Aberta oficialmente nesta quarta-feira, a temporada 2015/16 começa com uma boa surpresa para o produtor: os preços internacionais da soja, que no final de 2014 trabalhavam no menor nível em quatro anos, retomaram o patamar dos US$ 10 por bushel. Em um mês, a oleaginosa ganhou quase US$ 1 na Bolsa de Chicago – valorização que, aliada ao câmbio, garantiu aumento de cerca de R$ 5 no preço da saca de 60 quilos nas principais praças de comercialização do país. Com o dólar sustentado acima de R$ 3, o mercado doméstico exibe cotações na casa dos R$ 70 para exportação.
A mudança de ventos renovou o fôlego dos produtores e deu novo ânimo ao setor às vésperas da abertura da nova temporada. Na virada do ano, em meio à expectativa de um plantio recorde nos Estados Unidos, os preços internacionais da soja ameaçavam romper a barreira dos US$ 9 por bushel, levando algumas consultorias privadas a cogitar que o Brasil teria, em 2015/16, a primeira redução de plantio em quase uma década. Agora, o consenso é que haverá, sim, incremento, com previsões variando de 1% a 5%.
“Acho que o que mudou é que se percebeu que os produtores vão investir menos para poder ter uma margem razoável e, nesses termos, a soja é um bom negócio”, explica a economista Natália Orlovicin, analista de mercado da FCStone. “Na pior das hipóteses, o cenário seria de estabilidade [na área plantada]. Mas, apesar de todos os transtornos, haverá crescimento. Pequeno, mas crescimento”, prevê Aedson Pereira, analista de mercado da Informa Economics FNP, citando o aumento dos custos de produção e a elevação das taxas de juros do Plano Safra como fatores que, teoricamente, poderiam desestimular o plantio.
“Nunca acreditamos em redução. Mesmo com perspectivas de preços mais fracos caso não houvesse problemas de clima nos EUA, a psicologia do produtor brasileiro era que se Chicago não ajudasse o dólar iria ajudar”, concorda Steve Cachia, diretor de Inteligência de Mercado da Cerealpar. Agora, considera o analista, com Chicago em níveis melhores e indicações de preço para a safra nova ainda firmes, a ideia de que o plantio deve crescer de novo em 2015/16 ganha ainda mais força.
Cachia acredita que a decisão final sobre o tamanho da área de cultivo será tomada pelos produtores na última hora, dependendo do clima nas próximas semanas, mas afirma que, a princípio, a extensão destinada à oleaginosa deve crescer entre 1% e 3% no Brasil. Um pouco mais otimista, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) aposta em incremento de 3,2% no plantio brasileiro.
Ainda sem estimativa oficial, a FCStone divulgará seus números somente em agosto. “Mas já adianto que todos os produtores que conversei até agora vão manter ou aumentar a área plantada”, garante Natália. Segundo ela, o incremento da soja se dará “mais em cima de pastos, porque o custo do bezerro também está altíssimo”, e de abertura de novas áreas e do que sobre o milho.
“A possibilidade de abandono de área nos EUA [por causa do excesso de chuvas na fase final de plantio] abre uma brecha para que Brasil e Argentina ampliem o espaço dedicado à soja na próxima temporada”, pontua Pereira. Segundo ele, a probabilidade de que a safra norte-americana não seja tão grande quanto se previa inicialmente fica cada vez maior e, como “por enquanto as safras de Brasil e Argentina são apenas perspectivas”, o mercado embute prêmio de risco aos preços. Ele acredita que o mercado internacional tenha encontrado seu piso em outubro do ano passado, quando o primeiro contrato da soja bateu em US$ 9,1225/bushel em Chicago. “A demanda é consistente e qualquer possibilidade de disrupção no lado da oferta já é suficiente para puxar as cotações”, considera.
US$ 9,1225
por bushel foi a cotação de fechamento da soja na Bolsa de Chicago no dia 3 de outubro de 2014. Tomando como base o primeiro contrato, foi o menor preço desde 2010. Segundo analistas, o valor deve funcionar como piso para o mercado nos próximos meses, ao menos até que o tamanho real da safra norte-americana seja definido.
US$ 10,5525
por bushel foi o preço mais alto alcançado pela soja na bolsa norte-americana neste ano, também com base no primeiro contrato. Cotação foi registrada no dia 7 de janeiro e, desde então, mercado operava em baixa. Tendência foi revertida na semana passada, quando a oleaginosa bateu em US$ 10,2450/bushel durante o pregão da última sexta-feira (26).
US$ 10,0250
por bushel foi o valor de fechamento do julho/15, contrato de primeira posição na Bolsa de Chicago, ontem. Novembro/15, posição que sinaliza preços para a nova safra norte-americana fechou os negócios do dia valendo US$ 9,80/bushel, mas também chegou a superar a barreiras dos US$ 10 na semana passada.