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Bayer amplia a aposta em soja para crescer na América Latina

O movimento de aquisições no mercado de sementes de soja empreendido pela alemã Bayer CropScience nos últimos anos na América Latina deverá começar a render novos frutos a partir de 2016.

O intenso movimento de aquisições no mercado de sementes de soja empreendido pela alemã Bayer CropScience nos últimos quatro anos na América Latina deverá começar a render novos frutos a partir de 2016. É o ano previsto pela múlti para o lançamento no Brasil de sua primeira variedade do grão com o gene Liberty Link (LL), tecnologia já utilizada em sementes de milho e algodão e que torna a planta tolerante a herbicidas à base de glufosinato de amônio.

Desde 2010, disse ao Valor Marc Reichardt, líder global de operações comerciais da Bayer CropScience, a empresa concentrou esforços para identificar empresas que detinham bancos de germoplasmas robustos, capazes de cobrir todas as principais regiões produtoras do Brasil e também da Argentina. Ao longo desse processo, adquiriu as brasileiras CVR, SoyTech, Melhoramento Agropastoril e Wehrtec, e, mais recentemente, as argentinas FN Semillas e Biagro. “Agora, virá uma tarefa mais interessante, que será aproveitar todo esse material e começar a criar variedades novas, introduzindo diferentes genes”, afirmou o executivo.

No Brasil, sua principal fronteira na América Latina, as vendas da Bayer CropScience registraram alta de 41% em 2013, para R$ 4,4 bilhões. A expectativa da empresa é fechar 2014 com um avanço também de dois dígitos, já bem superior à média – o faturamento global da companhia foi de € 8,82 bilhões em 2013, 5,2% acima do ano anterior, e a meta é obter um crescimento anual de 6% até 2016.

Com a ampliação da aposta na soja, a expectativa é dar continuidade a essa acelerada expansão dos negócios no mercado brasileiro, que tende a ser fundamental também para a estratégia global da Bayer AG, que confirmou na quarta-feira que planeja separar sua unidade de polímeros, a Bayer MaterialScience (avaliada por analistas em US$ 10 bilhões), para se concentrar unicamente nas operações de ciências da vida – que inclui a divisão CropScience.

Atualmente, a Bayer comercializa sementes de soja que já existiam no portfólio das empresas recém-compradas, além de suas próprias cultivares, desenvolvidas por meio de melhoramento genético convencional. A nova soja transgênica deverá ser lançada no Brasil com a marca Credenz, presente nos Estados Unidos desde junho deste ano.

No Brasil, a ideia é que a soja Credenz ofereça inicialmente “traits” (“eventos” transgênicos) que confiram tolerância a herbicidas, caso do gene Liberty Link. Apesar de estar aprovado desde 2010 pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), esse gene ainda não foi introduzido em nenhuma variedade comercial da oleaginosa no Brasil. Um dos motivos é que a Bayer ainda aguarda a aprovação da tecnologia pela China, que lidera as importações mundiais de soja em grão.

Afora essa limitação, o herbicida Liberty, ao qual a semente transgênica LL resiste, aguarda liberação de registro no Brasil. A soja LL será uma alternativa à tecnologia Roundup Ready (RR), desenvolvida pela americana Monsanto. “As variedades que temos no Brasil são praticamente todas RR”, disse Reichardt. Além da tolerância a herbicida, a meta da Bayer é introduzir sementes de soja com genes Bt (vindos da bactéria Bacillus thuringiensis), que conferem resistência a insetos, e misturar as duas tecnologias.

No Brasil, a Bayer ainda detém “muito pouco” do mercado de sementes de soja, afirmou Reichardt, mas o objetivo é figurar até 2020 entre os líderes do segmento no país – que hoje tem à frente outras gigantes, como Monsanto e Syngenta. “Queremos ser ‘a’ empresa de soja no Brasil e na Argentina”. O executivo não descartou novas aquisições na América do Sul, mas adiantou que, se elas vierem, serão “pequenas”.

Por ora, a companhia toca o restante do projeto de expansão em soja, que envolve a construção de cinco unidades de pesquisa e desenvolvimento nos Estados de Mato Grosso, Tocantins, Goiás, Paraná e Rio Grande do Sul. O plano requer pequenas aquisições de terra para a montagem da infraestrutura de multiplicação e pesquisa de sementes – cujos valores investidos a empresa também não revela. “Estamos em plena consolidação de todas essas unidades e já temos algumas em fase de construção”, contou Reichardt.

Globalmente, a Bayer também tem ampliado os investimentos em pesquisa e desenvolvimento agrícola. A previsão da múlti é injetar anualmente € 1 bilhão nessa frente, que inclui a busca por sementes mais produtivas, além de novos defensivos químicos e biológicos.

“É uma cifra considerável”, avaliou o CEO Liam Condon durante conferência com jornalistas na terça-feira na cidade alemã de Monheim, onde fica a sede da companhia. A perspectiva da múlti é investir € 950 milhões em 2014 – 64% do total em agroquímicos, 33% em sementes e na criação de novos “traits” e os demais 3% em produtos da área de ciências ambientais. “Acreditamos que o mercado global de insumos agrícolas pode alcançar € 100 bilhões em 2020, o dobro dos € 50 bilhões de 2008”.

Segundo Condon, a forte demanda por agroquímicos terá uma contribuição importante no avanço da Bayer CropScience. A empresa calcula que somente as vendas de defensivos novos, lançados a partir de 2006, colaborarão com cerca de € 2,6 bilhões em 2016. Para este ano, a previsão é que esses produtos contribuam com € 1,8 bilhão – nos primeiros seis meses de 2014, foram € 1,2 bilhão. “Houve, por exemplo, um aumento considerável na demanda por inseticidas na América Latina, por conta da helicoverpa. A estimativa é que o ataque massivo da lagarta helicoverpa tenha levado a uma perda anual de cerca de US$ 5 bilhões”, disse ele.

Conforme Reichardt, a helicoverpa representa hoje um mercado quase tão grande quanto o da ferrugem da soja no Brasil, algo “impressionante”. E o maior desafio no segmento de defensivos agrícolas, acrescentou, é entender essa dinâmica de pragas do Hemisfério Sul. “Mas tenho certeza que o Brasil, pelo incremento de área que continuará a ter nos próximos anos, passará a ser o mercado principal para a Bayer, superando os EUA”, concluiu ele.