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Agroindústria

Marfrig de olho na Seara e na Doux

<p>Movimentos visando consolidação agitam mercado de carnes; JBS volta a conversar com a Bertin. Nova aquisição no setor, daraia a Marfrig musculatura para concorrer com a Brasil Foods.</p>

Com a “esfriada” nas negociações entre Marfrig Alimentos e Bertin para uma possível fusão, a empresa controlada pelo empresário Marcos Molina dos Santos negocia agora a compra da Seara, divisão de carnes da americana Cargill, e também conversa com a francesa Doux, da qual já adquiriu, em junho deste ano, a divisão de perus no Brasil. Procuradas, Marfrig e Cargill disseram que não comentam rumores de mercado. A Doux não respondeu à solicitação enviada por mensagem eletrônica.

A Marfrig não é a única a se movimentar no mercado de olho na consolidação. Enquanto negocia com a americana Pilgrim’s Pride, também do setor de frango, a JBS conversa com a Bertin Alimentos. Procurada, a JBS não comenta nenhum dos temas. Fernando Falco, da Bertin, disse que a empresa acaba de obter R$ 380 milhões em empréstimos de bancos em “operações normais” de curto prazo para reforçar o caixa e financiar o seu crescimento. Mas admitiu que “é normal que se converse”.

O Valor apurou que nas negociações com a Cargill, a Marfrig está sendo assessorada pelo Banco do Brasil. O banco, que recentemente tem apoiado várias operações da Marfrig, também poderia financiar a compra da Seara. A participação de um fundo de investimento para concretizar o negócio é outra possibilidade.

A Cargill tem interesse em vender a Seara porque não está satisfeita com o desempenho de sua unidade de carnes no Brasil, que voltou a ter prejuízo em 2008 – de R$ 72,5 milhões, apesar do crescimento de 38% na receita líquida, para R$ 2,9 bilhões. A empresa, que pertenceu à Bunge até o fim de 2004, tem 70% de sua receita proveniente de exportações. Por isso sofreu com a queda dos preços internacionais de carnes em decorrência da crise financeira global a partir de setembro de 2008.

A Doux nunca admitiu estar à venda, mas há anos vive pressionada porque perdeu competitividade diante de seus concorrentes. A operação mais rentável, de acordo com analistas, tem sido a brasileira. Nas conversas entre Marfrig e Doux todas as operações, tanto as da Europa quanto a do Brasil, estariam incluídas na negociação, ouviu o Valor de uma fonte do setor. A Doux teve um faturamento de € 1, 719 bilhão em 2008 e um resultado operacional positivo de € 52, 317 milhões.

O eventual apoio de um fundo de investimentos para viabilizar aquisições desejadas pela Marfrig levanta questões sobre como será a composição acionária da empresa depois da operação concretizada. Nas negociações entre Marfrig e Bertin Alimentos, o que emperrou o avanço foi justamente o fato de que nenhuma delas queria abrir mão do controle da nova empresa que surgiria da fusão. Agora, para adquirir uma empresa de porte de Seara ou da Doux, o controlador da Marfrig pode ter de abdicar dessa posição. Hoje, tem 50,44% das ações ordinárias.

A Marfrig teve uma receita líquida de R$ 2,403 bilhões no segundo trimestre e projeta entre R$ 10,5 bilhões e R$ 12 bilhões para o ano. No segundo trimestre, teve um lucro recorde de R$ 405 milhões, efeito da desvalorização do dólar no endividamento da empresa, que encerrou o período com dívida líquida de R$ 3,240 bilhões.

Com a queda de 6,5% na dívida no trimestre, a alavancagem (dívida líquida sobre Lajida) também diminuiu, de 3,77 vezes, para 3,36.

A Marfrig atua em aves desde o ano passado, quando comprou as operações da americana OSI no Brasil e na Europa, além da DaGranja. Com uma nova aquisição no setor, ganharia músculo para concorrer com a Brasil Foods, resultado da união de Perdigão e Sadia, que dominará vários segmentos do mercado.