O câmbio deve ser o principal fator a influenciar o mercado de commodities no país no próximo ano e também o maior desafio, afirmou, nesta terça-feira (08/12) o diretor de Inteligência de Mercado da Cerealpar, Steve Cachia, durante o Fórum XP Commodities, em São Paulo. Além do dólar, o clima, crises e geopolítica devem ser os outros fatores para os quais os investidores deverão ficar atentos no próximo ano.
Em relação ao câmbio, Cachia traçou duas hipóteses para o comportamento da moeda, dependendo dos resultados do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. “Caso haja o impedimento, o dólar pode disparar em um movimento especulativo, em um primeiro momento, e depois despencar, com uma nova perspectiva para o país e com a entrada de investimentos”, afirmou. Na outra possibilidade, Cachia avalia que não haverá entrada de capital estrangeiro e o real ficará desvalorizado. “O timing em que isso ocorrerá também é importante”, afirmou.
Sobre o clima, afirmou que este é o fator mais imprevisível para o próximo ano, com a ocorrência dos fenômenos El Niño e La Niña. Ele avaliou, no entanto, que os efeitos devem ser mínimos no Brasil, sem quebra de safra. Já no Hemisfério Norte, poderão provocar prejuízos à safra dos Estados Unidos, por exemplo. “Não dá pra apostar no clima, porque nenhum efeito climático se repete com características idênticas”, disse Cachia.
Ele afirmou ainda que a crise nos EUA e na União Europeia, que passam por lenta recuperação, pode influenciar o mercado, assim como a situação no Brasil, na Rússia e na China. “Incertezas fazem os fundos demorar a retornar ao mercado e o humor e a confiança do investidor ficam baixos.”
O analista citou problemas sanitários, como as gripes aviária e suína, que podem prejudicar a demanda pelos grãos. “Este ano, na China, mais de 100 milhões de cabeças de suínos foram abatidas”, afirmou.
Efeito Argentina
“Vamos ter um competidor mais agressivo no mercado”, disse Cachia, sobre as promessas do presidente eleito da Argentina, Mauricio Macri, de eliminar o imposto sobre exportação de grãos do país assim que assumir, agora em dezembro. Para ele, o Brasil é eficiente “da porteira para dentro”, mas deixa a desejar do lado de fora – ou seja, infraestrutura, transporte e afins – e isso pode dificultar a posição do Brasil frente ao novo cenário de competição. “A vantagem é que a retirada do imposto sobre as exportações será gradual e isso ajudará o Brasil a se preparar melhor para o fato.”