Os principais estados movidos pelo agronegócio escolheram Bolsonaro, mas o resultado da eleição apontou Lula vencedor, com pouco mais de 50% dos votos, uma eleição muito apertada.
O PT voltará ao comando do país e o agronegócio está preocupado com os impactos da agenda da esquerda no setor por alguns motivos principais: 1) Risco de intervenção nos mercados, seja via taxação de exportações ou uso de estoques públicos reguladores; 2) insegurança no campo, com aumento das invasões de terra do MST e demarcação de terras indígenas; 3) lentidão na aprovação de registros de novas moléculas de defensivos agrícolas, com potencial atraso na modernização do seto; 4) insegurança jurídica e consequente redução de investimentos; 5) incerteza sobre rumos da política econômica e os efeitos no ambiente de negócios. E o que vai acontecer a partir de agora?
A intervenção nos mercados via taxação de exportação é pouco provável que ocorra, já que causaria um estrago econômico. Só em 2022, os embarques do agro devem trazer ao país mais de R$ 140 bilhões. No caso dos estoques reguladores, consultorias indicam que haverá dificuldade de implementar o plano. Isso porque a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) possui baixa capacidade de armazenagem, o que geraria uma oferta de grãos potencialmente insuficiente para mexer com o mercado.
Por outro lado, é bastante provável que aumente o risco à propriedade privada. A vitória de Lula constrói um cenário político para que a discussão da demarcação de terras indígenas seja retomada via criação do Ministério dos Povos Originários e também no plenário do STF. De acordo com a consultoria BMJ, a ministra Rosa Weber ainda neste ano deverá colocar o Marco Temporal das Terras Indígenas em pauta. O MST deverá ganhar fôlego na nova era, como já indicou Pedro Stédile, líder do Movimento Sem Terra (MST).
A defesa da agroecologia e agricultura orgânica pelo PT também pode antagonizar a da agricultura de larga escala e significar atrasos na aprovação de novas tecnologias, o que seria um problema. E diante de tudo isso, há risco de perda de confiança no agro.
Os receios, que são legítimos, podem encontrar um certo alívio no caminho, seja pela formação de um Congresso de centro-direita, que frearia planos mais intervencionistas, seja pelo esperado aumento da bancada agro no Senado e na Câmara, que favorece uma agenda modernizadora para o setor. Além disso, Lula começará o governo enfraquecido pela votação apertada que teve e com pouco espaço de manobra, o que poderá inibir o avanço de pautas contrárias ao setor já no começo do governo.
Neste primeiro momento, entendo que o apetite do agronegócio para novos investimentos deverá ser freado. Há necessidade de conhecer a direção que será adotada em pastas estratégicas como economia, agricultura e meio ambiente, por exemplo. É esperado que sejam criados novos ministérios e é esperado que haja um risco político-ideológico a ser compreendido para a nova era. Por hoje, o setor esperará para ver.