A ESALQ (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”), da USP, e a CAU (China Agricultural University) lançaram em dezembro, na ilha de Hainan no sul da China, o “Centro Brasil-China de Inovação e Tecnologia Agropecuária”. Trata-se de iniciativa pioneira em inovação que segue a nova geografia que já vínhamos observando no comércio e nos investimentos do agronegócio.
ESALQ e CAU foram classificadas entre as cinco melhores universidades de ciências agrárias do mundo pelo ranking US News 2016, ao lado de Wageningen (Holanda), Cornell e Califórnia-Davis. Essas cinco instituições consolidaram uma parceria denominada “Aliança Acadêmica Agrícola A5”.
A pesquisa agropecuária é uma das raras áreas em que o Brasil tem excelência global. É um dos fatores responsáveis por alcançarmos a posição de terceiro maior exportador de produtos agroalimentares.
Menciona-se muito o papel da Embrapa, fundada nos anos 1970, nessa área. Mas muito antes dela o Brasil já contava com um robusto sistema de pesquisa e extensão nas universidades e em institutos estaduais como o IAC (Instituto Agronômico de Campinas) e o IZ (Instituto de Zootecnia), criados há mais de um século.
O sucesso brasileiro na agropecuária deriva em boa parte de conhecimentos e tecnologias que foram trazidos do exterior e adaptados às condições tropicais de produção. Ele começou com o intercâmbio de professores e pesquisadores ligados às universidades e centros de pesquisa do setor público. Mais tarde, foi dominado por empresas de P&D, principalmente as grandes multinacionais.
A ESALQ foi criada em 1901, em Piracicaba, e já formou 15.700 profissionais. Na primeira metade do século passado, professores europeus vieram à USP e à ESALQ para apoiar a montagem das primeiras faculdades e departamentos. Em 1964, a ESALQ iniciou o primeiro programa de pós-graduação da USP, graças a doações da Fundação Rockfeller, da USAID e do IICA.
Com isso, dezenas de professores foram estudar na fantástica rede de universidades agrícolas dos Estados Unidos. Era época de conhecer as bases da revolução agrícola que ocorria naquele país.
Todavia, se no passado fomos buscar os conhecimentos de que precisávamos na Europa e nos EUA, hoje notamos que nossa geografia de interesses e destinos mudou radicalmente. Basta dizer que em 2000 exportamos US$ 20 bilhões no agro, sendo que 70% destinavam-se aos países desenvolvidos. Hoje, quintuplicamos essas exportações, só que agora 30% dirigem-se para a China, 50% para a Ásia e 70% para países em desenvolvimento.
Apesar de termo-nos tornado referência mundial na produção de commodities tradicionais, ainda há muito a aprender com outros países. Por exemplo, é fantástica a experiência da China no uso de estufas flexíveis de produção de frutas, legumes e verduras, aliada a uma eficiente rede de distribuição. A China já exporta US$ 24 bilhões por ano nesse segmento. Ao mesmo tempo, o país tem liderado notáveis avanços em infraestrutura agrícola, energia solar, drones, big data, blockchains, inteligência artificial e comércio eletrônico.
O agro é, de longe, o setor mais internacionalizado da economia brasileira. Mais de sete séculos depois, é hora de repaginar o caminho das especiarias de Marco Polo, agora da América do Sul para a Ásia, indo além do comércio de commodities. Precisamos de investimentos cruzados, troca de conhecimentos e inovações e grande intercâmbio de professores, pesquisadores e estudantes.
Os chineses costumam dizer que, “para atravessar um rio, é preciso sentir cada pedra”. A cooperação em pesquisa e inovação é uma das mais importantes.