Plantada sob as incertezas do mercado internacional de commodities, a nova safra brasileira de grãos deve enfrentar um cenário de preços em baixa no ciclo 2009/10, segundo consenso apresentado ontem por analistas do Brasil, Argentina e Estados Unidos na Bienal da Agricultura, em Cuiabá (MT).
As variáveis mais importantes serão, segundo essa avaliação, a confirmação da recuperação econômica mundial, sobretudo nos EUA, e a manutenção do apetite da China. A safra americana cheia, os altos estoques asiáticos, a expansão das lavouras brasileiras e a forte retomada da produção na Argentina devem pressionar o mercado futuro de soja para baixo.
Para desalento dos produtores, o consultor Darin Newson, da americana DTN, aposta em preços de US$ 6 por bushel (27,3 kg). “Pode haver uma queda dramática. A soja está sob pressão substancial”, avalia. Segundo ele, as posições dos “hedge funds” podem influenciar a formação dos preços internacionais. A previsão de Newson para o milho foi ainda mais negativa: o bushel poderia recuar a US$ 2. “A demanda está fraca, inclusive para etanol, os estoques são altos e a produção americana é a segunda maior da história”, avalia. No algodão, o cenário não muito animador aponta para US$ 0,47 a US$ 0,51 por libra-peso.
A forte quebra da safra argentina de soja, que ajudou a manter as cotações em níveis altos na safra passada, se transformará num crescimento histórico de 23 milhões de toneladas em apenas uma safra. “Sairemos de uma safra de 32 milhões para 55 milhões de toneladas”, afirmou o consultor platino Pablo Adreani, da AgriPAC. A colheita de soja na América do Sul, segundo ele, baterá recordes e somará milhões de toneladas à super-safra americana. A demanda chinesa, motor dos bons preços até agora, tende a arrefecer no médio e longo prazos. A China comprou 43 milhões de toneladas de soja até julho. O ano deve fechar acima de 45 milhões de toneladas. “Eles anteciparam as compras, mudaram sua estratégia de estoques baixos para muito altos”, analisa o consultor André Pessôa, da Agroconsult. Haverá um excedente de 6 milhões de toneladas na China, segundo ele.
A previsão de clima bom, com chuvas acima da média no Sul e normais no Centro-Oeste, a safra brasileira de soja deve atingir 65 milhões de toneladas em 2009/2010, diz Pessôa. O Brasil elevará em até 1 milhão de hectares a área plantada. E os estoques devem ficar em níveis elevados. Para ele, o drama será um pouco menor do que o previsto pelo colega americano. A cotação da soja deve cair a US$ 8 por bushel. “Deve haver um excesso de oferta e margens baixas para quem não vendeu antes ou comprou insumos antecipados”, avalia o consultor. Ele reivindica a atuação do governo via subsídios ao frete e soluções futuras para garantir fertilizantes.
Os produtores brasileiros estão motivados pela redução dos custos de produção, mas podem ter problemas com importação de fertilizantes e custos de “demurrage” nos portos. A relação de troca positiva, que caiu de 36 para 25 a 30 sacas por hectare, encoraja o produtor a plantar. Para o milho, Pessôa prevê demanda melhor apenas no segundo semestre de 2010.