A contribuição dos preços dos alimentos para o combate à inflação será “limitada” em 2013 e o IPCA anual do grupo alimentos e bebidas deve permanecer “no mesmo nível de 2012”, ao redor de 9% ou 10%, segundo conclusão do conselho de ministros reunido ontem para discutir a reestruturação da política federal de estoques públicos.
Refresco para os índices inflacionários “só em 2014”, informou uma fonte participante da reunião ao Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor. Nos últimos 12 meses encerrados em janeiro, o IPCA de alimentos e bebidas ficou em 11,07%, calcula o ValorData – o IPCA geral subiu 6,15%.
Os preços dos alimentos em algumas cadeias devem permanecer em alta, sobretudo soja e milho. No trigo, cuja produção terá uma quebra estimada em 25% neste ano, haverá um “pequeno estresse” porque não há estoques nem excedentes no mundo. Mas não deve haver problemas com abastecimento no país nem com a renda dos produtores. O cenário será “de médio para bom”, avaliaram os ministros a partir de um amplo estudo preparado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Os preços do feijão e do trigo “preocupam”, informou uma fonte do governo. E as cotações do milho, base para a alimentação dos rebanhos bovino, suíno e avícola, devem seguir em alta até o segundo semestre. O grão terá preço inferior ao registrado em 2012, mas ainda assim, será alto. As cotações do milho devem recuar “um pouco”, mas a soja “deve manter ou cair um pouquinho”, segundo a avaliação.
O conselho, composto ontem pelos ministros Mendes Ribeiro (Agricultura), Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Nelson Barbosa (interino da Fazenda) e Pepe Vargas (Desenvolvimento Agrário), volta a se reunir em 20 dias para tentar consolidar a “política integrada” de combate à inflação via gestão de estoques de alimentos. “Avançamos muito porque, a partir de agora, o que for decidido será uma posição de governo”, diz uma fonte oficial.
O grupo concluiu que “problemas localizados”, como nos casos de feijão e trigo, terão como solução estímulos à concessão de crédito e a revisão dos preços mínimos. Há, ainda, a necessidade de “relacionar” a gestão dos estoques com as medidas do Plano de Safra, a ser anunciado em maio.
O novo pacote ao setor deverá conter, por exemplo, a quantidade do produto a ser mantida nos armazéns oficiais, os preços de intervenção (espécie de “banda”), a garantia de uma margem de lucro ao produtor e a demanda de crédito para estimular a produção e sustentar a comercialização desses produtos.
No caso do milho, o governo avalia que o cenário de preços ao consumidor “não é tão ruim”. “Teremos até, em algum momento, que garantir o preço mínimo em algumas regiões”, revelou um participante do grupo. O preço ficará alto, mas abaixo do registrado em 2012. A ressalva é que as indústrias processadoras de carne já “absorveram” esses custos mais elevados da matéria-prima.
Além disso, o país deve exportar menos do que as 20 milhões de toneladas de 2012 e o estoque “será bom” em razão de sua recomposição promovida a partir de agora. As carnes também devem ficar mais baratas, mas a melhora para inflação virá “só em 2014”. Na avaliação do conselho de ministros, o cenário para o arroz indica que os preços estão “reduzindo, devolvendo ganhos” aos consumidores.
A tentativa do governo de controlar o aumento dos preços dos alimentos por meio de ajustes de estoques públicos torna-se ainda mais importante diante da constatação de que “os mercados internacionais estão muito aquecidos”, disse o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller.
“Nossa produção está evoluindo muito forte e, mesmo assim, estamos com estoques baixos”, afirmou. “Então, essa discussão é extremamente importante, até no sentido de incentivar um pouco mais algumas culturas, como feijão, arroz, trigo”.
Com a expansão do cultivo de soja, muitos alimentos básicos acabam perdendo espaço. Geller disse não serem necessários incentivos à produção de soja. “Muitas áreas estão migrando para a soja. O governo está atento para recompor os estoques e dar sustentação de preço para os produtores que necessitam, principalmente nas culturas que são necessárias para ir à mesa”.
A produção agrícola nacional cresce nos últimos anos, mas a “logística não consegue acompanhar”, segundo Geller. “É importante a equipe econômica, junto com o Ministério da Agricultura, estarem ligados para resolver essas questões de gargalos que afligem o setor”, disse. Ele lembrou ações do governo na tentativa de melhorar a infraestrutura para escoar a produção.
Geller também rebateu críticas à criação do Conselho. “O Ministério não vai abrir mão de conduzir a política agrícola. Sabemos que precisa ser um trabalho articulado”, disse.