Redação AI 04/08/2005 – Uma epidemia global da gripe do frango poderia ser detida em sua fonte, impedindo milhões de mortes, se as autoridades de saúde agirem rápido o bastante, disseram duas equipes de pesquisa multinacionais nesta quarta-feira (3/8).
Mas elas alertaram que o controle da doença –que surgiu no Centro e Sudeste Asiático há mais de 20 meses e se aproximou ainda mais da Europa nesta semana– exigirá não apenas um rápido reconhecimento da epidemia, mas a disponibilização imediata de até 3 milhões de doses de medicamentos preventivos.
Outros especialistas em saúde pública consideraram as previsões otimistas demais, dada a comunicação deficiente nos países em desenvolvimento, pequenos estoques de medicamentos e a demora para fabricação de vacinas.
Os pesquisadores, publicados na revista “Nature” e no site da revista “Science”, disseram que suas análises devem ser consideradas como um alerta para as dificuldades na contenção da gripe em vez de uma permissão para relaxar a vigilância global.
“A conclusão não é, ”Nós podemos conter isto na fonte, então ninguém deve se preocupar””, disse a dra. Elizabeth Halloran, uma bioestatística da Escola Rollins de Saúde Pública da Universidade Emory e co-autora do estudo da “Science”.
“Eu não subestimaria os obstáculos”, concordou o dr. Neil Ferguson, um biólogo computacional da Imperial College em Londres e principal autor do trabalho da “Nature”. “A chave é a colaboração e o compromisso internacional.”
A análise deles examina a ameaça da gripe avícola H5N1, uma variedade altamente letal de gripe que geralmente afeta apenas aves e aves aquáticas, mas que desde o final de 2003 já contaminou 109 seres humanos, matando pelo menos 55. A doença continua avançando na direção oeste: ela foi encontrada no oeste da China em julho e nesta semana as autoridades na Sibéria e no Cazaquistão sacrificaram milhares de aves para detê-la.
Especialistas em saúde pública temem que, se a H5N1 começar a ser transmitida mais facilmente entre as pessoas, ela poderá matar milhões e devastar economias nacionais.
As duas equipes, ambas financiadas por um projeto dos Institutos Nacionais de Saúde para a previsão por computador da disseminação de doenças, usaram modelos estatísticos sofisticados contendo dados demográficos detalhados para rastrear uma hipotética epidemia de gripe avícola.
Ambos presumiram que o início da epidemia seria um único caso na área rural da Tailândia, que as autoridades tomaram conhecimento da epidemia entre 7 e 21 dias após o primeiro caso ter desenvolvido os sintomas, e que a gripe era infecciosa o suficiente para que cada paciente adoecesse de 1 a 2,4 outros.
A análise de Halloran e do antigo parceiro de pesquisa, o dr. Ira Longini, envolvendo uma área rural de 500 mil pessoas, revelou que a epidemia poderia ser contida com 100 mil a 1 milhão de doses de Tamiflu, um medicamento que pode prevenir a infecção ou tornar os sintomas mais brandos.
A contenção da gripe poderia ser mais bem-sucedida se as autoridades também empregassem quarentena ou uma vacina, mesmo que a vacina não ofereça proteção completa, eles disseram.
Fergusson e os co-autores expandiram a análise para incluir toda a Tailândia, 85 milhões de habitantes, e presumiram que uma vacina não estaria disponível. Eles estimaram que para o controle seriam necessárias até 3 milhões de doses de Tamiflu e enfatizaram que as quarentenas seriam cruciais.
Especialistas em saúde pública não ligados à pesquisa disseram que o Tamiflu –o único medicamento antiviral que funciona de forma comprovada contra o H5N– será a variável mais importante na tentativa de deter uma pandemia de gripe.
O medicamento reduz o impacto da gripe se tomado duas vezes ao dia por cinco dias, e pode prevenir a gripe se tomado diariamente por até seis semanas durante um surto. Ele é fabricado por uma única empresa, a Roche da Suíça, em um único laboratório europeu, apesar de haver planos para um segundo laboratório na Carolina do Sul.
E com a ameaça de gripe avícola, ele está em alta demanda. Os Estados Unidos, que possuem cerca de 2 milhões de doses, planejam há meses comprar mais 3 milhões. O secretário de Saúde e Serviços Humanos, Michael Leavitt, disse nesta semana que aumentará a encomenda para 20 milhões.
Trinta países encomendaram o medicamento, disse o porta-voz da Roche, Terence J. Hurley, na quarta-feira. Muitos estão encomendando doses suficientes para tratar pelo menos 20% de sua população, disse Hurley. O atual estoque dos Estados Unidos cobre cerca de 1%.
O estoque da Organização Mundial de Saúde, o primeiro que será usado em caso de início de uma pandemia, é de 120 mil doses.
Tradução: George El Khouri Andolfato