O crédito que alguns dos fornecedores do Frigorífico Independência têm nos bancos para manter sua atividade está prestes a acabar e eles continuam sem receber sua dívida, que totaliza R$ 172,4 milhões – o que equivale a 5,6% do valor total da dívida. A assembleia que definiria a aceitação do plano de recuperação judicial da empresa não pôde ser instalada por falta de quórum dos credores trabalhistas e foi remarcada para a próxima segunda-feira. Pelas regras, deveriam estar representados credores que juntos somem mais de 50% da dívida em três categorias: trabalhistas, com garantia real e quirografários, representados em 17,18%, 45,06% e 87,87%, respectivamente. A terceira classe, com quase 90% da participação, estão enquadrados os pecuaristas.
“Sem gado, o frigorífico não funciona e se não aceitarem nossa proposta estamos dispostos a pedir a falência da empresa”, afirma o superintendente da Associação dos Criadores do Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vacari.
O pedido de recuperação judicial do Independência foi feito há sete meses e até agora não nasceu uma solução para o problema. De lá para cá fornecedores viram suas opções de venda se enxugarem para três, dois, e em muitos casos, apenas um frigorífico comprador. Negociar a comercialização só à vista tem sido difícil, mas em alguns casos a única opção para quem foi marcado para sempre pela desconfiança. Marcos da Rosa, presidente da Comissão dos Credores dos Frigoríficos em Recuperação Judicial de Mato Grosso, tem usado o crédito da família junto aos bancos para conseguir se manter na atividade. Suas vendas estão concentradas na JBS Friboi e na Marfrig, sendo que com a última não conseguiu fechar negócios para vendes apenas a vista. Ele fez sua primeira e, com claro, a última venda para o Independência na mesma semana que a empresa entrou com o pedido de falência. Ele tem R$ 177,8 mil a receber da companhia. Como se não fosse azar suficiente o mesmo pecuarista aguarda a assembléia do Frigorífico Arantes do qual é credor de R$ 300 mil, aproximadamente.
“No caso do Independência a dívida no mercado financeiro é de R$ 3 bilhões e os bancos não vão querer perder. Eles vão nos pressionar para aceitar o acordo, mas nós não vamos e se for o caso eles terão que pedir falência”, afirma da Rosa.
O presidente da Comissão dos Credores conta que tem usado o crédito que sua família adquiriu com os bancos ao longo do ano para conseguir novos financiamentos. “Poderia estar usando esse dinheiro para expandir meu negócio, gerar novos empregos, mas está indo tudo para tapar o furo que os frigoríficos causaram”, disse.
No segmento de carnes o Independência mantém em operação atualmente as plantas Rolim de Moura, em Rondônia, e Janaúba, em Minas Gerais. Pelo Plano de Recuperação Judicial está prevista entre janeiro e abril de 2010 a reativação das unidades de Pontes e Lacerda e Juína, no Mato Grosso, Pires do Rio e Senador Canedo, em Goiás, Presidente Venceslau, em São Paulo, Anastácio e Nova Andradina, no Mato Grosso do Sul. Em janeiro de 2011, a empresa pretende retomar os abates em Campo Grande (MS)
Ainda assim, fornecedores dessas plantas vivem de sobressalto. Durante a assembléia alguns manifestaram preocupação quanto à manutenção das atividades do parque industrial mineiro. Atualmente o nível de abate no local é de cerca de 420 cabeças/dia, sendo que a capacidade total é de 1,5 mil cabeças/dia.
Os confinadores também estão com uma situação comprometedora, segundo palavras de Ricardo Merola, presidente da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon). Seus associados têm cerca de R$ 20 milhões para receber do Frigorífico. “O pecuarista não quer e não pode abrir mão de receber a vista”, avalia Merola.
A Assembléia Geral do Frigorífico Estrela, marcada para hoje (29/09), em Estrela d’Oeste, em São Paulo, foi remarcada para 13 de novembro. A empresa deve cerca de R$ 300 milhões, sendo R$ 85 milhões para pecuaristas e fornecedores. O processo judicial do Quatro Marcos continua percorrendo a Comarca de Barueri, mas seu presidente compareceu na assembléia do Independência como credor.