Da Redação 27/09/2005 – O grupo Agroceres, que em 1997 vendeu suas operações de sementes para a americana Monsanto porque acreditava que não resistiria à concorrência com as multinacionais no país, volta a reforçar investimentos no segmento. Sua divisão de sementes Biomatrix deverá lançar em 2006 a primeira linha de híbridos de milho desenvolvidos com genética própria. A empresa também já negocia licenciamento para desenvolver sementes transgênicas Bt (que contêm um gene da bactéria Bacillus thuringiensis, que dá resistência a pragas do solo).
Urbano Ribeiral, presidente do grupo, diz que a lista de empresas sondadas inclui a própria múlti americana, a atual dona do negócio e da marca Agroceres Sementes. “Hoje a Monsanto é a empresa que possui a tecnologia mais moderna em transgênicos para milho”, diz. Ribeiral afirma que já é difícil convencer os compradores de que as atuais sementes Agroceres não são de sua empresa, e sabe que nesta volta ao mercado esse trabalho será ainda mais difícil. Ele diz, ainda, que a Agroceres não tem condições de investir em tecnologia transgênica própria no momento e que por isso aposta nos licenciamentos. O grupo também pretende obter sementes licenciadas da estatal Embrapa.
Ele observa que as multinacionais não conseguiram crescer como gostariam no mercado brasileiro devido à demora na aprovação da Lei de Biossegurança. Sem investimentos em novas tecnologias, sobrou espaço para a Agroceres – conhecida por seus 52 anos de atuação em sementes – voltar ao mercado após ficar seis anos fora do setor, obedecendo o acordo de venda da divisão e licenciamento da marca à Monsanto.
Neste ano, a Biomatrix está concentrando esforços no desenvolvimento de sementes com germoplasma próprio, para depois produzir sementes transgênicas com sua tecnologia. Segundo Ribeiral, o primeiro híbrido com tecnologia própria será lançado em 2006. Em seus laboratórios em Patos de Minas (MG) e Aparecida de Goiânia (GO), a empresa desenvolve sementes de milho verde para silagem e alimentação.
Hoje, a Biomatrix produz sete variedades de milho e quatro de sorgo, todas licenciadas da Embrapa. Neste ano, a empresa estima produzir 180 mil sacas de 20 quilos de sementes de milho e sorgo, ante 40 mil em 2004. Fruto de um aporte total de R$ 4,5 milhões nos últimos três anos, a Biomatrix ainda é um negócio incipiente da Agroceres e corresponde a 6% do faturamento do grupo. No ano passado, a participação era de 4%.
Luiz Antonio Sallada, diretor administrativo e financeiro da Agroceres, diz que o grupo deve fechar o ano com um faturamento de R$ 280 milhões, ante R$ 230 milhões em 2004. O resultado, segundo ele, está sendo impulsionado pelo crescimento das vendas de matrizes suínas e de aves – que correspondem a cerca de 20% da receita do grupo – e pela expansão nas vendas de rações, carro-chefe que responde por 40% do faturamento anual. Os investimentos, de acordo com Sallada, devem atingir R$ 12 milhões este ano, metade do valor direcionado à construção de uma granja de suínos em Presidente Olegário (MG).
Os investimentos em pesquisa e as parcerias são pilares que nortearam a Agroceres desde a fundação, em 1945. A empresa deslanchou a partir de 1950, quando se associou ao grupo americano Rockfeller para desenvolver milho híbrido. Atualmente, o grupo é formado por seis empresas – de ração, genética suína, genética de aves, palmito, sementes e formicidas.