A avaliação dos efeitos provocados pela agricultura na qualidade do solo e da água representa um desafio para agrônomos e especialistas na área, devido às dificuldades de monitoramento das bacias hidrográficas. A complexidade do relevo e as construções humanas constituem alguns dos principais obstáculos. O Departamento de Solos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) realiza atualmente uma pesquisa que engloba bacias hidrográficas de diferentes regiões do Rio Grande do Sul, utilizando técnicas que possibilitam um entendimento mais claro dos efeitos que os variados tipos de agricultura presentes no Estado provocam.
“Monitoramos, por exemplo, bacias do Planalto, que refletem bem a produção de grãos de soja, e da Encosta do Planalto, que representam melhor a produção de subsistência, e cada uma apresenta um resultado distinto. Esse é a nossa estratégia, uma rede de bacias que indicam diferentes características de relevo e, principalmente, de uso e manejo de solo”, explica o professor da UFSM Jean Minella, que coordena a pesquisa. O monitoramento ocorre em 15 bacias de diferentes tamanhos, em municípios como Guaporé, Júlio de Castilhos, São Gabriel e Eldorado do Sul.
O projeto surgiu em 2001, idealizado pelo professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Gustavo Merten, quando bacias experimentais nos municípios de Arvorezinha e Agudo começaram a ser monitoradas. Atualmente, a equipe é formada por 40 pessoas e liderada por Minella com a colaboração dos docentes Danilo Rheinheimer dos Santos e José Miguel Reichert. A pesquisa conta com uma estrutura de monitoramento automática e também com o trabalho de campo dos pesquisadores nos dias de chuva, utilizando tanto práticas tradicionais da área como tecnologias adaptadas às condições do Estado. No processo, são medidas variáveis como a precipitação, a vazão e o volume de água escoado superficialmente. Os dados são utilizados em modelos matemáticos que medem a erosão e a produção de sedimentos.
Minella explica que os objetivos do projeto são compreender e quantificar os processos de degradação do solo, a fim de conscientizar os agricultores e propor medidas conservacionistas eficientes. Resultados do monitoramento já começam a ser notados pela equipe. “O que podemos observar é que a ausência de práticas de conservação do solo, especialmente os terraços, tem causado graves problemas de erosão, enchentes, poluição dos rios e escassez de água às culturas agrícolas”, ressalta. Medidas como os terraços diminuem a velocidade de escoamento superficial da água, amenizando a perda de solo. “Essas soluções foram descobertas décadas atrás, mas hoje estão na marginalidade do sistema produtivo”, completa o pesquisador.
Os efeitos das fortes chuvas que atingiram o Estado em junho e julho também foram monitorados. A pesquisa registrou perdas elevadas de água, solo e nutrientes no período. “A pergunta que procuramos responder é se esse resultado gigantesco de perda notado nas bacias é reflexo do clima ou da ação de uso e ocupação do solo”, observa Minella.
Produtividade agrícola também é preocupação
Além de medir os impactos da ausência de conservação do solo ao meio ambiente, a pesquisa desenvolvida pela UFSM quer conscientizar o lavrador quanto aos danos causados à atividade agrícola. “O agricultor também é um produtor de água. Isso é tão importante para reduzir o passivo ambiental da agricultura quanto para aumentar a produtividade das lavouras. Estamos em um momento muito importante da ligação entre o que se faz nas plantações e os impactos nos recursos hídricos”, destaca Minella. Incentivos como o Programa Produtor de Água, da Agência Nacional das Águas, visam premiar, com remunerações, agricultores que adotam práticas para diminuir a erosão e o assoreamento de mananciais.
Segundo o pesquisador, a atividade vive atualmente no limiar entre maximizar a produtividade e minimizar os impactos ambientais, já que a perda de água e nutrientes, causadas pela má conservação do solo, gera um aumento no custo de produção. “Nós estamos certos de que não é possível ter uma agricultura forte e estável sem o cuidado com o solo e a água, que são os principais recursos produtivos, e isso depende do conhecimento do que leva à degradação ou à preservação desses recursos”, conclui.