A estrutura de controle acionário “difuso” da BRF-Brasil Foods, garantida pelo Novo Mercado, permite o crescimento da companhia de forma muito mais ágil e segura. A avaliação é de Leopoldo Saboya, diretor financeiro e de relações com investidores da Brasil Foods. Ele participou, no Rio, de painel sobre reorganizações societárias no seminário “Os desafios do Novo Mercado”, promovido pela BM&FBovespa.
“O Novo Mercado, por ser uma categoria distinta de listagem de empresas (em bolsa), permite acesso mais rápido e pleno ao mercado de capitais. E isso acelera e traz dinâmica interessante para aquisições, fusões e diferentes alianças estratégicas que vão continuar (a existir) na trajetória da Brasil Foods”, disse o executivo.
A BRF-Brasil Foods prepara-se para fazer a integração de Sadia e Perdigão, processo que ainda depende de aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). “Ainda não existe previsão exata do que será a recomendação (dos órgãos de defesa da concorrência em relação à fusão), nem de tempo para que isso aconteça”, disse o executivo.
A deliberação do Cade sobre a associação entre Perdigão e Sadia na BRF é o último de três processos simultâneos sobre o tema, disse Saboya. Os outros dois processos, já concluídos, foram a incorporação de ações dos donos da Sadia e dos demais acionistas da empresa à nova companhia e a capitalização da Perdigão. A operação consistiu em uma oferta primária de ações que capitalizou a empresa em R$ 5,3 bilhões para permitir equacionar a situação financeira da Sadia.
Segundo Saboya, a tendência do grupo é chegar ao fim do ano com uma dívida bruta entre R$ 8 bilhões e R$ 9 bilhões. Como a empresa está pagando dívidas de curto prazo, diminui o dinheiro em caixa mas, simultaneamente, o endividamento cai, observou.
“Na área financeira existe deliberação do Cade de que o equacionamento da dívida da Sadia é feito de forma conjunta. Todos os demais aspectos continuam independentes”, disse Saboya. Ele afirmou que neste momento o processo de fusão está em análise pela Secretaria de Direito Econômico (SDE), ligada ao Ministério da Justiça, e pela Secretaria de Acompanhamento Econômico (SEAE), do Ministério da Fazenda. Em uma segunda fase, o processo chegará ao Cade. “Para chegar onde estamos, muita água rolou por debaixo da ponte”, disse Saboya.
O executivo avaliou que fusões entre empresas, feitas a partir da incorporação de ações, costumam envolver outros aspectos tão ou mais complexos que a relação de valor. “Há uma enormidade de assuntos que podem ser fatores de quebra do negócio maior que o próprio preço”, disse o executivo. Ele citou como exemplo questões de governança, definição sobre nomes para ocupar presidência e vice-presidência, o local da sede e o nome da nova empresa.
Segundo ele, nos três últimos anos, a antiga Perdigão (atual BRF) conduziu uma série de fusões e aquisições. O Novo Mercado funcionou, segundo ele, como alavanca desse crescimento. Foram nove aquisições que geraram uma receita total de R$ 15,6 bilhões. Os investimentos nessas empresas foram de R$ 6,2 bilhões. E no total a empresa fez três emissões primárias de ações que somaram R$ 7 bilhões.