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Dólar faz preço da carne disparar no Brasil

<p>Os preços da carne nos supermercados aumentaram, na média, 21% em outubro, com picos de reajuste de até 54%, e quase todas as promoções com esses produtos foram suspensas.</p>

Redação (13/10/2008)- Os consumidores brasileiros já estão pagando caro pela forte arrancada dos preços do dólar que, nos últimos dois meses, subiu mais de 40%. Os principais figroríficos do País (Marfrig, JBS, Bertin, Minerva e Independência) estão restringindo a oferta de carne bovina no mercado interno e destinando a maior parte da produção — que é menor, por causa do período da entressafra — para o exterior, com objetivo de ampliar os lucros. Com isso, os preços da carne nos supermercados aumentaram, na média, 21% em outubro, com picos de reajuste de até 54%, e quase todas as promoções com esses produtos foram suspensas.

Segundo levantamento feito pelo especialista em inflação e economista-chefe da SLW Asset Management, Carlos Thadeu Filho, o quilo do contra-filé saltou de R$ 12,90 para até R$ 19,90, um aumento de 54,26%. Vários outros tipos de cortes sofreram reajustes (veja quadro). Entre as carnes pesquisadas por Thadeu, o menor reajuste se deu no filé mignon, de 4,18%, com o preço avançando de R$ 23,90 para R$ 24,90.

“Em todas as conversas que tive com administradores de supermercados no fim de semana, a explicação foi a mesma: os frigoríficos reduziram drasticamente a oferta de carnes”, afirmou o economista da SLW. “Eles disseram que só estão recebendo produtos de menor qualidade, aqueles que os consumidores do exterior não aceitam comprar”, acrescentou. Thadeu disse que essa escassez está afetando, inclusive, o abastecimento dos restaurantes. Por isso, comer fora de casa ficará ainda mais caro. “Falei com um grupo de cinco redes de restaurantes que compram carnes em conjunto para negociar valores. Mas não só a oferta diminuiu para eles, como os preços dispararam”, frisou.

Inflação

O resultado dessa postura dos frigoríficos, na avaliação de Thadeu, será um salto na inflação de outubro. Até a semana passada, a maior parte dos analistas acreditava que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste mês ficaria entre 0,30% e 0,35%. Mas, com o forte aumento dos preços das carnes, que têm peso importante no indicador, a tendência é de a inflação ficar entre 0,45% e 0,50%. “Não há dúvidas de que a inflação de curto prazo vai aumentar muito por causa do impacto da alta do dólar”, endossou a economista Giovana Rocca Siniscalchi, do Unibanco, em relatório enviado a clientes.

O problema, ressaltou Thadeu, é que os preços de outros produtos também estão sendo reajustado, como o feijão, o arroz, pães e massas (devido à alta do trigo). Assim acredita o economista, o grupo alimentos, que teve deflação de quase 1% em setembro dentro do IPCA, deve fechar este mês com aumento expressivo. “Com a inflação em alta neste momento, refletindo a elevação do dólar, o Banco Central ficará em uma situação difícil para definir os rumos das taxas de juros. De um lado, terá inflação maior. De outro, sinais evidentes de desaceleração nos níveis da atividade produtiva por causa, principalmente, da escassez de crédito provocada pela crise financeira mundial”, destacou.

Resposta
A Associação Brasileira dos Exportadores de Carnes (Abiec) se limitou a dizer por meio de sua assessoria de imprensa que há uma produção menor de bois no País e os preços no exterior subiram muito neste ano. O valor médio da tonelada de carne passou de US$ 2,6 mil, entre janeiro de setembro de 2007, para US$ 3,8 mil no mesmo período deste ano, um salto de 44,05%. O resultado disso foi que as receitas aumentaram, na mesma comparação, de US$ 3,295 bilhões para US$ 4,124 bilhões ( 25,16%), apesar de a quantidade exportada ter recuado 13,12% (de 1,25 milhão para 1,086 milhão de toneladas).

Quem acompanha o setor de perto confirma que os frigoríficos intensificaram as exportações nos últimos dias, porque a maior cotação do dólar ajudará várias dessas empresas a recuperarem parte dos prejuízos que tiveram em operações financeiras nos mercados de câmbio. Os frigoríficos, assim como a Sadia, a Aracruz Celulose e a Votorantim, que já anunciaram prejuízos conjuntos de R$ 5 bilhões, estavam captando recursos no exterior, aplicando o dinheiro em juros no Brasil e, na outra ponta, apostando na alta do real frente ao dólar. Mas vieram a crise mundial e a disparada dos preços da moeda americana. Como as apostas no câmbio (opções de compra, na linguagem no mercado) eram elevadíssimas e muito superiores às aplicações em taxa de juros, as perdas ficaram além do recomendado pelas boas práticas gerenciais.