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Transgênicos devem ser testados, diz pesquisadora

Entidade brasileira tem interesse em desmistificar os organismos geneticamente modificados.

Da Redação 11/06/2002 – A Associação Brasileira da Indústria Alimentícia (Abia) reafirmou ontem seu interesse na “desmistificação” dos organismos geneticamente modificados (OGMs). Para tanto, promoveu um seminário com juristas e geneticistas.

A doutora em genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Maria Helena Zanettini, afirmou que é difícil provar que um alimento faz mal, independente do fato dele ser ou não transgênico. “Todos os produtos têm que ser testados antes de serem liberados para a comercialização. Vai demorar muito tempo até que se prove se faz mal ou não. Isso não é diferente no caso dos OGMs”, afirmou.

A área mundial de cultivo de OGMs cresceu 19% no ano passado. Em 2000, a área era de 44,2 milhões de hectares, passando, em 2001, para 52,6 milhões. “Essa é uma tendência observada ano a ano e deve obter o mesmo nível de elevação este ano”.

Segundo a pesquisadora, países da Europa já têm grandes áreas de testes de campo, onde esses organismos são testados. “Tanto se diz que o mercado europeu não gosta dos transgênicos, mas podemos observar que países como a França têm 510 campos sendo testados”.

O país que possui a maior área plantada no mundo são os Estados Unidos, com 35,7 milhões de hectares. A Argentina é a segunda maior produtora de transgênicos, com 11,8 milhões de hectares, seguida do Canadá, com 3,2 milhões de hectares.

“A Argentina, até há pouco tempo, não tinha quase nenhum cultivo. Agora se apresenta como a segunda maior produtora, pois percebeu as vantagens que esse tipo de cultivo proporciona”.

Prós e contras – Segundo Maria Helena, os OGMs proporcionam, além de um aumento de produtividade, a melhoria da qualidade dos produtos. Um exemplo é o arroz cultivado nos Estados Unidos que foi acrescido de um gene do feijão, ficando rico em ferro.

“A FAO, órgão da Organização das Nações Unidas que cuida da agricultura mundial, diz que reconhece que a biotecnologia é um poderoso instrumento para aumentar a produtividade e reduzir o déficit alimentar que deve se instalar no mundo até 2020”, declarou.

O Greenpeace, organização ambientalista, discorda da posição da pesquisadora. Segundo a coordenadora de campanha de engenharia genética da entidade, Mariana Paoli, o problema da fome é social e não relativo à questão dos transgênicos. “A Argentina, por exemplo, bate recordes de exportação e seu povo está praticamente passando fome com a crise do país”.

O Greenpeace divulgou ontem um relatório onde mostra que o Brasil tem uma oportunidade de ouro para capitalizar vantagens de mercado por ser o único dos três maiores países produtores de soja que não liberou o plantio e a comercialização de organismos geneticamente modificados.

Segundo o relatório, o volume de embarques de soja dos Estados Unidos, de 1996 até 2000, caiu de 9,2 milhões de toneladas para 6,8 milhões de toneladas desde a introdução do grão transgênico naquele país.

Em contrapartida, as exportações de soja brasileira para a Europa cresceram de 3,1 milhões de toneladas, para 6,3 milhões de toneladas no mesmo período. Segundo Mariana, a maior parte da soja importada pela UE é destinada a ração animal. “Os criadores de bovinos, aves e suínos estão preocupados com a qualidade da carne a ser consumida na Europa, por isso, preferem os nossos grãos”.