agenda” para o setor, da mesma forma que existem em setores como educação e transporte. Na pauta do segmento agrícola não deverão faltar iniciativas para promover a industrialização rural, a agricultura familiar, a recuperação de áreas degradadas e estimular o plantio de florestas. “Precisamos frear a fronteira da expansão da degradação”, pontua Vargas, ressaltando que o custo para recuperar essas áreas custam entre R$ 3 mil e R$ 4 mil. Além disso, na opinião dele, é preciso fortalecer a classe média do setor rural e extinguir a classe baixa.
Citou ainda a necessidade de estimular a produção de insumos no País, a importância de se investir no setor de biocombustíveis e a necessidade de se melhorar a infraestrutura logística. “Precisamos facilitar o escoamento da produção”, reforçou. O custo da logística pode chegar a 40% do valor da produção. Segundo ele, esses medidas podem permitir o desenvolvimento da agricultura com menor impacto ambiental e suprir a futura demanda por alimentos no mundo.