Redação (24/10/2008)- A americana Bunge Limited, com sede em White Plains (Nova York), caminha para fechar o exercício 2008 com os melhores resultados globais de sua história. Apesar de um terceiro trimestre de lucros menores, o balanço dos primeiros nove meses do ano ainda aponta forte crescimento de receitas e ganhos, além de uma posição líquida "confortável", de acordo com o principal executivo do grupo, o brasileiro Alberto Weisser. Julio Bittencourt/Valor
Ao divulgar na quinta-feira os resultados obtidos pela Bunge entre julho e setembro, o "chairman" e CEO reconheceu que este foi um intervalo particularmente "volátil" nos setores de agronegócios e alimentos, e que as condições atuais (referência ao quarto trimestre) nesses mercados são "claramente diferentes" do "extraordinário" cenário do primeiro semestre, quando a Bunge praticamente garantiu os recordes esperados para o atual exercício.
E as incertezas quanto à saúde financeira mundial e a intensidade da desaceleração econômica em diversos países, dos Estados Unidos aos gigantes emergentes, já cobraram seu preço. No terceiro trimestre, a receita líquida global do grupo aumentou 52% em relação ao mesmo período de 2007 e alcançou US$ 14,797 bilhões, mas o lucro líquido recuou 33% na comparação, para US$ 234 milhões.
Ainda assim o conglomerado passou a acumular, de janeiro a setembro, um aumento de 139% – para US$ 1,274 bilhão – em seu lucro líquido global em relação aos nove primeiros meses do ano passado. Já a receita líquida acumulada registrou incremento de 64% e chegou a US$ 41,631 bilhões.
Apesar de os resultados obtidos no Brasil não terem sido detalhados, o país foi, mais uma vez, o grande destaque individual nos comentários de Weisser sobre os resultados publicados. Em parte porque a forte retração das vendas de fertilizantes no país desde setembro preocupa, e em parte pela forte oscilação do real em relação ao dólar americano.
Weisser admitiu que a divisão de "agribusiness" da Bunge registrou perdas em moeda estrangeira da ordem de US$ 192 milhões no terceiro trimestre, e que essas perdas foram oriundas principalmente de operações financeiras da subsidiária brasileira. No país, os negócios da divisão estão reunidos na Bunge Alimentos, que, entre outras atividades, é responsável pelos negócios com grãos e produtos de consumo como óleos e margarinas.
O Valor apurou que essas perdas financeiras não têm relação com derivativos. Ocorre que a empresa normalmente contrai dívidas em dólar para financiar o capital de giro para aquisições de estoques de grãos (sobretudo soja), que são cotados em dólar. É fato que a valorização da moeda americana elevou o valor dessa dívida em real, mas como a garantia para o pagamento dessa dívida é o próprio estoque e o "efeito dólar" o valorizou na mesma proporção, os ganhos compensaram a perda.
Movimento semelhante aconteceu nas operações de estocagem de fertilizantes no país. Só que neste caso, as perdas, de US$ 215 milhões, só serão revertidas com as vendas dos estoques nos próximos trimestres. Na divisão de fertilizantes, fundamental para alimentar as perspectivas de resultados recordes em 2008, a Bunge também destacou os efeitos positivos dos resultados da brasileira Fosfertil em seu balanço trimestral global.