Como toda doença de grande impacto sanitário e econômico, os surtos de Peste Suína Africana, relatados na China e em alguns países da Europa Ocidental, trazem preocupação para todo o mundo, tendo em vista a rapidez com que o vírus tem se propagado e o seu elevado impacto econômico.
No Brasil, a PSA foi erradicada em 5 de dezembro de 1984 e o país foi declarado área livre da doença, por isso é importante impedir que o vírus entre no país. O diretor técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Suíno (ABCS), Francielmir Machado, explica que ações de bioseguridade tem sido tomadas para evitar que isso aconteça. “Ações de biosseguridade estão sendo trabalhadas e devem ser focadas em todos os elos da cadeia, tendo atenção especial à entrada de suínos domésticos e material genético com procedência de países livres da enfermidade, vazio sanitário rigoroso (7 a 15 dias) ao visitar outros países e quarentena de animais vivos. Porém, todos os temas relacionados à biosseguridade devem ser conduzidos e respeitados com rigidez.”
Na última semana o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) divulgou que está intensificando a vigilância nos aeroportos, portos e fronteiras do Brasil para evitar o ingresso da peste suína africana (PSA). A pesquisadora da Embrapa, Janice Zanella, explica que o vírus não se replica no ser humano, então não traz risco a saúde humana, mas pode entrar no país através de mercadorias, como embutidos, carnes, carcaças de caça. “Nos embutidos o vírus persiste muito tempo, então é uma questão de aumentar a vigilância até se saber a origem, pois quando essa mercadoria embarcou não sabemos qual era a situação, ela passou 40 dias no navio”, explica a pesquisadora.
Neste sentindo, as orientações divulgadas pelo Mapa foram fiscalizar o descarte adequado de resíduos alimentares provenientes de aeronaves comerciais e navios procedentes de países infectados pela doença; reforçar na inspeção de bagagens de passageiros com intuito de detectar alimentos e outros materiais com risco de transmitir o vírus; aumentar a atenção ao cumprimento dos requisitos sanitários para importação de suínos vivos, material genético, produtos, subprodutos e insumos de países de risco; intensificar a vigilância em criações de maior risco e em “lixões”; dar maior agilidade no envio e processamento de materiais biológicos (amostras) para diagnóstico de casos suspeitos e sensibilizar os produtores e fiscalização dos padrões de biosseguridade das granjas comerciais de suínos.
Francielmir Machado lembra que o controle da doença é feito pela eliminação dos plantéis, o que gera grandes perdas econômicas, dado a interrupção do comércio regional e internacional com os animais e seus produtos. Considerando isso, os casos na China e na Europa, e o fato do Brasil ser livre do vírus, pode abrir mercado para o suíno brasileiro. “Considerando que a China possui o maior plantel e é também o maior consumidor da carne no mundo, se ocorrer uma redução significativa do seu plantel produtivo, com impacto na produção final, existe sim uma possibilidade de aumento da exportação da carne para esse país, com o objetivo de suprir a demanda de consumo”, explica Machado.
Previsões feitas pelo Rabobank mostram que com a intensidade que a doença está atingindo os plantéis chineses, pode exigir que país importe cinco milhões de toneladas da proteína.
Porém, Machado também diz que alguns especialistas falam que se o impacto for muito grande na produção de suíno chinesa, ocorrerá um encarecimento dessa carne para o consumidor, podendo haver uma substituição no hábito alimentar por uma carne mais barata, sem o benefício esperado para nossa exportação.
A Peste Suina Africana
A pesquisadora da Embrapa, Janice Zanella, explica que a PSA é uma doença causada por um vírus com vários sorotipos diferentes, são em torno de 23 conhecidos hoje e acomete javalis e suínos domésticos. Na África, o warthog (javali africano) é reservatório do vírus, e também há um carrapato que é hospedeiro. “Esse carrapato não existe no Brasil, nem na Europa, nem na China, mas o que percebemos é que na África tem esses 23 sorotipos e a doença de uns 10 a 15 está fora de controle, era restrita a uma região e agora todo o oeste e está tomado, e lá tem todos os sorotipos”, explica Janice.
A PSA não oferece risco à saúde humana, não sendo transmitida ao homem, mas pode dizimar plantéis de suínos, sendo altamente infecciosa, o que exige o sacrifício dos animais, conforme determina a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). Os javalis também são atingidos. Não existe vacina para a PSA. O vírus é resistente, permanecendo nas fezes dos animais por até três meses e, em alimentos (produtos maturados), até nove meses.
Os sinais clínicos da PSA nos animais são febre alta (40 a 42 graus), hemorragia no nariz, orelhas, patas e abdômen, sangramento no reto, perda de apetite e depressão, além de problemas respiratórios. O período de incubação do vírus vai de cinco a 21 dias.
A transmissão nos suínos e javalis se dá por meio do contato direto com animais doentes, consumo de resíduos domésticos e comerciais infectados, pela contaminação em equipamentos, veículos, roupas e sapatos.