Redação (31/10/2008)- A persistente turbulência nos mercados financeiros globais e as incertezas sobre a extensão de uma desaceleração econômica que já deixa marcas em todos os continentes voltaram a derrubar os preços das principais commodities agrícolas negociadas no mercado internacional em outubro.
Cálculos do Valor Data baseados nos preços médios mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez) transacionados nas bolsas de Chicago e Nova York apontam que, neste universo de oito produtos, o que recuou menos em relação à média de setembro foi o suco de laranja. E a queda foi forte, superior a 13%, em um ambiente de extrema volatilidade diária que marcou também os demais mercados.
Pouco à vontade para previsões, analistas consultados pelo Valor foram quase unânimes em apontar o dólar como a referência – em uma relação inversamente proporcional – a ser seguida na tentativa de antever um novo patamar de preços para as commodities, inclusive petróleo e metais. Em outubro o dólar se valorizou em relação a outras moedas, como o euro.
"Outubro foi um dos piores meses da história. A saída dos index funds [fundos de índices] entre julho e o mês passado representou toda a compra de posições desses mesmos fundos entre janeiro de 2006 e julho deste ano", afirmou Michael McDougall, diretor da corretora Newedge baseado em Nova York.
Renato Sayeg, da Tetras Corretora, de São Paulo, está entre os que acreditam que o dólar deve oscilar menos em novembro e em torno do eixo atual. Se isso de fato acontecer, ele espera que os grãos negociados em Chicago também permaneçam mais ou menos no nível de hoje, um pouco acima do patamar observado no início do mês.
Conforme Eduardo Reinaldo Sarmento, analista da Safras&Mercado em Curitiba, é quase impossível realizar posicionamentos de longo prazo no mercado. Ele acredita que a especulação continuará a dar o tom em novembro. "É preciso recuperar a confiança, e para alguns especialistas isso pode demorar mais de um ano", diz. Enquanto isso, os fundamentos seguirão relegados a segundo plano.
Foi o que aconteceu com o milho em Chicago em outubro. Até quinta-feira (dia 30), a cotação média do grão foi a que mais caiu em relação à média do mês anterior entre as oito commodities pesquisadas pelo Valor Data, e isso apesar de o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) ter reduzido sua estimativa para a área plantada no país. Com a desvalorização de 22,61%, o preço médio mensal é o menor desde novembro de 2007.
Houve a mesma revisão extemporânea para a soja, e a cotação média do grão diminuiu 21,18% em outubro, descendo ao menor nível desde agosto de 2007. Para analistas, o fato de o USDA ter divulgado novas estimativas para a área plantada de grãos americana nesta semana foi uma clara tentativa de fortalecer o papel dos fundamentos na formação de preços. Não funcionou sequer no dia da divulgação, a última terça-feira, quando houve forte valorização do dólar no mercado internacional.
O trigo acompanhou soja e milho e sua cotação média mensal perdeu 19,78% de seu valor até o dia 30, recuando ao menor patamar desde junho do ano passado.
Em Nova York, o algodão, cujo mercado sempre está atento aos grãos em Chicago, em virtude da disputa por áreas de plantio nos EUA, seguiu a curva e também tombou. Mas com uma diferença importante: ao contrário de milho, trigo e soja, o algodão não é gênero alimentício de primeira necessidade e o temor de uma desaceleração econômica mais forte e longa deteriora mais facilmente os preços.
Fernando Martins, também da Newedge, confirma a tese citando as deprimidas exportações americanas. A cotação média do algodão diminuiu 15,07% em relação à média de setembro e é a menor desde o mês de maio de 2007.
O cenário não é diferente para cacau, açúcar, café e suco de laranja, as outras "soft commodities" nova-iorquinas. São mercados com menor presença de grandes fundos de investimentos e mais vinculados aos fundamentos – e estes, do lado da demanda, não andam inspirando muita confiança.
As incertezas provocaram quedas de 15,54% do preço médio do cacau, para o menor nível desde janeiro passado, de 14,89% para o café, que bateu no menor patamar desde dezembro de 2007, de 13,8% para o café, que desceu a julho de 2007, e de 13,11% para o suco de laranja, que voltou a janeiro de 2005.
Em alguns mercados, a pressão das incertezas que cercam a demanda pode ser medida pela pouca influência das previsões para a oferta. O açúcar, por exemplo, tem pela frente oferta global restrita, uma vez que países como a Índia, importante no mercado, devem passar de exportador a importador.
O café dá outra lição. O Brasil colherá, em 2009, uma safra bem menor, devido à bianualidade de seu ciclo de produção. A safra cheia foi colhida, já era hora de o mercado olhar para o ano que vem e isso não tem feito a menor diferença.