Não basta ter bons produtos e preços competitivos. Para ter sucesso e crescimento sustentado no mercado internacional é preciso estratégias consistentes e alianças sólidas. O episódio da suspensão de importação da carne de aves de algumas indústrias brasileiras anunciada pela Arábia Saudita traz à tona essa reflexão nesse momento em que nos preparamos para a superação da crise. Os tempos são de esperança, mas não ainda de conquistas. Leitura atual, no curto prazo, aponta para um cenário de lenta retomada da atividade econômica, acúmulo de 13 milhões de desempregados e, ainda, alguma incerteza no quadro político. No longo prazo é evidente que haverá transformações na estrutura de demanda, aumento da concorrência externa e desenvolvimento tecnológico em países emergentes.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), de cuja diretoria faço parte, produziu denso documento sobre esse e outros temas relacionados à economia e ao agronegócio, cujo teor foi entregue, na campanha eleitoral, a todos os candidatos à Presidência da República. O setor primário da economia nacional transformou-se de forma significativa nas últimas décadas, impulsionado pelas exportações. As grandes cadeias produtivas e os organismos de apoio à exportação levaram décadas para obter esses resultados. Apesar da vocação exportadora, o agronegócio brasileiro enfrenta, de tempos em tempos, novos desafios e novas ameaças. É preciso reconhecer que o Brasil não é um país totalmente aberto ao mercado externo. Por outro lado, porém, o protecionismo e o nacionalismo ganham força e o mercado mundial está longe de estar plenamente aberto aos produtos brasileiros.
O Brasil responde há décadas por pouco mais de 1% do comércio planetário e nunca superou essa barreira. Nessa complexa contextura, para enfrentar esses desafios, e com o objetivo de aumentar a integração e a competitividade do Agro brasileiro no mundo, a CNA definiu as ações prioritárias para o setor no âmbito do comércio internacional.
É preciso estabelecer parcerias estratégicas e posicionar o Agro como um ativo do Brasil nas suas relações com o mundo. O Brasil precisa de visão estratégica para diversificar exportações para a China, protagonista do mercado mundial. Sugere-se estabelecer acordo de facilitação de comércio para eliminar entraves burocráticos entre os dois países. É necessário ampliar a cooperação também com os Estados Unidos, incluindo maior coerência e convergência regulatória. É imperioso promover uma nova dinâmica para o Mercosul, com ênfase a uma maior integração do bloco com parceiros externos, principalmente com a Aliança do Pacífico (AP) formada por Chile, Peru, Colômbia e México. Existe um grande potencial de ganhos ao se desenvolver uma estratégia que combine integração global e regional, explorando as complementaridades entre os blocos, e que aumente a capacidade de alcançar mercados extrarregionais.
Os investidores e empreendedores pedem maior integração dos mercados de capitais, infraestrutura e logística com a Aliança do Pacífico, e a redução dos altos custos de comércio por meio da harmonização dos processos de importação, exportação e trânsito aduaneiro. A ideia central é desenvolver uma estratégia coerente de inserção internacional com estudos de impacto que avaliem perdas e ganhos para os setores. O posicionamento brasileiro deve ser elaborado também com a contribuição do setor privado.
O Ministério das Relações Exteriores, a indústria e o agronegócio buscam acelerar a integração do Brasil com o mercado mundial, via ampliação e celebração de novos acordos de livre comércio.