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Epidemia

<p>Especialistas da USP elencam motivos para que a população brasileira não se preocupe com gripe aviária.</p>

 
O vírus Influenza H5N1

Redação AI 01/11/2005 – “A população não precisa se preocupar”. Essa é a análise do professor Antônio José Piantino Ferreira, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, sobre a possibilidade de um surto de gripe aviária no Brasil. O vírus que já causou a morte de mais de uma centena de pessoas e milhares de aves em países da Ásia e da Europa veio à tona nas últimas semanas com a imprensa acompanhando o avanço da epidemia de H5N1 através da Eurásia. O temor de que o vírus letal chegue ao Brasil tomou forma com a suspeita de um caso na Colômbia, fronteira com a Amazônia brasileira.

Com medo de uma epidemia de gripe aviária, muitos brasileiros começaram a estocar o remédio anti-viral Taniflu considerado o único medicamento eficaz no tratamento contra o H5N1. Contudo, tanto o professor Piantino quanto o professor Paolo Zanotto, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB-USP), afirmam que não há motivos para a população se preocupar, pois neste momento o risco do vírus H5N1 chegar ao país através de aves é muito pequeno.

O Brasil recebe aves migratórias dos EUA, Canadá e África, locais onde ainda não foi detectado nenhum caso de gripe aviária. Além disso, o tempo de vida das aves doentes é curto, em média quatro dias. Também existe o fato das rotas migratórias alcançarem o Brasil, em sua maioria, pelo litoral. “O risco da gripe aviária chegar através de aves é pequeno ou próximo de zero. As granjas estão localizadas no interior do país e as rotas, na área litorânea”, indica o professor Antônio Piantino, especialista em patologias aviárias.

Transmissão para humanos

O causador da chamada gripe aviária é o H5N1, um tipo mutante do vírus Influenza, que tem efeito letal devido a sua capacidade de auto-ativação . O vírus mostrou-se capaz de ser transmitido a humanos pelo contato direto com aves contaminadas. As pessoas infectadas tiveram sintomas de gripe comum coriza, problemas respiratórios e dor no corpo; com seqüente infecção de diversos outros órgãos levando à falência orgânica em poucos dias.

Entretanto, Paolo Zanotto explica que a capacidade de transmissão do vírus de humano para humano é baixa, “O vírus tem muita dificuldade para infectar outra pessoa a partir de uma pessoa doente. Existem dois casos documentados em que o vírus de forma muito limitada passou de uma pessoa para outra, um no Camboja, outro no Vietnã”.

O real risco de epidemia entre os seres humanos está na grande capacidade de rearranjo de todos os vírus Influenza. O genoma do vírus está separado dentro da célula em pedaços que, em contato com um Influenza de outro tipo infectando a mesma célula, troca trechos de seu genoma. Caso isto aconteça entre um vírus H5N1 e outro humano ou de mamífero com maior facilidade de transmissão, isso pode causar uma pandemia mundial. “É no vírus geneticamente modificado que temos de prestar atenção, porque o H5N1 não se propaga de forma epidêmica no mundo inteiro, ele é confinado. Mas em contato com outro vírus qualquer, o novo vírus pode ter a letalidade do H5N1 e a facilidade de transmissão de outro, como aconteceu na gripe espanhola, em 1918, matando 50 milhões de pessoas”, alerta o virologista Zanotto.

Prevenção

Neste momento, o que pode ser feito para evitar a chegada do vírus H5N1 é o monitoramento. No Departamento de Microbiologia do ICB, a equipe do professor Edison Luiz Durigon monitora doenças encontradas em aves silvestres nas regiões que recebem aves migratórias, e já avalia um teste para o diagnóstico rápido do H5N1 a partir de muco do animal sob suspeita de infecção.

Outro cuidado deve ser tomado no recebimento de containers com material biológico proveniente de regiões com focos da doença. “Deve ser feito um trabalho de monitoria e vigilância sanitária em portos e aeroportos no recebimento de animais, ração e produtos de origem animal, pois o risco potencial é considerável”, afirma Piantino.

América do Sul

Sobre a suspeita de um foco na Colômbia, foi diagnosticado um vírus influenza do tipo H9N2 que, segundo o professor Durigon, em caso de contágio humano causa apenas uma conjuntivite leve, sem conseqüências maiores.

Arte: Paola Rossi