O Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) avalia aumentar sua participação acionária no capital do grupo alimentício Marfrig. Por meio de sua subsidiária BNDES Participações, o banco estatal de fomento considera elevar sua fatia para além dos 14,66% atuais.
“O BNDES, como acionista, tem o direito de manter sua participação na proporção que hoje já detém. Estamos analisando manter ou eventualmente aumentar essa participação”, afirmou ontem o gerente de acompanhamento e gestão de carteira da área de mercado de capitais do BNDES, André Salcedo Teixeira Mendes, durante audiência pública na Comissão de Agricultura da Câmara.
“Consideramos meritória essa fusão Seara e Marfrig e analisamos participar com um percentual desse aumento de capital”, disse o executivo. A Marfrig anunciou, no início de outubro, uma oferta pública primária de ações com o objetivo de captar até R$ 1,4 bilhão no mercado.
Os negócios do banco com o grupo já são antigos. Em 2007, a BNDESPar adquiriu, em oferta pública inicial (IPO), cerca de 4% do capital da Marfrig. Em outubro de 2008, elevou sua fatia aos 14,66% do capital da empresa. De lá para cá, a Marfrig ganhou musculatura e comprou diversos concorrentes nos segmentos de carne de frango, suínos e cordeiro. Sua mais recente aquisição, a Seara Alimentos, que pertencia à americana Cargill, garantiu a segunda posição no ranking nacional de aves e suínos, atrás apenas da Brasil Foods, fusão entre as tradicionais Perdigão e Sadia.
“O BNDES não participou da decisão da aquisição da Seara. Apesar de determos 14% de participação na empresa, não temos nenhum membro eleito no conselho da Marfrig. É uma decisão estratégica da empresa”, explicou André Mendes.
A tendência, segundo informou o gerente do BNDES aos parlamentares, é uma ampliação dos investimentos do banco estatal no setor de alimentos. Em 2005, a BNDESPar tinha apenas 0,3% de sua carteira centrada neste setor. Hoje, os investimentos somam 6%. “A BNDESPar viu, alguns anos atrás, uma oportunidade de diversificar atuação no mercado de capitais por meio de investimentos no setor de alimentos”, disse André Mendes.
A reunião na Câmara foi convocado justamente para debater os efeitos colaterais da compra da Seara pela Marfrig, que ainda será avaliada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Os parlamentares questionaram os planos da Marfrig em relação aos produtores integrados e aos consumidores.
“Não podemos deixar os pequenos avicultores sem amparo nem deixar que os consumidores paguem a conta de uma concentração excessiva no setor de carnes”, apelou o deputado Odacir Zonta (PP-SC). Em defesa da estratégia da Marfrig, o diretor da divisão de aves e suínos, José Mayr Bonassi, garantiu aos parlamentares que a empresa planeja financiar a ampliação dos aviários e aumentar a produção para preservar a marca Seara.
“Ninguém é mais interessado em garantir os produtores do que nós. Mais de 80% querem construir um segundo aviário e já temos convênio com o Banco do Brasil para garantir esses financiamentos”, informou o executivo. Ele afirmou que os planos da Marfrig para a Seara incluem a exportação de metade da produção e a manutenção dos 33,5 mil funcionários da empresa. E prometeu acirrar a concorrência com a líder BRF.
“Não seria racional aceitar uma fatia de 6% ou 7% quando a líder tem 60% ou 70% do mercado. Vai aumentar essa concorrência e o consumidor é quem vai ganhar”, disse Bonassi, fundador da gaúcha Mabella Carnes, indústria de suínos recentemente comprada pelo Marfrig.