Um eventual aumento do protecionismo está entre as preocupações de especialistas e lideranças do agronegócio em relação ao governo de Donald Trump nos Estados Unidos. Durante a campanha, o discurso do então candidato sinalizou uma economia mais fechada e restrições a alguns países, como a China.
É fato que, neste momento, logo depois da eleição, qualquer conjectura não passa de mera especulação, apenas baseada em diversas declarações de campanha do republicano. Mas, ainda assim, com ele eleito, há quem já enxergue motivos para temer efeitos negativos sobre a relação bilateral no comércio agropecuário.
“Precisamos esperar um pouco mais para ver, mas é um temor. O governo brasileiro tem que ficar de sobreaviso. Vamos nos adiantar e nos preparar para isso”, alerta o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Carlos Corrêa Carvalho.
Ele avalia que um aumento do protecionismo no governo Trump poderia refletir de duas formas: diretamente na entrada de produtos brasileiros nos Estados Unidos e em eventuais medidas protecionistas adotadas por outros países sobre os quais o posicionamento norte-americano tenha alguma influência.
Oficialmente, o governo brasileiro diz não acreditar em mudança nas relações com os norte-americanos depois da posse de Donald Trump, em 20 de janeiro do ano que vem. O presidente Michel Temer, disse acreditar que há relações institucionais e afirmou que os Estados Unidos são prioridade para o Brasil
Mas no primeiro escalão do Planalto, há quem seja mais cauteloso. Nesta quarta-feira (9/11), o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, reconheceu a possibilidade de efeitos negativos do governo Trump para o agronegócio brasileiro. Não tanto em relação ao acesso de produtos, mas à participação nos mercados onde os dois países são competidores.
“Eles são muitos fortes em áreas que somos competidores mundo afora. E se esse protecionismo vier em forma de novos subsídios para a agricultura norte-americana, aí nós teremos problemas”, afirmou, de acordo com o jornal O Estado de S. Paulo.
O professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Carlos Eduardo Dalto, considera essa possibilidade. A política de subsídios à produção agrícola norte-americana é definida na Farm Bill, a lei plurianual periodicamente revisada. A próxima revisão deve ser em 2018 e pode trazer medidas protecionistas ao setor rural.
Dalto lembra que Trump recebeu apoio significativo na região central dos Estados Unidos, com forte produção agrícola. “O etanol também pode ser afetado, pois não dá para saber se ele vai continuar a incentivar a indústria americana de milho para o biocombustível. E recentemente o Brasil fechou acordos de exportação de carne que poderiam ser prejudicados”, afirma.
Fato comemorado pelo governo e pela indústria nacional, a exportação de carne bovina in natura para os Estados Unidos já começou. Procurada pela reportagem, a Abiec, associação que reúne frigoríficos exportadores, informou, pela assessoria, que não comentaria o assunto.