Uma recente pesquisa conduzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) chama a atenção ao revelar que o Brasil abriga uma quantidade superior de bovinos do que de cidadãos. Enquanto a população nacional gira em torno de 203 milhões de indivíduos, o estudo destaca a presença de 234,4 milhões de cabeças de gado no país. Essa discrepância, embora ressalte a importância econômica do setor, levanta questionamentos sobre os impactos ambientais associados a essa diferença.
O Brasil, beneficiado por aproximadamente 388 milhões de hectares de terras cultiváveis, clima propício e abundância de recursos hídricos e renováveis, tem uma longa história de relevante participação econômica no agronegócio. Este setor, que atualmente representa cerca de um terço do Produto Interno Bruto (PIB), enfrenta desafios consideráveis, especialmente no que diz respeito à emissão de gases do efeito estufa (GEE), com quase 70% dessas emissões originadas no setor pecuário, conforme dados do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG).
“A agropecuária é uma das maiores responsáveis pela emissão de gases do efeito estufa”, destaca Arlindo Philippi Junior, professor da Faculdade de Saúde Pública e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP.
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Implicações Ambientais e Legislação
O Código Florestal de 2012 (Lei nº 12.651) surge como a legislação mais recente a abordar a proteção da vegetação nativa e a necessidade de promover a sustentabilidade ativa. Apesar de críticas apontando retrocessos ambientais, especialistas destacam sua importância para avanços como o registro do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e a aplicação do Programa de Recuperação Ambiental (PRA).
Reservas e Proteção Ambiental
Arlindo Philippi Junior destaca características singulares na produção agropecuária brasileira, como a imposição da reserva ambiental obrigatória, que determina uma reserva legal de 20% em todas as propriedades rurais. Além disso, a presença de outras reservas, como florestas nacionais e parques, evidencia o compromisso do país com a proteção ambiental.
Tecnologia e Desafios Persistentes
Philippi Junior enfatiza o papel da tecnologia e do conhecimento científico na multiplicação dos resultados da produção agrícola, com avanços nos processos e uma considerável quantidade de informações sobre atividades e cuidados ambientais. No entanto, ressalta que persistem problemas, como os desafios no transporte da produção, com regiões enfrentando sérias dificuldades.
Empresas e Sustentabilidade
Apesar dos avanços, setores da agricultura e pecuária apresentam problemas permanentes que prejudicam o avanço produtivo e o desenvolvimento sustentável. Philippi Junior destaca a importância do transporte eficiente na redução de emissões, salientando disparidades regionais que afetam o uso de mais caminhões e, consequentemente, o aumento de emissões de carbono.
Responsabilidade Setorial e Desafios Futuros
O Brasil já abriga um número significativo de empresas no setor do agronegócio, muitas adotando boas práticas ambientais, vinculadas ao Environmental Social Governance (ESG). Contudo, segundo Philippi Junior, é essencial considerar a escala de cada empresa no debate sobre sustentabilidade, com as grandes tendo capacidade de contratar especialistas para planejamento ambiental, enquanto os pequenos empresários necessitam do apoio estatal para adotar práticas sustentáveis.
Educação e Saúde: Papel do Estado e Empregadores
O futuro sustentável exige uma análise cuidadosa da responsabilidade de diferentes setores na promoção da sustentabilidade. Philippi Junior destaca a necessidade de políticas públicas para fornecer educação qualificada, especialmente para os pequenos empresários que, muitas vezes, carecem de conhecimento para agir corretamente. Além da capacitação, o professor ressalta a importância da saúde das comunidades trabalhadoras, destacando a obrigação do empregador e do Estado em fornecer serviços de saúde essenciais vinculados à assistência básica.
Educação Familiar e Mobilidade
Outro ponto crucial para a discussão é a necessidade de fornecer educação às famílias, garantindo condições para que seus filhos possam frequentar escolas regularmente, considerando também a mobilidade associada ao local. Philippi Junior enfatiza a obrigação do Estado em garantir que empresas, independentemente do tamanho, ofereçam produtos competitivos internacionalmente, respeitando as normas ambientais e de sustentabilidade exigidas pelo mercado global.
Fonte: Jornal USP