O Grupo Graal, criado pelos irmãos Bernardo e Miguel Gradin, está acelerando os projetos de expansão nas áreas de biotecnologia e de óleo e gás no Brasil. Ontem, a empresa de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES Par) anunciou a compra de uma fatia de 15% da companhia ainda pré-operacional de biotecnologia do grupo, a GraalBio, por R$ 600 milhões, conforme antecipou o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor. A divisão de O&G, que é 100% controlada pela família, vai anunciar nas próximas semanas aporte em ativos para dar início às operações nesse segmento com o foco em infraestrutura, bens e serviços. Os Gradin também possuem projetos em mineração, mas ainda estão em análise.
Criada em junho de 2011, a GraalBio surgiu como alternativa à produção de etanol no país, com tecnologia diferenciada. A proposta dos Gradin é produzir biocombustíveis e bioquímicos de segunda geração. Atualmente, há vários projetos anunciados no mundo, mas todos ainda em fase incipiente. No mercado, a empresa dos Gradin está avaliada em R$ 4 bilhões, considerando o aporte de R$ 600 bilhões do BNDESPar para a compra de 15% da companhia. “Entendemos que o projeto da GraalBio é considerado inovador, com a expectativa de tornar o país pioneiro em tecnologia da chamada ‘química verde’ e no desenvolvimento de biocombustíveis celulósico”, disse Júlio Ramundo, diretor do banco.
Para viabilizar o projeto, Bernardo Gradin, presidente do Grupo Graal, assinou acordo com a Beta Renewables, joint venture entre a Chemtex, braço da companhia química italiana Mossi & Ghisolfi (M&G) e o fundo TPG, para usar no Brasil a tecnologia Proesa, que produz esse tipo de etanol, e firmou contratos com outros grupos, como a Novozymes para o fornecimento de enzimas e DSM, que providenciará as leveduras geneticamente modificadas no processo de produção do álcool.
Até o início dos anos 2000, o Brasil era líder global na produção de etanol, mas foi ultrapassado pelos EUA. A perda da liderança colocou em xeque a retomada do setor sucroalcooleiro, que passou a fazer fortes investimentos em expansão a partir de 2003, com o início das vendas de carros flexfuel no país.
Até então, as apostas no mercado de etanol de segunda geração nunca foram levadas a sério pelo mercado. Mas ganharam força nos últimos anos, com investimentos de empresas americanas em projetos nesse sentido e a crise financeira das tradicionais produtoras de etanol no Brasil.
A GraalBio começa a operar no início de 2014 sua primeira fábrica de etanol de segunda geração. Essa unidade, instalada em Alagoas, terá capacidade para produzir 82 milhões de litros de etanol/ano.
Mas os planos dos Gradin são mais ambiciosos. Até 2020, a companhia pretende produzir por ano 1 bilhão de litros de etanol. Nos próximos sete anos, pretende erguer dez fábricas de biocombustíveis, duas unidades de bioquímicos (etanol voltado para indústrias químicas/farmacêuticas) e duas biorrefirnarias flexíveis (voltadas para biocombustível e bioquímicos). Esses investimentos serão de R$ 4 bilhões. Além dos R$ 600 milhões do BNDES, que serão desembolsados à medida que o projeto avança, o grupo pretende fazer captação no mercado, por meio de dívidas, e não descarta abrir o capital da companhia. “Estudamos esse mercado nos últimos meses e percebemos o potencial de expansão no mercado doméstico”, disse Bernardo Gradin.
Os Gradin também assinaram 20 memorandos de entendimento com usinas tradicionais da região Centro-Sul do país para fornecimento de matéria-prima, como palha e bagaço de cana, e podem firmar com algumas dessas usinas parcerias – em formato de Sociedade de Propósito Específico (SPE) – para produção de biocombustíveis. No EUA, a família avalia a compra de ativos, seja em tecnologia ou na área produtiva.
Ao Valor, Miguel Gradin, responsável pela área de óleo e gás, afirmou que as operações da empresa de óleo e gás do grupo deverão ter início ainda neste semestre.
Bernardo e Miguel Gradin construíram suas carreiras no grupo Odebrecht – a família atualmente está em litígio com o conglomerado baiano, do qual é acionista. Os Gradin disputam na Justiça uma fatia de 20,6% da Odebrecht Investimento (Odbinv).