A família Batista vai comprar a participação dos Bertin na gigante de carnes JBS. O acordo, alinhavado nos últimos dias, prevê que os Bertin sairão da sociedade, apurou o Valor. De acordo com fontes familiarizadas com o assunto, uma negociação para a saída dos Bertin do capital da JBS já estava prevista desde 2009, quando a empresa da família Batista adquiriu o frigorífico Bertin. O valor da operação não foi divulgado. Procurada, a JBS não se pronunciou.
Os Bertin têm 48,51% da FB Participações S.A, uma das acionistas da JBS. Eles estão na holding por meio da Bertin Fundo de Investimentos em Participações (FIP). A J&F Participações, da família Batista, tem 45,2% da holding FB. Esta, por sua vez, é detentora de 42,66% do capital da JBS. Com a saída dos Bertin, a família Batista deve ficar com 93,7% da FB Participações.
O acordo entre as duas famílias deve pôr fim a uma disputa jurídica iniciada pelos Bertin em junho do ano passado. Na ocasião, o escritório do advogado Sérgio Bermudes, representando os Bertin, ajuizou uma ação cautelar na 5ª Vara Cível de São Paulo em nome da Tinto Holdings – que pertence aos Bertin – contra a Blessed, empresa sediada no paraíso fiscal de Delaware (EUA). O que motivou a ação foi a transferência de 348,3 mil cotas do fundo Bertin-FIP detidas pela Tinto para a Blessed.
No processo, os advogados dos Bertin sustentavam que a transferência das cotas para a Blessed seria uma “escancarada falcatrua”, pois as assinaturas de Natalino Bertin e Silmar Bertin autorizando a operação seriam falsas. Além disso, afirmavam que “a transferência criminosa tornou-se inequívoca pela diferença entre o valor real das cotas e o minúsculo valor indicado no vicioso instrumento”. Segundo eles, as cotas transferidas valeriam R$ 970 milhões, e não os R$ 17 mil pagos pela Blessed. Procurado ontem, Sérgio Bermudes não se pronunciou.
Na época do imbróglio, o representante da Blessed, Gilberto de Souza Biojone, negou qualquer irregularidade no negócio com os Bertin.
Quando entrou com a ação, o escritório de Bermudes trabalhava com a hipótese de que a Blessed pertencesse à família Batista. Na época, a JBS informou não ter qualquer relação com a Blessed. No formulário de referência protocolado pela JBS na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Blessed aparece como uma das cotistas da Bertin-FIP, com 65,79% do fundo. A Tinto detém as cotas restantes (34,2%).