Redação AI 13/09/2005 – O parecer de Bernard Vallat, diretor-geral da Organização Internacional de Epizootias (OIE), sobre a influenza (ou gripe) aviária é um tanto assustador: “Evitar a introdução da influenza por aves selvagens é impossível”, reconhece.
Diante dessa fatalidade, o que um país como o Brasil pode fazer para reduzir os riscos da doença? “A principal medida para reduzir os riscos é ter um boa rede de serviços veterinários que permita a detecção rápida da doença em todos os países do mundo. Porque uma vez que a doença apareça em um plantel, se o país consegue detectá-la imediatamente, a doença é bloqueada. Se um país leva três ou quatro dias para descobrir a doença, ela se espalha e então é impossível erradicar”, afirma o principal executivo da OIE, órgão responsável por fornecer expertise e assegurar transparência sobre a situação das doenças animais no mundo em entrevista ao Valor .
Além da detecção rápida, diz Vallat, o sistema também deve ser capaz de dar uma resposta rápida ao problema, por meio de medidas como sacrifício de aves infectadas, restrições de trânsito dos animais, vazio sanitário e vigilância.
Outra das poucas certezas, além de que não se pode impedir a eventual contaminação por meio dos pássaros selvagens, é que a influenza aviária pode gerar grandes perdas para os países exportadores de frango, como já ocorreu com países asiáticos, onde a cepa letal da doença — o H5N1 – surgiu em 2003 e levou ao sacrifício de milhões de aves e matou cerca de 60 pessoas.
Aliás, a epidemia de influenza aviária – que cientistas temem que vire uma pandemia – chama a atenção pelas interrogações que tem trazido à tona. O próprio Vallat revela algumas delas. Segundo ele, os especialistas da OIE ainda não sabem quais os riscos de o vírus de alta patogenicidade da gripe aviária atingir outras regiões do mundo depois de ter chegado a Ásia em 2003 e a Sibéria, em julho passado. “É difícil avaliar o risco para outras regiões do mundo”, admitiu.
Para tentar descobrir mais sobre a influenza, uma equipe de especialistas da OIE vai à Sibéria, onde, em conjunto com o governo russo, fará um levantamento sobre todas aves migratórias da região para avaliar que tipo de pássaro pode estar infectado e para onde migrarão na primavera e no outono. “O risco é de que algumas aves infectadas na Sibéria vão para outros continentes, onde podem infectar outras aves, que podem ir para Europa ou América”, afirmou.
O que se sabe até agora é que muitos pássaros que estão na Sibéria vão migrar para outras regiões do globo, como América do Norte, África e Oriente Médio. A OIE vai avaliar se as aves que deixarem a Sibéria podem infectar outras aves em outras regiões e se essas últimas podem migrar para outras regiões. “Isso poderia se tornar um problema mundial”, alerta.
E para que a influenza aviária não se torne um problema mundial, a OIE defende ajuda financeira aos países pobres para que possam se prevenir contra a doença. “É do interesse de todos, não apenas de um país”, argumentou Vallat. Segundo o diretor-geral da OIE, o órgão, representantes do Banco Mundial, União Européia, Organização Mundial do Comércio (OMC) e de países doadores vão se reunir em novembro, em Genebra, para tratar do tema. Segundo ele, a UE e o Banco Mundial já aceitaram investir recursos em países pobres para prevenção.
Vallat estima que serão necessários US$ 500 milhões para o programa. “É nada comparado às perdas vistas na Ásia. Prevenir é mais barato do que erradicar quando a doença já está no país”.
Apesar de reconhecer que os países têm de estar preparados para uma eventual pandemia em humanos, Vallat defende que se houver mais recursos para serviços veterinários dos países para controlar as doenças animais, estar preparado para uma pandemia deixa de ser prioridade. “Se a doença for erradicada, a pandemia não irá ocorrer”, atesta.
Não à toa, a informação de que os recursos para sanidade no Brasil estão mais restritos este ano deixa Vallat claramente preocupado. “Se Brasil quiser continuar sendo o maior exportador mundial de carne é importante melhorar e investir nos serviços veterinários. Porque no caso de uma crise nacional de aftosa ou influenza aviária, o Brasil poderia perder todas as exportações”, previu. Apesar disso, Vallat destacou que no que diz respeito à aftosa, a situação na América do Sul está melhorando ano após ano, incluindo no Brasil.