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Economia

FMI quer que Brasil siga com "aperto de políticas"

País deve continuar a promover um "aperto de políticas", diz FMI, apontando na direção de mais aumento de juros e mais aperto fiscal. Instituição também recomenda uma intervenção mais seletiva no câmbio e a adoção de medidas para reduzir os gargalos de oferta.

FMI quer que Brasil siga com "aperto de políticas"

O Brasil deve continuar a promover um “aperto de políticas”, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI), apontando na direção de mais aumento de juros e mais aperto fiscal. A instituição também recomenda uma intervenção mais seletiva no câmbio e a adoção de medidas para reduzir os gargalos de oferta.

Em relatório divulgado ontem, o FMI cortou mais uma vez as projeções de crescimento do país, reduzindo a estimativa de 2014 de 2,3% para 1,8% e a de 2015 de 2,9% para 2,7%. No ano passado, a expansão foi de 2,3%. Para o vice-diretor do Departamento de Pesquisa do Fundo Monetário Internacional (FMI), Gian Maria Milesi-Ferretti, a elevação da Selic foi “apropriada”, dada a intensificação das pressões inflacionárias em 2013 e no começo de 2014.

“Isso é positivo, mas é claro que há um impacto do aperto da política monetária sobre a atividade, e esse é um dos fatores que ajudam a explicar por que a previsão de crescimento para 2014 é de 1,8%”, afirmou ele, em rápida entrevista a jornalistas, depois da apresentação do relatório “Panorama Econômico Mundial” (WEO, na sigla em inglês). No estudo, o FMI diz que o Brasil deve continuar em marcha lenta neste ano, num cenário em que pesam sobre a economia as restrições domésticas de oferta, especialmente na infraestrutura, e o fraco desempenho do investimento privado, “refletindo a perda de competitividade e a baixa confiança do empresariado”.

Questionado sobre a necessidade de novas altas de juros, Milesi-Ferretti respondeu que “a economia está desacelerando, e o aperto foi apropriado”. No relatório, o FMI diz que o Brasil precisa “de continuidade do aperto de políticas”. Segundo o estudo, “apesar dos aumentos substanciais dos juros no último ano, a inflação continuou na parte superior da banda”. O Fundo afirma ainda que o ajuste fiscal pode ajudar a reduzir a pressão da demanda doméstica e diminuir desequilíbrios externos, além de contribuir para baixar a relação dívida/PIB, que é relativamente alta.

De acordo com o documento, a expectativa é de que a inflação continue na parte superior da banda da meta perseguida pelo Banco Central, de 4,5%, com teto de 6,5%. A projeção do Fundo é que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que terminou 2013 em 5,91%, fique em 5,8% neste ano e em 5,4% no ano que vem.

A limitada capacidade ociosa e a recente desvalorização do real mantêm elevadas as pressões sobre os preços, diz o FMI. “O mix de políticas mudou no último ano em direção ao aperto monetário, com a política fiscal (incluindo os empréstimos do Tesouro para os bancos públicos) devendo manter um sinal amplamente neutro em 2014.”

O FMI nota que a atividade no Brasil permanece contida. “A demanda é apoiada pela recente desvalorização do real e pelo crescimento ainda firme dos salários e do consumo, mas o investimento privado continua fraco, em parte refletindo a baixa confiança empresarial.”

Milesi-Ferretti disse ainda que o Brasil tomou outras medidas para ajudar a aumentar o crescimento potencial, sem mencionar quais. Segundo ele, essas providências devem ajudar a enfrentar os gargalos de oferta que fazem a inflação subir sempre que a demanda doméstica ganha fôlego. Uma vez que esses problemas sejam enfrentados, a economia poderá crescer mais rápido sem pressões inflacionárias, afirmou Milesi-Ferretti.

Num outro trecho do relatório, o Brasil aparece, junto com a China e a Venezuela, como um dos países em que é necessário ajustar a “atividade quase fiscal”, uma referência, no caso brasileiro, aos empréstimos do Tesouro aos bancos públicos, como o BNDES. Segundo o FMI, essa atividade eleva os riscos contingentes ao orçamento e à dívida pública.

As estimativas de crescimento do FMI para o PIB brasileiro são inferiores à média projetada para os emergentes, que devem avançar 4,9% em 2014 e 5,3% em 2015. Na América do Sul, o crescimento de 1,8% deste ano só supera a previsão para a Argentina, de alta de 0,5%, e da Venezuela, de retração de 0,5%.

Entre os emergentes de maior peso, o Brasil só deve crescer mais que a Rússia, que teve as suas estimativas de crescimento bastante reduzidas pelo Fundo para este ano, de 1,9% para 1,3%, num momento em que está envolvida nas tensões com a Ucrânia. Ainda assim, as previsões do FMI para o Brasil são mais otimistas do que as dos economistas ouvidos semanalmente pelo Banco Central, que projetam 1,63% para 2014 e 2% para 2015.

O FMI também divulgou estimativas para o déficit em conta corrente, que mostra o resultado das transações de bens, serviços e rendas com o exterior. Para 2014, o Fundo espera um rombo de 3,6% do PIB, maior do que os 3,2% do PIB que haviam sido projetados no “WEO” de outubro do ano passado. A projeção para 2015 é de 3,7% do PIB. No ano passado, o rombo ficou em 3,6% do PIB. Nesta semana, o FMI e o Banco Mundial promovem o seu encontro de primavera, em Washington.