Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Agroindústria

Pecuaristas contra JBS

<p>Associação de pecuaristas americanos se opõe à venda da Pilgrim's temendo expansão no mercado de frango e redução de gado bovino.</p>

Uma associação de fazendeiros americanos que recentemente conseguiu frear a expansão do grupo brasileiro JBS nos Estados Unidos ameaça voltar à carga para impedir que a entrada da JBS no mercado de carne de frango provoque perdas para os produtores de gado bovino.

Conhecida pela sigla R-Calf USA, a associação teme que a aquisição da Pilgrim’s Pride fortaleça ainda mais a posição do grupo brasileiro nas negociações com os pecuaristas, permitindo que ele produza mais carne de frango e se afaste do mercado de carne bovina quando achar os preços do gado muito altos.

“A operação aumentará muito o poder de mercado da JBS e eles terão condições de exercê-lo jogando uma proteína contra a outra”, disse o presidente da associação, Bill Bullard. O grupo representa milhares de fazendeiros que nos últimos anos se afastaram das associações tradicionais do setor.

Bullard disse que a organização vai se opor “agressivamente” à aquisição da Pilgrim’s e contratou especialistas para estudar o impacto da transação, numa tentativa de encontrar evidências que possam convencer as autoridades americanas a examinar a operação com mais rigor.

Uma campanha deflagrada pela R-Calf USA contribuiu de maneira significativa no ano passado para convencer a Divisão Antitruste do Departamento de Justiça dos Estados Unidos a vetar a aquisição da National Beef pela JBS, que se viu forçada a desistir do negócio em fevereiro.

A associação angariou apoio político para a causa dos pecuaristas, mobilizando senadores e autoridades nos Estados em que a JBS atua para ampliar a pressão para que a Divisão Antitruste impusesse limites ao avanço da JBS no mercado de carne bovina, que é bastante concentrado nos EUA.

A aquisição da Pilgrim’s Pride é um caso bem diferente. A empresa está em concordata, assolada por dificuldades financeiras que se agravaram com a crise internacional. Como a JBS atualmente não processa carne de frango, a transação não afeta em nada a concentração do mercado.

Mas a empresa pode ter problemas se a nova tese dos pecuaristas da R-Calf USA ganhar acolhida. O grupo brasileiro tem atualmente um quarto do mercado de carne bovina nos EUA e será dono de quase um quinto do mercado de frango se a aquisição da Pilgrim’s Pride for aprovada.

As autoridades antitruste americanas em geral assistiram passivamente ao processo de concentração da indústria de carne nos últimos anos, mas o veto à aquisição da National Beef pela JBS indicou que eles estão preocupados com os efeitos desse processo para fazendeiros e consumidores.

Não existem precedentes para avaliar o que pode acontecer com o grupo brasileiro agora. A última vez que o governo analisou um caso semelhante foi em 2001, quando a Tyson, que já era a maior produtora de carne de frango, comprou uma empresa chamada IBP, na época a maior processadora de carne bovina do país. O negócio foi aprovado.

Para Steve Kay, editor de um boletim especializado que tem acompanhado de perto a expansão da JBS no mercado americano, a ideia de que o grupo poderá usar a aquisição da Pilgrim’s Pride para fortalecer seu poder no mercado de carne bovina não tem muito sentido.

“Não há evidência de que empresas como a Tyson, que já atuam em diferentes mercados, tirem proveito da situação dessa maneira”, afirmou Kay. “Essas empresas procuram explorar ao máximo a lucratividade de cada um dos seus negócios e eles são muito diferentes.”

Pecuaristas independentes como os que fazem parte da R-Calf USA fornecem boa parte dos bois que mais tarde são processados por grandes indústrias como a JBS e a Tyson Foods. No mercado de carne de frango, o controle desses grupos é muito maior e os produtores independentes praticamente desapareceram nos últimos anos.