Redação (16/09/2008)- Após passar por uma entre 2004 e 2006 os produtores brasileiros parecem ter aprendido a lição e se armam de mecanismos para se proteger do colapso que está afetando todo o sistema financeiro. Diante de um cenário de nova alta do dólar e turbulência mundial, os agricultores negociam em euros e aguardam a colheita da safra que já está com em boa parte da produção travada a preços remuneradores nas Bolsas de Mercadorias.
Na maior cooperativa do País, a Coamo, as vendas de uma safra começam até um ano antes da colheita. "Recebemos 4,3 milhões de toneladas de grãos, então esse artifício é fundamental para se ter flexibilização na hora da comercialização", disse, Haroldo Galassini, diretor presidente.
Pela sua participação no mercado agrícola a Coamo será anunciada essa semana como a empresa do ano pela Bolsa de Chicago.
De olho no potencial investidor dos produtores, a Bolsa de São Paulo iniciou no último fim de semana o programa "BMF&Bovespa vai ao campo". O primeiro evento ocorreu no município de Campo Mourão (PR), mas já estão programadas visitas em mais 10 agrocapitais.
Segundo o diretor de commodities da Bolsa, Ivan Wedekin, o potencial do setor agrícola no Brasil deve ser mais bem explorado,os contratos agropecuários respondem por apenas 0,8% do que é negociado na BM&F. "O cenário já está melhorando. A safra do café foi negociada 3,5 vezes e o boi já está quase superando uma safra", afirmou. Wedekin atribuiu a elevação de 1,30 milhão para 3,03 milhões do número de contratos no acumulado de janeiro a agosto a maior liquidez do setor agrícola neste ano, o que motivou a entrada de novos participantes no mercado. O volume financeiro dos contratos de 2008 já ultrapassam US$ 5,22 bilhões.
Mesmo quem teve redução de lucro irá apostar novamente no mercado futuro. "Fiz oito contratos para 150 sacas de soja e deixei de ganhar US$ 10 por saca, mas a pessoa que não se ajusta está fora do mercado" disse Antonio Guerreiro, proprietário da Fazenda Sião, no Município de Farol (PR).
Alta do Dólar
Além de se livrar de boa parte do risco que as oscilações nos preços dos grãos estão gerando no segundo semestre, os produtores do Paraná parecem preparados para a reversão na cotação do dólar. "Hoje os produtores da região têm seus negócios muito mais atrelados ao euro, que continua com uma cotação elevada em relação ao dólar", avaliou Galassini. Para o presidente da Coamo, a alta do dólar não trará grandes efeitos ao produtor brasileiro e poderá até ser benéfico do ponto de vista do exportador. "Estamos colhendo oportunidades com os riscos atuais", destacou.
Segundo Galassini, 2008 já é considerado o melhor ano para a agricultura, com a maior safra de todos os tempos sendo negociada a bons preços. Prova disso é a previsão de faturamento da Coamo, que é de R$ 4,30 bilhões ante R$ 3,45 bilhões em 2007.
Diversificação
A diversificação é outra arma encontrada pelo produtor paranaense para fugir da crise. Além da variação de culturas na lavoura, que passa por milho, soja, trigo e aveia, eles estão partindo para mais uma atividade: a avicultura.
A Frangobras Indústria e Comércio de Carnes e Derivados Ltda é um abatedouro de aves em fase de implantação no município de Campo Mourão. O empreendimento irá inaugurar no próximo dia 19 um sistema integrado que contará com 100 integradores num raio inicial de 40 quilometros. "É uma boa opção. Você compromete pouca terra, cerca de 6 mil m² para um aviário", disse o produtor integrado Gabriel Jort que destacou ainda a vantagem de o mercado aviário não sofrer diretamente impactos climáticos. O valor do aviário implantado pelo produtor é de R$ 250 mil.