O trigo tem sido a boa nova da agricultura nacional. A confluência do desenvolvimento de novas tecnologias de plantio e um mercado mundial em alta têm transformado o mapa de produção.
A safra plantada no último inverno está com cerca de 30,6% da colheita realizada, segundo o superintendente de estudos de mercado e gestão da oferta da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Allan Silveira, e deverá alcançar 9,3 milhões de toneladas, volume cerca de 20% superior ao da safra anterior. De 2017 a 2022, a safra cresceu 199,5% em volume, enquanto a área plantada teve um incremento de 58,2%.
A Associação Brasileira das Indústria de Trigo (Abitrigo) aposta que a safra será um pouco superior, alcançando 10 milhões de toneladas. Seja qual for a colheita, o salto na produção chama a atenção. Boa parte desse resultado se deve ao trabalho de pesquisa desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) nos últimos anos.
Os trabalhos mais recentes passam pelo desenvolvimento de variedades modificadas geneticamente onde se insere um gene de girassol, planta que apresenta maior tolerância à seca, transmitindo essa característica à nova planta, explica o presidente da Embrapa, Celso Moretti. Já é realidade no país a colheita de um tipo de trigo tropical na Bahia, Ceará e Roraima, que abre mercado para o cereal e para a venda de tecnologia genética nacional.
O trigo deve seguir o mesmo caminho visto na soja, aposta Moretti. “Pelo menos 4 milhões de hectares de áreas consolidadas no Cerrado são aptas para a produção de trigo e poderão ser incorporadas”, completa o presidente da Embrapa.
O presidente-executivo da Abitrigo, embaixador Rubens Barbosa, tem a mesma percepção. O país vai ampliar a produção e se firmar como exportador, diz. “Os moinhos seguirão importando por conta da qualidade e variedades necessárias na indústria, mas vamos entrar em uma win-win situation”, diz Barbosa ao se referir à maior oferta de trigo no mercado interno e ampliação de divisas no setor O presidente da Abitrigo chama a atenção para o momento geopolítico pelo qual passa o mundo.
Rússia e Ucrânia, juntos, representavam 35% das exportações globais do grão. A guerra afetou esse quadro. “Não sabemos se Rússia vai prorrogar o corredor de exportação de grãos, o que deve manter esse nível de preço”. Para o embaixador, o reflexo é mais profundo. “Dificilmente voltaremos aos patamares (de preços) anteriores”, diz, o que deve manter em alta o interesse no plantio.