Após a associação entre JBS-Friboi e Bertin, anunciada anteontem (16/09), o frigorífico Mercosul deverá ser o próximo a embarcar na onda de consolidações do setor se não conseguir uma nova fonte de financiamento para se expandir nos próximos meses.
O momento é decisivo, reconhece o presidente da empresa, Douglas de Oliveira, e o caminho será definido a partir da conclusão da planta de Tucumã, no Pará. A planta deve estar pronta em 35 a 40 dias e vai precisar de crédito adicional para capital de giro de pelo menos R$ 12 milhões mensais para iniciar os abates, considerando a utilização de um terço da capacidade instalada.
De acordo com o executivo, que assumiu o cargo neste ano – antes ele estava na Bertin -, ou o Mercosul obtém uma alavancagem financeira para tocar o projeto adiante ou vai partir para uma associação. “Temos que ter um plano B na mão”, afirmou o executivo, sem revelar se já estaria negociando essa alternativa com outra empresa do setor.
Por enquanto, ele admite apenas que o frigorífico está conversando com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Banco do Brasil e bancos públicos e de fomento do Sul, Norte e Nordeste em busca da linha de crédito adicional necessária. “A consolidação é um fato do qual não se pode fugir”, disse Oliveira. Para ele, é “difícil pensar” em uma grande empresa do setor com faturamento abaixo de R$ 3 bilhões por ano e se o Mercosul não crescer acabará sendo “consolidado” no processo.
Em 2009 o frigorífico deve faturar perto de R$ 930 milhões brutos, igual ao ano passado, e a unidade de Tucumã, quando operar a 100% da capacidade instalada, pode levá-lo para a faixa de R$ 1,7 bilhão por ano.
O patamar ainda será inferior ao qual o executivo considera mínimo para ir além de uma operação regional. Mas já é um começo, ao menos para negociar eventual associação em bases mais confortáveis. Por ter acesso ao gado mais barato do país, Tucumã também permitirá ao Mercosul atender, com melhores margens, mercados como o Oriente Médio e a Rússia, que absorvem a maior parte das exportações do frigorífico mas pagam os preços mais baixos pela carne.
A nova unidade será a maior da empresa, com capacidade para abater 1,5 mil cabeças por dia, e exigiu investimentos entre R$ 40 milhões e R$ 45 milhões.
As quatro plantas do Rio Grande do Sul – Bagé, Alegrete, Capão do Leão e Mato Leitão- e a de Pirenópolis (GO) somam uma capacidade de 4 mil animais por dia, mas vêm operando num ritmo de 2,5 mil por dia. De dezembro do ano passado até agora o Mercosul fechou os frigoríficos de Rondonópolis (MT), Naviraí (MS), Nova Londrina e Paiçandu (PR), mas manteve o mesmo nível de produção.
O problema do Mercosul, segundo o executivo, é “estrutural”, porque 70% do faturamento obtido no mercado interno vem do Rio Grande do Sul, onde o boi é o mais caro do Brasil, na faixa de R$ 10 a mais por arroba em comparação com o Centro-Oeste e R$ 15 em relação ao Norte. A distorção teve origem em 2006, quando por conta da febre aftosa em outras regiões as exportações de carne gaúcha dispararam e provocaram a redução do rebanho de 17 milhões de cabeças para 12 milhões atualmente, explicou. “Precisamos nos mover para onde o gado está mais barato”.
O Rio Grande do Sul também tem uma oferta reduzida de animais rastreados, disse Oliveira. O número proveniente de fazendas com certificado ERAS (Estabelecimento Rural Aprovado pelo Sisbov) não passa de 4 mil por mês, o equivalente a menos de 10% das 48 mil cabeças mensais abatidas pelo frigorífico no Estado. Isso faz com que apenas uma pequena parte das exportações, que respondem por 28% do faturamento bruto da empresa, tenham a Europa como destino. A empresa exporta ainda para Chile e Venezuela, além do Oriente Médio e da Rússia.
Outra limitação do Mercosul é a concentração exclusiva em produtos in natura. Segundo o executivo, a empresa precisa diversificar a produção para ampliar os destinos das exportações, mas uma linha de processados custa US$ 10 milhões e uma de porcionados, US$ 3 milhões, gastos considerados inviáveis nesse momento. Em 2006, quando a gestora americana de fundos AIG Capital (que detém 37,5% do capital do frigorífico) aportou US$ 21,5 milhões no negócio, a diversificação chegou a ser cogitada, mas não avançou.