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Mercado Externo

Argentina se esquiva de adotar política anti-inflação

Governo argentino diz que gasto público não contribui para a alta de preços e que culpa é apenas do setor privado, que quer lucrar mais.

Argentina se esquiva de adotar política anti-inflação

Mesmo depois de o novo índice oficial de janeiro ter exposto que a inflação argentina é das maiores do mundo, o governo continua a apoiar-se no controle dos preços como principal ferramenta de combate à alta do preços.

Para o economista Sérgio Berensztein, da consultoria Poliarquia, ainda há chances de se evitar o pior porque o governo conseguiu frear a corrida cambial. Mas um conjunto de questões complementares cruciais, como o reconhecimento da necessidade de conter o déficit fiscal, exigirá atenção permanente.

Berensztein lembra que a economia argentina conseguiu “uma calma cambial” nos últimos dias. Depois da desvalorização do peso, o governo obrigou os bancos a vender dólares. “Isso colocou um freio na loucura cambial”, diz. Mas ele acredita que a corrida ao câmbio tende a voltar e levar a um cenário mais instável, se não houver um conjunto essencial de ações. “Hoje temos um conjunto de improvisações, que excluem o controle de gastos públicos e também as variáveis externas, como a aproximação dos credores para obter financiamentos”, destaca.

“Com um plano que abranja ações desse tipo teremos atividade negativa no primeiro semestre, mas com perspectivas de retomada na segunda metade do ano”, destaca o economista.

O governo não deu, entretanto, nenhuma sinal da intenção de seguir por essa linha. Ao falar sobre o índice oficial de inflação, de 3,7% em janeiro, que pela primeira vez em dois anos aproximou a estatística oficial dos cálculos dos analistas independentes, o ministro-chefe de Gabinete, Jorge Capitanich, esquivou o governo de qualquer responsabilidade.

“Os indicadores não têm nada a ver com gasto público. A culpa é dos comerciantes e industriais que querem lucrar mais”, disse em sua entrevista diária.

Capitanich não poupou os economistas independentes que, segundo ele, “não são neutros”. Por outro lado, prometeu apresentar ao longo desta semana indicadores de que o setor público apresentou superávit primário em janeiro. O país enfrenta déficit fiscal há dois anos.

A estratégia do governo hoje é fazer com que os preços de produtos essenciais voltem aos valores vigentes antes da crise cambial, que fez o peso desvalorizar-se em 25% somente em janeiro. Carne, medicamentos e combustíveis estão no foco da ação dos últimos dias. Jovens militantes do governo de Cristina Kirchner passaram o fim de semana em portas de supermercados distribuindo listas de preços para pedir o apoio do consumidor na denúncia de abusos.

Mas os repasses são inevitáveis. Só em combustíveis, a autorização governamental para o reajuste de 6%, equivalente à metade dos que as empresas queriam, refletirá na inflação de fevereiro. “Será preciso esperar para ver o que acontecerá em fevereiro e, sobretudo, em março, que trará o impacto das negociações salariais, para chegar a alguma conclusão sobre a dinâmica inflacionária daqui para a frente”, diz Berensztein.

Para o economista, só há chances de a inflação ser controlada se os aumentos de salários não ultrapassarem os 25%. Mas há pressão de todos os lados, inclusive no setor público. Professores ameaçam não iniciar as aulas sem um reajuste de 35%.