Redação (13/09/07) – As avaliações sobre o comportamento do mercado do milho em Santa Catarina no próximo ano foram feitas pelo vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Faesc), Enori Barbieri, tendo por base fatores macroeconômicos do Brasil.
Se forem confirmadas, as previsões de Barbieri criarão embaraços para a indústria de processamento de carnes de aves e de suínos, amplamente dependente do milho.
O Estado deve fechar este ano de 2007 com um consumo total de 5 milhões de toneladas. Esse volume foi obtido com o cultivo de 795 mil hectares na safra 2006/2007 que resultou em 4 milhões de toneladas a uma produtividade média de 5.000 kg por hectare, maior que a média nacional de 4.000 kg/ha, mas menor que a média norte-americana de 9.000 kg/ha. O plantio da próxima safra em Sanata Catarina iniciou em setembro e a colheita começa em fevereiro.
Uma série de fatores climáticos e econômicos se associarão nas esferas nacional e internacional para reduzir a oferta mundial de milho. Em Santa Catarina haverá diminuição da produção em conseqüência de vários motivos. O fenômeno La Nia, previsto por todos os institutos meteorológicos, provocará seca no sul do país, comprometendo a produtividade.
Por outro lado, o aumento dos custos da lavoura de milho e a melhor remuneração proporcionada por outras culturas levarão a uma redução de área plantada de 3% a 5% para próxima safra. Atualmente, o preparo de um hectare de milho com emprego de tecnologia custa R$ 1.200,00, enquanto a cultura da soja requer apenas R$ 400,00. Pesa nesse cálculo os custos dos fertilizantes que, somente nos últimos doze meses, encareceram em 20% a 30%.
Os produtores migrarão para a soja que, além de custos menores, também estará valorizada em razão da diminuição da produção nos Estados Unidos que, na safra 2007/2008, baixarão sua produção de 84 milhões para 69 milhões de toneladas.
Barbieri mostra que a produtividade poderia ser ampliada se fossem retirados os entraves para o ingresso das variedades de milho transgênico no Brasil. A Comissão Técnica Nacional de Biosseguridade só autorizou para 2009 o milho transgênico da Bayer e da Monsanto, porém falta aprovação do comitê executivo interministerial. Enquanto isso, o país perde competitividade: nos EUA já existem transgênicos com características de resistência à seca, pragas, herbicidas e maior qualidade do óleo que reduzem custos e aumentam produtividade. “Em contrapartida, o milho BT da Monsanto, que combate a lagarta do cartucho que destrói a produtividade, espera há oito anos autorização para ser cultivado no Brasil”.
Importação maciça
Santa Catarina fechará este ano com pelo menos 1 milhão de toneladas importadas do Paraná, do centro oeste e do Paraguai, e importará em 2008 até 2 milhões de toneladas. A escassez provocada pela redução de área plantada (migração para a soja) e pela menor produtividade (El Nia e seca) serão agravadas pelo aumento da demanda interna, de acordo com o vice-presidente da Faesc.
O consumo catarinense crescerá porque há consistente previsão de incremento de 15% da avicultura com a instalação de 2.000 a 3.000 novos aviários que suprirão as novas plantas industriais em construção. Por outro lado, o setor leiteiro está em expansão e remunerando melhor o produtor que passou a usar mais ração à base de milho para alimentar as vacas (70% da ração de aves, bovinos e suínos é à base de milho). Prevê-se, ainda, um crescimento das exportações de carne suína e de aves em razão do status sanitário reconhecido mundialmente pela OIE.
Com área plantada 12,6 milhões de hectares e produtividade de 4.000 kg/ha, o Brasil colheu neste ano 51 milhões de toneladas, sendo 34 milhões na safra principal e 17 milhões na safrinha. Até o fim do ano, o país consumirá 41 milhões e exportará de 8 a 10 milhões de toneladas. Para 2008 será mantida a mesma área de cultivo da safra e o Brasil vai depender exclusivamente da safrinha para definir as necessidades de importação. “Vamos depender do desempenho da safrinha e do clima”, resume Barbieri.
O mercado internacional continua muito valorizado em razão do etanol americano que vai consumir 70 milhões de toneladas só nos EUA. Os americanos colheram 280 milhões de toneladas na última safra (36,6 milhões de hectares, média de 9.000 kg por hectare) e projetam 330 milhões de toneladas na próxima, porém, aumentarão de 50 milhões para 70 milhões de toneladas o milho destinado para o biocombustível etanol. Isso significa que o estoque mundial de milho continuará caindo.
O vice-presidente Enori Barbieri realça que, para garantir suas necessidades, o Brasil terá que buscar maior produtividade e menciona que os preços atuais refletem essa situação. Para um preço mínimo de R$ 14,00 a saca de 60 kg, o mercado pratica de R$ 22,00 a R$ 23,00 a saca. O Brasil já está fechando contratos de venda ao exterior a R$ 23,00 no porto.