A cruzada por uma vida supostamente mais saudável no fim dos anos 1990 praticamente retirou a banha suína das prateleiras dos supermercados. A ideia à época era de que a gordura animal fazia mal à saúde, em comparação com os óleos vegetais. Os fatos, por sua vez, mostram o contrário e ajudam a trazer o produto de volta para a casa dos consumidores: a banha pode ser mais saudável que os óleos de origem vegetal, tem mais nutrientes e não altera o sabor dos alimentos.
“A banha de porco era muito utilizada antigamente para conservação de carnes quando não haviam refrigeradores e por ser uma opção mais barata”, lembra Heloisa Antonio Cosmo, nutricionista da Frimesa. De acordo com ela, após a revolução industrial e por ser associado a problemas cardiovasculares, o produto perdeu espaço. Ela refuta, contudo, que a banha suína acarrete males ao coração.
A gordura animal é natural, não é modificada ou industrializada. Por isso, aponta a nutricionista, é sempre a mais indicada desde que consumida com equilíbrio. Por ser uma fonte totalmente de origem animal, a banha suína traz ainda nutrientes, como vitamina C, B, um pouco de fósforo e ferro. “Ao contrário do óleo vegetal, que não possui esses nutrientes”, enfatiza a especialista.
A banha resiste bem a altas temperaturas, não liberando componentes tóxicos, possui gorduras boas e seu consumo moderado não aumenta os níveis de colesterol no sangue. Ela é composta de gordura saturada, monoinsaturada e poli-insaturada.
Diante da tendência de volta do produto aos supermercados, a indústria de processamento de carnes se voltou para a comercialização desses produtos, em embalagens mais novas e práticas. A Frimesa é um desses casos. No início deste ano, a cooperativa lançou a banha em “uma versão muito mais prática de embalagem” de 450 gramas.
A cooperativa afirma que exporta para a Bolívia a banha em lata 16 quilos. “São 85 mil toneladas de banha por mês”, informa. Recentemente, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que a China passaria a comprar mais desse produto brasileiro. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, questionado pela Suinocultura Industrial, não informou quando e como isso ocorreria.
De acordo com o gerente comercial da Frimesa, Mauro Strey Kramer, as exportações de banha suína para a China não devem trazer mudanças para a cooperativa diretamente. “O reflexo desta abertura dos chineses vai nos ajudar a melhorar nossos preços no mercado interno, já que é bem provável que quem puder exportar banha para a China o fará e isso deve diminuir a oferta aqui no Brasil”, avalia.
Tendência dos chefes
A aposta da cooperativa tem como fundamento o fato de que a banha suína se tornou, nos últimos tempos, a “queridinha” dos chefes de cozinha e amantes da gastronomia. A tendência é resultado da busca por aquele sabor típico da “comida da vovó”.
Ela ainda é a escolha preferida de muitos chefes, principalmente na produção de pães e tortas. Isso por conter um sabor suave e ser resistente, resultando em um dos melhores óleos para cozinhar – porque não sofre consideráveis alterações quando colocado em altas temperaturas.
De acordo com a nutricionista Heloisa Antonio, a banha suína pode ser utilizada em todas as preparações: refogados, assados, frituras, molhos, deixando os alimentos sequinhos e crocantes.
Como é produzida
O processo de produção da banha de porco não é industrializado. O modo de fazer é simples, de acordo com a cooperativa: após cortar a gordura em pedaços, ela vai ao fogo para derreter. Podendo ser produzida à seco ou na água – o que também influencia no sabor da banha.