Redação (19/05/06) – O juiz da 11 Vara Criminal da Justiça Federal, Gilton Batista Brito, bloqueou os bens e recursos financeiros da Avestruz Master. Se a situação continuar assim, a ração só vai durar até amanhã. A empresa precisaria de R$ 3 milhões iniciais para manter suas atividades, pagar a folha salarial em aberto referente ao mês de abril e ao reabastecimento do estoque de alimentos dos funcionários e compra de ração para os animais. Os animais da Avestruz Master estão com a alimentação racionalizada desde o início da greve dos funcionários da empresa, há três dias.
As fazendas Master de Goiás funcionam em esquema emergencial. Dos 40 funcionários responsáveis pela alimentação dos bichos, apenas três realizavam esse trabalho. Hoje, todos os trabalhadores devem aderir à greve. Depois de 72 horas recebendo apenas 25% da alimentação diária, os animais ficaram ontem sem ração durante todo o dia. Se amanhã os colchetes continuarem vazios, as avestruzes começarão a morrer a partir de domingo. Um dos funcionários encarregados do tratamento das aves, Simão Pedro Alves, 38, lamenta que o pouco de ração que ainda resta não vai durar nem mais um dia. Os coxos estão vazios e não podemos fazer nada, lamenta.
De acordo com Roberto Arana Elmor, veterinário e consultor técnico da empresa, o animal não morre de fome tão rápido assim. O que acontece com o bicho é que se houver uma mudança brusca de hábitos, como redução ou ausência de algum alimento, ele pode sofrer um ataque cardíaco ou até morrer por estresse, explica. Arana comenta ainda que o animal está em estação de monta, uma fase de acasalamento, que vai de maio até dezembro.
Para ele, mesmo que não morra mais nenhum animal, a crise será sentida na próxima safra do ano que vem, porque com essa mudança de hábitos, o animal fica sensível e não acasala como deveria. O avestruz tem um histórico de comportamento. Se muda, ele sente e não reproduz, reclama. Arana comenta ainda que, depois dessa greve, para o animal voltar ao ritmo de nutrição demora-se de 15 dias a três meses, e segundo ele, alguns nem voltam, acarretando prejuízo. Os animais que estavam botando, pararam de botar de uma vez. A empresa estava com um estoque de 1, 5 mil ovos. Para o veterinário, isso já é reflexo da falta de alimentação. Segundo Arana, não foi diagnosticada a causa da morte de alguns animais desde o iníco da greve até agora. Não tem como saber se os animais morreram por causa da alimentação racionalizada ou por outro motivo, porque os sintomas são os mesmos, afirma.
O delegado titular da Delegacia Estadual de Investigações de Crimes contra o Meio Ambiente (DEMA), Wilson Luíz Vieira, afirma que, em vista das denúncias, a delegacia irá nas fazendas investigar se realmente as aves estão passando fome. Os administradores têm a guarda dos animais e eles são responsabilizados por tudo que acontece às aves. Mas como o caso está na Justiça, a delegacia precisa apurar os fatos para identificar os culpados pelos maus-tratos, explica.
O artigo 32 do Côdigo Contra Crimes Ambientais diz que, em prática de abuso ou maus-tratos de animais, a pena pode ser de três meses a um ano. Segundo o administrador da empresa, Neilton Cruvinel Filho, os animais representam 70% dos bens dos credores e se a ração chegar só na segunda poderá ser tarde demais. O que eu estou fazendo é apelar para a humanidade e pedir mais prazo para os fornecedores de ração, mas até agora não consegui nada, afirma.
O corpo jurídico da Associação Brasileira de Proteção aos Investidores da Avestruz Master (Abpam) protocolou, na última quarta, petição para que o juiz da 11 Vara Criminal da Justiça Federal, Gilton Batista Brito, libere aos menos os R$ 400 mil correspondentes à folha de pagamento dos funcionários. O Juíz não foi encontrado pela reportagem do DM.
Sócios pedem ajuda do governador
Comissão de sócios da Avestruz Master entregaram ontem na chefia de gabinete do governo de Goiás documento solicitando audiência com o governador Alcides Rodrigues. O objetivo do encontro é discutir a viabilidade da participação da S.A. em programas governamentais de fomento econômico.
De acordo com o presidente do Portal do Avestruz, André Luiz Dias Matos, os mais de 55 mil sócios da empresa buscarão concessão de crédito, incentivos fiscais e agropecuários, entre outros programas executados pelo governo como forma de guinar o desenvolvimento econômico de Goiás para tentar recuperar a Avestruz Master.
O laudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que concluiu que a empresa tem chances de se reestruturar depois de realizadas as sugeridas adaptações no plano de recuperação judicial e se o País continuar com o cenário econômico estável. Apesar da recuperação da Avestruz ter sido condicionada a fatores mercadológicos e agora judiciais os sócios ainda tentam lutar contra a falência.
Mesmo sem definições sobre o futuro da empresa, os mais de 55 mil proprietários da Avestruz Master tentarão participar dos programas governamentais. Quando a empresa era do clã Maciel, a situação era outra. Agora, a Avestruz pertence a mais de 55 mil famílias. Vamos discutir com o governador se há alguma possibilidade de a empresa participar das linhas de crédito, dos programas da Agência de Fomento, diz. Se houver despacho do governador, a audiência acontece nos próximos 10 e 15 dias.
100% dos funcionários aderem à paralisação
Funcionários da Avestruz Master entram no terceiro dia consecutivo de greve e colocam em risco a vida do plantel de mais de 38 mil avestruzes. Até ontem, as fazendas Master de Goiás funcionavam em esquema emergencial, com regularidade apenas nas atividades do incubatório dos ovos e com suporte técnico para questões emergenciais. Hoje, todos os trabalhadores devem aderir à greve.
Mais de 10 mil aves morreram entre os meses de novembro de 2005 e fevereiro deste ano. Os trabalhadores alegam ausência de infra-estrutura para a execução das atividades. Anteontem acabaram os estoques de arroz, feijão e carne para preparação das refeições dos funcionários. Ontem, acabaram os combustíveis dos veículos utilizados para percorrer as fazendas, tratores e ônibus de transporte dos empregados.
O corpo jurídico da Associação Brasileira de Proteção aos Investidores de Avestruz Master (Abpam) protocolou ontem petição para que o juiz da 11 Vara Criminal da Justiça Federal, Gilton Batista Brito, libere aos menos os R$ 400 mil para a folha de pagamento dos funcionários.
Conheça o bicho
Nome científico
Struthio camelus
Origem
África do Sul
Espécies
african black, red neck e blue neck
Tempo de vida
até 70 anos em criações comerciais
Altura 2,20 metros
Macho cor preta
Fêmea cor cinza
Peso 90 a 120 quilos
Produção de carne
35 quilos/ave
Produção de plumas
1,3 quilo/ave
Outras curiosidades
tem asas, mas não voa. Em compensação, corre numa velocidade de 60 km/h
Números
A Avestruz Master precisa de R$ 3 milhões para regularizar os trabalhos e comprar ração. Cada ave come 1,5 kg de ração por dia.
Elas só estão se alimentando com um quarto do que deveriam.
São cerca de 40 mil aves nas dez fazendas reunidas em Bela Vista, e uma em Anápolis.
Dos 40 funcionários encarregados de tratar dos animais, apenas três estavam trabalhando até ontem.
Uma avestruz vale em média R$ 4 mil.
Se a ração não chegar até segunda, no mínimo dez aves podem morrer por dia.