Em resposta à crescente pressão de investidores e consumidores no Brasil e no exterior contra o desmatamento no país, a JBS, líder global em proteínas animais, anunciar na manhã desta quarta-feira a criação do programa “Juntos pela Amazônia”.
A iniciativa, que deverá permitir controle total também sobre os fornecedores indiretos de gado no bioma até 2025 — como já acontece com os fornecedores diretos —, contempla ações voltadas ao desenvolvimento da cadeia, à conservação e recuperação de florestas, ao apoio às comunidades e ao desenvolvimento de novas tecnologias. E inclui a criação de um fundo para financiar ações e projetos sustentáveis, inicialmente com US$ 250 milhões.
“É o reconhecimento de que temos um grande desafio. A população vai continuar a crescer no mundo e terá que ser alimentada de forma sustentável”, disse Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS, ao Valor. Segundo ele, já estavam no foco da companhia questões como as mudanças climáticas, a sanidade e a integridade da carne e a saúde dos colaboradores, e o novo programa reforça esses compromissos.
Para estender o monitoramento aos fornecedores indiretos na Amazônia, aqueles que normalmente são responsáveis pela cria do gado, a JBS lançará mão da plataforma blockchain. Com imagens de satélites, a companhia já monitora no bioma, há mais de uma década, cerca de 50 mil fazendas de pecuaristas distribuídas por 45 milhões de hectares.
“Em 2009, vivíamos um momento parecido com o atual, mas ainda envolvendo os fornecedores diretos. De lá para cá fizemos muitos investimentos e hoje temos um sistema com assertividade próxima a 100%”, afirmou Márcio Nappo, diretor de sustentabilidade da JBS no Brasil.
Logo depois de 2009, quando começaram a ser implementados projetos como o Boi na Linha, desenvolvido pela ONG Imaflora com apoio do Ministério Público Federal e participação da indústria da carne, o desmatamento na Amazônia, que se aproximava de 15 mil quilômetros quadrados por ano, começou a cair aceleradamente e ficou abaixo de 5 mil quilômetros quadrados em 2012. Entre 2013 e 2019, porém, o patamar cresceu para entre 6 mil e 7 mil quilômetros quadrados por ano, e em 2019 chegou a 9,5 mil, segundo dados do MPF.
Nesse período, lembra Nappo, a JBS bloqueou cerca de 9 mil fornecedores por causa de irregularidades, e a ideia não é perder fontes de matéria-prima. Daí porque um elementos central do novo programa é conseguir o engajamento dos pecuaristas de forma que um número maior possa ser incluído na cadeia produtiva, e não excluído.
Para tal, a empresa se compromete a oferecer não só assistência técnica, agropecuária e ambiental aos fornecedores, mas também jurídica. A “bala de prata”, segundo Nappo, é o aumento da produtividade” que virá com esse apoio. Outro ponto de destaque, disse ele, é que a companhia se dispõe a disponibilizar aos interessados, inclusive outros frigoríficos, o know how que já desenvolveu no monitoramento dos fornecedores.
Para o novo “Fundo JBS pela Amazônia”, os planos também são ambiciosos. Ele será criado com US$ 250 milhões a serem aportados pela companhia, será presidido por Joanita Maestri Karoleski, ex-CEO da Seara, e contará com um conselho consultivo e um comitê técnico que estão em fase final de definição e contarão com especialistas em ambiente.
A meta é que, com recursos de terceiros, o fundo alcance US$ 1 bilhão até 2030. Para estimular a participação de investidores, a JBS afirma que colocará US$ 1 para cada US$ 1 doado, até o limite de US$ 250 milhões. Ou seja, a empresa está disposta a fomentar o fundo com US$ 500 milhões de seus recursos próprios.
No segundo semestre, a JBS, que tem operações em diversos países, incluindo EUA e Austrália, registrou lucro líquido de R$ 3,4 bilhões, 54,8% maior que o do mesmo período de 2019. Mas encerrou o primeiro semestre com prejuízo de R$ 2,5 bilhões, em boa medida por causa de reflexos da variação cambial no primeiro trimestre. De janeiro a junho sua receita líquida global foi de R$ 124,1 bilhões. Com o novo programa “Juntos pela Amazônia”, a JBS se torna o segundo grande frigorífico do país a se comprometer a zerar o desmatamento na Amazônia, inclusive por parte de fornecedores indiretos, até 2025. O primeiro foi a Marfrig, que anunciou em julho planos na mesma direção.