A visita do presidente Jair Bolsonaro aos países árabes, nesta semana, pode ser a chance para o Brasil tentar se reaproximar de um mercado que tem perdido participação nas exportações nacionais nos últimos anos. Seja por fatores internos ou motivados por polêmicas levantadas pelo próprio Bolsonaro, o frango halal brasileiro perdeu espaço nesses países. Agora, uma nova oportunidade se abre.
O presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, Rubens Hannun, que estava com o presidente Jair Bolsonaro, em Riad, capital da Arábia Saudita, conversou com a Avicultura Industrial. Ele aponta que a missão presidencial reforça os laços que sempre foram muito bons entre o Brasil e os países árabes. Nas relações comerciais, falando especificamente da avicultura, Hannun aponta que um novo momento está surgindo.
Os países árabes buscam reduzir a dependência do exterior para o abastecimento de seu mercado interno. Assim, a queda nas exportações de frango halal para aquele destino tem a ver com o projeto da Arábia Saudita de produzir seu próprio frango. Para o presidente da Câmara Árabe-Brasileira, essa é a oportunidade de o Brasil exportar seu know-how como um dos maiores produtores dessa proteína no mundo.
AI – Algum tempo atrás, em entrevista com representantes do setor de certificação Halal, eles apontaram que uma visita do presidente Bolsonaro aos países árabes seria muito bem vinda. Neste sentido, como vocês observam essa aproximação do presidente?
Rubens Hannun – A visita do presidente Bolsonaro aos países árabes é muito bem-vinda. Essa aproximação reforça os laços, que já eram muito bons, e agora ficam melhores ainda. É olho no olho, é o tête-à-tête. A confiança aumenta. Se há algum tipo de restrição, essas decisões são conversadas, acertadas mais rapidamente e são resolvidas. Essa visita traz tudo isso. As visitas são uma coisa que temos defendido há muito tempo, de autoridades que são sempre muito bem vistas. Assim como foi da ministra Tereza Cristina, que abriu novas portas.
AI – O Brasil e os países árabes sempre tiveram uma boa relação. No início deste ano, porém, alguns posicionamentos do presidente desagradaram países árabes, como a própria Arábia Saudita e o Egito. Essa questão foi contornada?
Hannun – Houve no início algum tipo de ruído, que foram trabalhados. Se trabalhou muito para terminar isso e acho que estão sendo contornados, sim. Na própria Arábia Saudita os resultados da missão estão sendo positivos. Mas esses ruídos não atrapalharam demais as atividades comerciais, tanto que crescemos de janeiro a setembro desse ano mais do que 13% nas exportações para os países árabes e podemos crescer mais ainda.
AI – Os países Árabes sempre foram os principais clientes do setor avícola brasileiro. Nos últimos dois anos, contudo, isso tem mudado. Como ficará essa relação a partir de agora?
Hannun – Alguns países árabes estão indo no caminho de fortalecer sua economia local, gerar mais empregos, preocupados também com a segurança alimentar. Os setores estão trabalhando para depender menos de compras externas. E o setor avícola é um que esta nessa linha. A própria Arábia Saudita definiu que não vai mais deixar que as importações representem uma participação muito grande do seu consumo de frango. E outros estão indo pelo mesmo caminho. Isso não é nenhum tipo de entrave. É uma questão estratégica de cada país. O que a gente tem que ver é que isso também traz uma serie de oportunidades. Se não vendemos o frango, vendemos os produtos complementares, que são o necessário para a criação do frango. Isso beneficia o Brasil, porque podemos vender produtos com valor agregado. E traz oportunidade de manter a participação que temos e até trabalhar para aumentar, sabemos que temos um teto que eles estão estabelecendo. Como a própria oportunidade anunciada pela BRF de investir US$ 120 milhões em uma fabrica na Arábia Saudita. O que é excelente para a eles, para o Brasil e para a BRF. Estamos trazendo produto, know-how, produtos, profissionais. Estamos internacionalizando a empresa. É uma parceria estratégica. Para eles produzirem localmente precisam de conhecimento, know-how, matéria prima, e tudo isso o Brasil pode oferecer porque é especialista.