De acordo com dados da Associação Brasileira das Indústrias de Alimentos (Abia), o Brasil processa em torno de 58% da produção agropecuária brasileira, que chegou a mais de 450 bilhões de toneladas em 2013, número fornecido pelo Ministério da Agricultura. Segundo Eduardo Klotz, presidente da Abia, o País precisa elevar esse número para dar conta do crescente aumento da população mundial e se manter competitivo no mercado internacional de alimentos.
A agroindustrialização foi um dos temas abordados durante o Fórum de Alimentos, promovido ontem em São Paulo pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), em parceria com o jornal O Estado de S.Paulo. Klotz avalia que a indústria de alimentos do País é um exemplo de qualidade, segurança e lucratividade. Só no ano passado, o setor faturou US$ 529,6 bilhões. Desse total, US$ 428 bilhões foram em alimentos e US$ 101,6 bilhões em bebidas.
Luís Madi, diretor geral do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), órgão pertencente à Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, afirma que a agroindústria contribui e muito para a economia brasileira. Segundo ele, só em 2013 o segmento representou 28% do PIB agropecuário, que fechou o ano com um total de R$ 991,06 bilhões. “O Brasil tem grande potencial de crescer ainda mais em produtos de valor agregado”, salienta o diretor do Ital.
O agronegócio paranaense, por sua vez, segue em destaque no processo de agroindustrialização no Brasil graças aos investimentos realizados pelas cooperativas do Estado. De acordo com dados obtidos em 2012 pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), as indústrias de alimentos representaram 21% na composição do valor da transformação industrial do Paraná.
Alan Bojanic, representante da FAO no Brasil, afirma que o Brasil precisa começar a pensar em seu processo produtivo porque a demanda por alimentos tende a aumentar significativamente. Dados da organização estimam que, até 2050, a população mundial chegue a 9,7 bilhões de pessoas, 37% a mais se comparado ao número atual.
Para atender essa demanda, estima Bojanic, a produção de carne, por exemplo, que hoje é de 2,1 bilhões de toneladas por ano, deveria ter um acréscimo anual de 200 milhões de toneladas. Para alcançar esse resultado, avalia o representante da FAO, o Brasil precisa encarar vários desafios: melhorar o escoamento da produção, elevar o nível de assistência técnica para ampliar a produtividade e a qualidade dos alimentos, fomentar a educação e pesquisa e incentivar a agroindustrialização por meio de associações e cooperativas.
A partir de agora, Bojanic observa que o Brasil precisa manter o seu crescimento em produtividade agrícola, sustentabilidade ambiental e desenvolvimento rural como: redução da pobreza no campo, dar oportunidades para pequenos produtores e promover um desenvolvimento rural equilibrado. “O mundo precisa do Brasil”, completa o representante da FAO.
O novo consumidor
Para atender o consumidor ligado às novas tecnologias, as agroindústrias brasileiras precisam se reinventar, segundo avalia o consultor da PWC, consultoria para varejo, consumo e agronegócio, Sérgio Alexandre Simões. Segundo ele, o consumidor do século XXI está preocupado não só com a sua saúde, mas também com a forma com que um determinado produto foi produzido.
A preocupação hoje, observa Simões, permeia as questões nutricionais, ambientais e sociais. Ou seja, no momento, na opinião do consultor, o consumidor questiona se durante o processo produtivo foram tomados os devidos cuidados com a composição do produto, se houve danos ambientais e se os direitos trabalhistas estão sendo respeitados. Simões afirma que monitorar isso tudo hoje está muito fácil graças aos smartphones, que muitas pessoas levam durante suas compras. “Além de comparar preços, o consumidor tem começado a pesquisar a origem do produto e seus valores nutricionais”, observa.
O problema, acrescenta o consultor, é que poucas empresas já disponibilizam todas as informações sobre o seu produto. “Existe uma necessidade no País de realizar uma rastreabilidade de produtos”, destaca Simões. Ele completa que as redes sociais também não devem ser deixadas de lado nesse processo, já que são ferramentas importantes “porque muitos consumidores estão seguindo as marcas nesse tipo de mídia”, completa o consultor da PWC.