O relatório mais recente do Rabobank Agrinfo revelou que o cenário externo apresenta desafios para o setor agrícola brasileiro. Diversos fatores, como o processo de aperto monetário nas economias avançadas, a inflação persistente, a valorização do Real, a possível ocorrência do fenômeno climático El Niño e os riscos fiscais globais. Esses elementos podem afetar os preços das commodities agrícolas, a política monetária do Banco Central do Brasil, as exportações brasileiras e a infraestrutura do país, gerando um ambiente desafiador para o setor agrícola.
Nas economias avançadas, o processo de aperto monetário está se aproximando do fim, o que traz incertezas para os mercados globais. Nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed) optou por manter as taxas de juros inalteradas para equilibrar a inflação persistente e evitar uma crise bancária. Enquanto isso, na Europa, o Banco Central Europeu (BCE) se aproxima do fim do ciclo de aumento de juros, apesar da pressão inflacionária persistente.
No Brasil, os dados recentes indicam uma maior acomodação da inflação, principalmente devido ao declínio nos preços das commodities agrícolas e metálicas, além da valorização do Real. No entanto, prevê-se um cenário desafiador para a inflação no segundo semestre, sem o efeito da desoneração dos combustíveis, um mercado de trabalho ainda aquecido e o risco do fenômeno climático El Niño.
O Banco Central do Brasil (BCB), em sua sétima reunião consecutiva, manteve a taxa Selic em 13,75% a.a., pois as projeções de inflação e as expectativas do mercado permanecem acima da meta. Prevê-se que o afrouxamento da política monetária comece apenas na reunião de novembro de 2023, levando a taxa Selic a 12,50% a.a. em dezembro de 2023 e a 10,00% a.a. em dezembro de 2024. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro foi impulsionado pelo setor agrícola e pela safra recorde de grãos no primeiro trimestre de 2023. No entanto, os efeitos da política monetária serão sentidos nos próximos trimestres, resultando em uma perda de tração nos investimentos e um crescimento esperado do PIB de 2,3% em 2023 e 1,4% em 2024.
No contexto global, o fim iminente do aperto monetário pelos principais bancos centrais tem levado os investidores a buscar retornos mais altos nos juros latino-americanos. A aprovação de reformas pragmáticas, como o novo arcabouço fiscal, tem contribuído para a melhora dos prêmios de risco domésticos. A balança comercial brasileira continua registrando superávits recordes devido à safra agrícola recorde. No entanto, há possibilidade de uma reprecificação do ciclo monetário global, o que pode afetar o Real, com previsão de ser negociado em 5,05 em dezembro de 2023 e 5,15 em dezembro de 2024.
Soja: mercado brasileiro tem preços em queda
No que diz respeito à soja, o relatório destaca que os preços no mercado brasileiro tiveram uma queda maior em comparação com o mercado internacional nos últimos 12 meses. A safra recorde de soja no Brasil, combinada com preços menores no mercado internacional e uma menor contribuição do câmbio e do prêmio, resultou na redução dos preços da oleaginosa no mercado nacional. Estima-se que a safra de soja atingiu 155 milhões de toneladas, um aumento de 27 milhões de toneladas em relação à safra anterior. As exportações também alcançaram um volume recorde de 49 milhões de toneladas entre janeiro e maio de 2023.
Milho: previsão de safra recorde
Para o milho, o relatório destaca que o Brasil colherá uma safra recorde do cereal devido às excelentes condições das lavouras. A disponibilidade da soja em grão para a safra 2022/23 e as expectativas de uma safra recorde nos Estados Unidos pressionaram os preços internos do milho. A China cancelou os embarques de milho dos EUA devido ao aumento da estimativa da safra brasileira e à busca por preços mais atrativos. As exportações brasileiras de milho atingiram patamares recorde em 2023, com previsão de chegar a 50 milhões de toneladas.
Em resumo, o mercado agrícola brasileiro enfrenta desafios em decorrência do cenário externo e das variáveis econômicas. A safra recorde de soja e milho no Brasil, combinada com a perspectiva de uma safra recorde nos Estados Unidos, resulta em pressões nos preços desses produtos. A infraestrutura do país, incluindo a capacidade de armazenagem de grãos e os portos, será testada em meio a uma competição acirrada no mercado. Além disso, fatores como o clima e os riscos fiscais globais influenciarão a volatilidade dos preços no mercado agrícola.