Da Redação 22/09/2005 – Os executivos da Sadia costumam dizer que a empresa nunca saiu totalmente do negócio carne bovina, mesmo tendo se desfeito de duas unidades de abate de gado bovino e arrendado outra a terceiros no início dos anos 1990. Assim, eles não gostam muito quando o termo “retorno” ao setor é utilizado. Mas é exatamente disso que se trata.
A partir do dia 27 deste mês, a empresa – líder na exportação de carne de aves e de suíno – assumirá as operações de abate de gado bovino na unidade de Várzea Grande (MT), que estava arrendada para o Friboi desde 2000. Pelo acordo entre as duas empresas, o Friboi fornecia à Sadia cortes de dianteiro utilizados na produção de industrializados, como hambúrguer e salsicha. O frigorífico também chegou a fornecer cortes de traseiro à Sadia para exportação a partir da metade do ano passado.
Mas o contrato com o Friboi, que venceu já no ano passado, não foi renovado e agora a Sadia fará toda a operação e pretende exportar 80% a 90% da produção de cortes de traseiro resultante do abate de 1.000 animais por dia em Várzea Grande, segundo Alfredo Felipe da Luz Sobrinho, diretor de relações institucionais da empresa. Os cortes de dianteiro bovino continuarão sendo destinados à planta de industrializados de Várzea Grande.
De acordo com Felipe da Luz, alguns mercados onde a empresa já vende carnes de frango e suína, como a Rússia, por exemplo, têm interesse em comprar carne bovina da Sadia, um dos motivos que levou a companhia a retomar o negócio. A empresa também pretende exportar cortes bovinos a países do Oriente Médio e da região do Cáucaso.
A operação de Várzea Grande – unidade que recebeu investimentos de R$ 30 milhões para modernização – deve permitir à Sadia elevar em 50% a receita com as exportações de carne bovina no período de três anos, segundo Felipe da Luz. No primeiro semestre deste ano, as exportações totais de carnes da empresa somaram R$ 2 bilhões, sendo que 2% correspondem à carne bovina.
O executivo diz que o avanço das exportações brasileiras de carne bovina nos últimos anos foi determinante na decisão da Sadia, mas a redução da informalidade no setor de frigoríficos e a melhoria nas condições sanitárias da pecuária no Brasil também foram importantes.
Foram exatamente esses dois fatores que levaram à Sadia a deixar o setor de carne bovina no início dos anos 1990. “O mercado era pouco atraente, havia muita informalidade e o país ainda enfrentava muitos problemas com aftosa”, observa Felipe da Luz. Com isso, a Sadia vendeu suas unidades de abate de Andradina (SP) e Barra do Garças (MT) para o Friboi. Inicialmente, Várzea Grande foi arrendada pelo Frigoverde e em 2000, foi alugada também pelo Friboi.
Felipe da Luz afirma que o acordo que a Sadia tem com o frigorífico Minerva – que fornece cortes para exportação – deve ser mantido mesmo com a retomada das operações de abate.
Por conta da decisão da Sadia de não renovar o contrato com o Friboi, o frigorífico – que é o maior exportador de carne bovina do país – teve de buscar alternativas para manter o volume de produção no Mato Grosso. Assim, em agosto passado, comprou uma unidade industrial do Frigomarca, em Pedra Preta (MT), e arrendou uma fábrica que era operada pelo mesmo frigorífico em Rondonópolis (MT).
No setor de carne bovina, a volta da Sadia ao mercado é vista com bons olhos, de uma maneira geral, por ser uma grande empresa, reconhecida no exterior e no mercado interno. Isso, de certa forma, melhora a imagem do setor, que até alguns anos apresentava grande informalidade e que recentemente foi afetado por casos como o do Margen, acusado de sonegação.