Redação (28/11/2008)- Turbulências financeiras nos mercados mundiais, alta do dólar, queda das cotações internacionais das principais commodities agrícolas. O mesmo roteiro. Foi assim em outubro, o comportamento foi bem parecido em novembro e nada indica que haverá alguma mudança substancial em dezembro.
Resultado: dos oito produtos que fazem parte da pesquisa do Valor Data, todos importantes para o Brasil, apenas açúcar e cacau encerram este mês de novembro com preços médios mensais dos contratos de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez) superiores às médias verificadas no mesmo mês do ano passado.
Café, suco, algodão, soja, milho e trigo estão entre 1,61% e 38,15% abaixo do patamar de um ano atrás, conforme balanço preliminar fechado na quarta-feira, já que na quinta-feira, Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos, as bolsas de Chicago e Nova York permaneceram fechadas. Nesta sexta-feira, as bolsas vão funcionar parcialmente.
"O temor continua a dominar os mercados e a influência de movimentos financeiros segue forte", afirma Anderson Galvão, analista da Céleres. Sobretudo nos casos de soja e milho, lembra, outubro seria mesmo de queda por causa da entrada da colheita americana desses grãos no mercado, o que sempre pressiona as cotações. Mas admite que, com colheita ou sem colheita haveria queda por causa das incertezas econômicas.
Segundo o Valor Data, dos três grãos negociados em Chicago o que mais caiu em novembro em relação à cotação média de outubro foi o milho. A queda é de 8,8%, o que resulta em uma desvalorização acumulada em 12 meses de 1,61%. O trigo fecha o mês com baixa na cotação média da segunda posição de 6,34% e tombo acumulado de 32,01%; os recuos da soja são de 3,07% (mensal) e 15,73% (12 meses).
"Quando passar o efeito da entrada da safra americana e a influência financeira diminuir, os preços deverão se acomodar em patamares um pouco mais elevados que os atuais", acredita Galvão. Tomando-se a soja como referência, diz, o bushel poderá voltar a cerca de US$ 10, ante os US$ 9,0521 médios de novembro. Em tempo: para Galvão, a turbulência financeira não diminuirá antes do fim de janeiro, por depender, em parte, de medidas do novo governo americano. Na quinta-feira, o Conselho Internacional dos Grãos (IGC, na sigla em inglês), divulgou suas estimativas para a safra global de grãos 2008/09. A oferta ficará em 1,769 bilhão de toneladas, 1 milhão de toneladas abaixo sobre a previsão de outubro. No entanto, representa um incremento de 80 milhões de toneladas sobre a safra 2008/09, informou a agência Dow Jones.
Nas commodities negociadas em Nova York, apenas o açúcar encerrou novembro (até o dia 26) com valorização: 1,61% e de 19,79% em 12 meses. O restante – café, cacau, suco de laranja e algodão – foi fortemente influenciado pelos movimentos dos fundos no período. Também por serem consideradas "soft commodities", com uma demanda menor em momentos de crise financeira, a pressão sobre os preços é maior.
Para o açúcar, as perspectivas são menos sombrias. As indicações são de déficit global para a safra 2009/10, o que deverá sustentar os preços da commodity, segundo Plínio Nastari, presidente da consultoria Datagro. No mercado interno, a demanda por álcool ainda está firme, o que deverá dar suporte aos preços pelo menos até abril de 2009, fim da entressafra da cana no Centro-Sul do país.
O café também tem fundamentos altistas, considerando que a safra do Brasil, maior produtor e exportador global, para 2009 será menor. Haverá um equilíbrio de oferta e demanda mundial para os próximos meses, afirma Eduardo Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes, de Santos (SP). Até o dia 26, as cotações do grão acumulavam queda de 3,17%. Nos últimos 12 meses, recuo é de 8,54%.
O algodão até teria fortes motivos para encerrar com forte valorização em novembro, uma vez que perderá espaço para os grãos nos Estados Unidos. No entanto, em momentos de crise, a demanda pela pluma desaba, o que fez as cotações da commodity acumularem baixa de 17,05% até o dia 26. Em 12 meses, a queda atinge 33,98%. Para o suco de laranja, a mesma justificativa. No mês, o suco tem baixa de 1,57%; em 12 meses, recuo de 38,15%. Para o cacau, a forte queda no mês, de 9,2%, foi sustentada em parte por notícias de que os países da África vão registrar uma boa safra. Em 12 meses, a amêndoa acumula alta de 3,37%.