Em maio tivemos uma das mais danosas agressões que a sociedade brasileira costuma de vez em quando fazer contra ela mesma, desta vez foi a greve do transporte, espalhando bilhões de reais de perdas para todos os lados nas cadeias produtivas integradas, prejudicando a recuperação econômica e espalhando pânico na sociedade. Uma greve sem vencedores, como escrevi em artigo de análise ainda em maio, explicando suas causas e possíveis consequências.
No auge da greve, para resolver os problemas e normalizar a situação, surge uma proposta dos anos 70, o tabelamento de fretes, que vai contra qualquer modernidade e liberdade econômica, contra leis de mercado e até contra a Constituição brasileira.
A greve dos transportes já foi amplamente debatida, mas chamo a atenção neste texto apenas para um fato que previ no artigo sobre a greve e a proposta de tabelamento: uma possível verticalização da função transporte, ou seja, empresas, cooperativas e produtores poderiam investir em frotas próprias, internalizando a função transporte, para fugir da interferência do tabelamento.
Dito e feito. As vendas de caminhões no primeiro semestre de 2018 cresceram simplesmente 50% em relação ao mesmo período do ano anterior, em sua maioria, investimentos feitos por produtores rurais e industriais, numa função que não é seu negócio principal, o seu negócio foco, o transporte (distribuição).
Um setor que já tinha ociosidade (mais oferta que demanda de transporte) devido a uma interferência equivocada (tabelamento) caminha para mais ineficiência ainda. Ou seja, mais caminhões, mais ativos, mais depreciação, mais ociosidade, mais ineficiência, menor ocupação de ativos… traduzindo em… menores margens. Isto tudo em tempos de Uber e de racionalização do uso de ativos na sociedade mundial. Retrocesso puro.